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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Capítulo primeiro, página 11

todo o resto. Calou-se e pendeu a cabeça para baixo. Laasrael terminava seu trabalho, o garoto estava praticamente inteiro. O tempo passou pacientemente, o silêncio imperava e o audaz percebeu que permanecer ali não era devido. A noite caía rápido, convocou então seu protegido a saírem dali e retornarem a casa segura de Tobias. O homem se pôs imediatamente de pé, e se Tobias não estivesse sonolento desconheceria tal agilidade, em seguida ajudou o menino a se levantar, limpou-lhe as vestes, pegou a mochila do chão e ambos dirigiram-se para a saída. O ar refrescava-se com o cair da noite, primeiro passou Tobias pelas tábuas soltas do cercado, apoiando-o pelo braço, vinha ele logo atrás, antes porém de cruzar a passagem, olhou de relance para o outro garoto estirado ao solo a roupa empapada de suor e sangue. Vivo ele estava, mas em seu auxílio este não foi, desconsiderou seus votos, dando ouvidos somente ao seu rancor, Laasrael negou seu trabalho, sua obrigação como ser celestial, mesmo ciente disso abnegou-se, virou-se com passiva expressão e partiu. E pela primeira vez o anjo, o audaz, falhou em seus deveres... e infelizmente para ele e para os seus, esta não foi a única vez...

O mato alto sob a luz fraca do anoitecer ficou para trás. Os gestos de menosprezo tratados ali não foram desconsiderados e estes não passaram desapercebidos pelo lugar, já bastante carregado de más intenções, as forças que lá foram plantadas em pequenas sementes de ódio banquetearam-se do amargo rancor angelical, fortaleceram-se. Seu agricultor viria colhê-las dentro em breve e fazer destas o seu belo jardim. Aguardava este, a melhor das horas e esta chegava com a luz que ia-se embora.

Homem e menino caminhavam juntos pelo pequeno trecho que faltava até sua porta. Frente a esta, por fim, pararam. O mais velho sentou-se no grande degrau da porta, já era noite e a luz fraca que iluminava a cena era a de um último poste a uns dez metros dali que acabara de acender-se. Dali era possível ver as luzes da sala acesas que transpunham-se pela janela lateral e pela soleira da porta e suas frestas. Laasrael postou Tobias ao seu lado, este meio adormecido, custava parar em pé. Escorou-o na porta e transferiu-se para sua frente, agachado diante de seus pés. Segurou a cabeça de Tobias entre as mãos e começou a orar em silêncio, franzia a testa em seus pedidos e sua fé, se conhecida por outros, seria incontestável e admiravelmente exorbitante. Tobias tinha a expressão serena, relaxada e sonolenta, seus olhos estavam fechados e sua respiração branda. Em sua mente entorpecida o garoto podia ouvir a voz do outro como em um transe, o homem lhe dizia – respire

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Carta...

Há tempos venho planejando e cobiçando trocar impressões, relatos, pensamentos e demais idéias com alguns de meus amigos, aqueles que partilham de algumas perspectivas correlacionadas à minha busca. Seria algo espontâneo, de boa vontade, uma forma de dialogar a longas distâncias e manter aqueles excelentes papos agradáveis, que parecem nunca terminar... o fato é que esses e outros, e por que não dizer até eu, sempre desanimam, ou não dão continuidade neste plano seja lá por qual motivo. Triste? Nem tanto, mas que poderíamos tirar boas conversas, e até quem sabe boas teses disso, poderíamos.

Navegar em assuntos infindáveis é uma das coisas que mais me agradam e despertam-me interesse. Saber que estou começando algo que nunca vai acabar é algo fantástico (este já seria um bom assunto para iniciar uma conversa por carta). Talvez eu esteja preso a um monte de bloqueios acerca da morte, ou talvez seja apenas gosto pela coisa. Não me agradam as coisas simples e nem as fáceis, não me interesso por nada que não envolva um grande desafio. Não que eu vença todos eles, pelo contrário, na maioria das vezes acabo por me desanimar. Mas por que gostar de algo tão contraditório? O que me leva a escolher estes caminhos tortuosos e cheios de obstáculos? Resposta: não faço a menor idéia. Tenho algumas hipóteses; pode ser que eu aja instintivamente, sendo levado pelo caminho mais comprido, por forças que desejam o meu fracasso diante das adversidades do universo; talvez eu ame a complexidade das coisas a tal ponto que o mais importante pra mim seja a dificuldade e não o assunto em si; tenho tanto apego às pequenas coisas o que dirá então das grandes coisas, ponho-me a pensar na volatibilidade destas e mesmo que saiba o que estou fazendo não consigo deixar de me sentir preso aquilo; bati com a cabeça quando criança e perdi a razão.

Independendo disto, não vejo o por quê esperar vossas senhorias (entenda-se: Marcus, Raphael, Rafael e outros), darei então continuidade aos projetos filosóficos, literais e de labuta sozinho. Vamos acompanhar os passos de um solitário homem em busca e transmissão do conhecimento, descobriremos até onde um desgarrado pode chegar com seus próprios passos. Alguns apostam em sua derrota instantânea, outros esperam por seu sofrimento e decadência, alguns prometem até que irão ajudá-lo, mas por forças ocultas somem de suas vistas, outros não esperam nada, pois nada têm a ver com isso. Mesmo cansado de tanta demagogia prosseguirá o homem em seus passos tortuosos e descontínuos até o topo de seu cume. Avistará lá de cima todo o suado e sacrificoso trajeto percorrido. A plenos pulmões gritará, para que mortais e imortais possam ouvir toda a história de uma vida, galgada a passos incertos que trilharam e conquistaram o seu ápice mediante todo o esforço de ter permanecido inabalável à solidão e sumamente motivado por si mesmo. Mostrará em sua humildade de buscador o mais importante: provar a si mesmo o autodomínio e a vitória sobre o seu eu.

P.S. É um saco fazer tudo sozinho, mas se é o jeito...

Necessidade e Decepção

Quando é que foi promulgada a lei que diz que um ser humano necessita de outro? Pois é justamente disso que eu quero tratar, afinal se não existe uma lei que nos obrigue a tal, porque é que ainda por cima somos obrigados a precisar de alguém, até mesmo aqueles que não o querem são obrigados. Há os que dizem que são independentes e aqueles que se dizem eremitas, mas onde é que você está só e independente de algo? Se não é um homem que o ajuda, é a natureza por este moldada que o faz. Onde está minha liberdade? Não que eu a queira, mas não existe uma regra simples e fácil que o faça ser dependente de alguém, é mais complexo que isso. Além da ordinária necessidade do outro ainda ganhamos de brinde, incluso no pacote, o direito de sermos decepcionados constantemente pelo outro. Não que eu não seja também este outro, estamos todos subjugados a este triste “karma”, é fatídico, uma lei. Ta’í! Que grande obra nos deu o universo: a necessidade e a decepção.

Choramingo meu desconforto, por ser demasiadamente bombardeado por excessos de necessidades e decepções diariamente. No trabalho (haja Cristo pra agüentar os desânimos e desvontades de meus alunos), na família (embora não sejam meu atual desconforto, já me brindaram bastante com amarguras), nos estudos (combine algo com alguém daquela faculdade e terá tatuado em suas testas: “ããããã .....NÃO!”), na música (monte uma banda com alguém e além de cada um não fazer sua própria parte, ainda têm o disparate de reclamar de seus serviços arduamente prestados) na vida amorosa (relacione-se com alguém por cinco anos e espere a solidão) entre tantos outros infortúnios. Não me excluo desta responsabilidade, também sou um tratante. Pensei numa solução um tanto quanto idiota, mas de incrível utilidade, divulgada pelo meu sábio amigo de longa data Guilherme D'Avila Dias de Mello: “o segredo da felicidade é manter a expectativa baixa”. Ponderando sobre o assunto, devo concordar indubitavelmente.

Perdoem-me os mais delicados, minha intenção não foi magoá-los, contrária até, é um desabafo, pois me submeto a constantes frustrações por ver dia a dia meus planos irem por água abaixo. Não é uma questão de culpa, o problema está em mim, pois se soubesse ser obstinado e irredutível em minha jornada, não seria derrotado por meu desânimo nem por minhas desilusões. Resta-me apenas doutrinar-me aos segredos deixados pelos nossos antepassados: “Quer bem feito, faça você mesmo” e “Não espere dos outros o que você mesmo pode fazer”. Agora é pegar no batente e escolher os caminhos mais fáceis de se trilhar a sós.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Capítulo primeiro, página 10

enfrentaste tu sozinho o perigo de cinco com muita coragem e saíste muito bem. Sei por certo que nem ao menos temestes por tua vida. Orgulho-me de ti, grunhe a dor, mas nem se quer a reclama. Tu não lamentas nem choramingas, congratulo-te .

Tobias nem sequer percebeu o que ali se passou, as idéias iam e vinham desmesuradas e assim disse sem ter tempo para tal:

- Obrigado. Mas não sei ao certo se devo ser parabenizado por algo assim e... ei, espera aí! – a mente despertou-se da confusão momentaneamente para algo que chamou-lhe a atenção nas palavras ouvidas a pouco – você... que dizer, o senhor viu tudo?

- Sim, meu caro, por isso vim em teu auxílio. Não pude participar em teu favor na batalha, mas aqui estou para beneficiar-te em saúde – disse o homem e um primeiro sorriso lhe brotou na face. Cordialmente Tobias retribui-lhe o sorriso e bocejou em seguida.

O processo melhorava-lhe os ferimentos e ao mesmo tempo sugava-lhe a lucidez. Fazia gestos estabanados, como se estivesse sob efeito de algum alucinógeno. Distraiu-se com o braço direito quando notou que este não mais doía-lhe. Rodou o braço pelo ombro vagarosamente uma, duas, três vezes para frente e depois a mesma quantidade para trás. Sorriu bobamente e tornou a dizer:

- Obrigado, muito obrigado mesmo, amigo! – sorriu mais um pouco – Desculpe não ter perguntado anteriormente, mas qual é o seu nome? – abriu um largo sorriso.

O homem continuou concentrado em sua tarefa que demandava-lhe muita energia e distraído disse:

- Chamam-me Laasrael, ao teu dispor – olhou-o nos olhos e fez um leve aceno com a cabeça, depois voltou-se para o braço que parecia quase inteiro.

- Muito prazer e... obrigado mais uma vez, Laasrael – emendou o menino que não mais timidez possuía. E acrescentou – de onde você veio?

- Venho de muito, muito longe – disse sem acrescentar a verdadeira origem, pois deixar de dizer era-lhe possível, mentir não. Media então sempre suas palavras, nunca em sua existência havia mentido, fazia parte de seus votos e poderia botar tudo a perder e sofreria as duras penalidades se o fizesse. Estava misticamente vetado de mentir, não de omitir e sabia bem trabalhar com este fato.

Conforme se propagava, o calor extinguia-lhe a dor e relaxava-o cada vez mais. O silêncio se fez e prolongou-se. Tobias estava entorpecido, pesava-lhe pois as pálpebras e

domingo, 6 de dezembro de 2009

Capítulo primeiro, página 9

- É costume de onde venho amigo. Mas não importas tu com isto, o importante agora é curar-te. Relaxes teus pensamentos e concentra-te em melhorares.

Sem dar importância ao que dizia o homem, meio trôpego e embriagado pela sonolência, Tobias apercebe-se de que a dor de um de seus braços não mais ali estava, confuso e adormecido perguntou:

- Como você fez isso? Digo, como é que você consegue... ããã, me fazer melhorar...?

- Curar-te? És um ser perfeito meu caro amigo. Podes tu mesmo fazerdes isso. Teu corpo, assim como o dos demais de tua espécie foi moldado a ser o mais perfeito e completo por si só. Podem vós mesmos curardes sozinhos, mais precisamente digo que nem mesmo se adoecem. Se o fazem é por desconhecerem os princípios de teus próprios corpos - assim disse o audaz, certo do que já sabia e convincente em palavras - o que faço em ti é acionar teu próprio processo, fazendo com que teu corpo foque na região afetada e acelera em ti a cura.

O menino escutou e verdade sentiu naquela voz. Ouvira estas palavras de maneira semelhante de um outrem. O avô de Tobias, com quem este vivia, pronunciava em outras palavras o mesmo discurso, sempre importando-se em transmitir saberes que, ao que lhe parecia, desconhecido de outros. Entedia então o garoto o que o homem dizia.

- Sabe, meu avô diz a mesma coisa. E reparando nele notei que mesmo velho nunca o vi doente – disse o menino refletindo enquanto observava a cena fazendo caretas pela dor do outro braço.

Sem responder-lhe sobre o mesmo assunto o maior disse:

- Já tratarei-te um braço, meu rapaz. Logo ficaras bom – disse atencioso e condoído pelo seu, notava-lhe a dor e tudo fazia para que esta cessasse de imediato – Senta-te para que possa eu assistir-te de melhor ângulo.

Apoiou-o pela nuca e levantou-o lentamente, o cuidado de um noviço pai que toma no colo, pela primeira vez, seu recém nascido primogênito. Posicionou-o delicadamente sentado, a mão agora a apoiar-lhe as costas. Gemeu Tobias agora, pelo desconforto causado pela movimentação de seu braço esquerdo, que o homem tomou entre ambas as mãos e pressionou firme; mas não reclamou em hipótese alguma.

- Sei que estás a doer-te o braço partido, mas resiste e suporta tu a mais esta provação pois logo não mais haverá sofrimento. És um bravo meu pequeno amigo,

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Capítulo primeiro, página 8

não eram nem curtos e nem muito longos. Trazia pendurado por um cordão negro, em torno de seu pescoço, um pingente prateado, uma jóia que Tobias não conseguiu identificar exatamente o que era pois crepuscular já se encontrava a luz do fim daquela tarde. O homem se deteve por um instante e caminhou em sua direção. Sorriu para o menino e este pode ver quão branco e alinhados eram seus dentes. O rosto do homem era de um liso só e nenhum fio de barba ali se apresentava. Ajoelhou-se o homem ao lado de Tobias e junto a ele se pôs, perto suficiente pata alcançar-lhe primeiro o braço direito torcido, falou-lhe pedindo para que fosse ouvido em atenção:

- Escutai, meu jovem. Não aflijas, permita-me aliviar tua dor com um simples movimento meu – disse o homem pegando o braço torcido entre suas mãos.

Tobias não entendeu nada e nenhum esforço fez para que o pudesse. Pensava este que aquele era apenas um comum homem que socorria-lhe, embora mesmo assim, não pudesse afastar a idéia de que algo oculto havia naquele ser. As mãos estavam quentes como fogo e sua pele reagiu incomodada, mas logo que o calor percorreu-lhe o corpo por inteiro, provou de grande alívio. Hesitou dizer algo por tímido que era e por entorpecido que estava, mas despendeu de grade força de vontade e pode por fim dizer:

- Obrigado por me ajudar... mas é que... eu nem conheço você e... me viu brigando? Eu juro que não foi minha culpa, é que... – se embaralhou o jovem com suas vergonhosas palavras. Achava possuir alguma culpa, não discernia os fatos. Encabulou-se por não conseguir expressar-se.

- Acalma-te, jovem. Conheço-te e ajudá-lo hei com teus problemas. Sei também de tua inocência. Não aflijas – formalizou a conversa.

- Como me conhece... digo, como é que sabe o meu nome? – Lembrou-se Tobias de ter sido chamado pelo nome. A mente enganava-lhe.

Muito sei, jovem amigo e muito agora por ti farei – e dizendo fez com que suas mãos apertassem-lhe mais o braço que ficou mais quente e contrário a tudo que se esperava, o braço melhorou gradualmente.

- Obrigado mais uma vez, senhor – falou bocejando, o alívio misterioso proporcionava-lhe paz e dormência – Desculpe perguntar, mas porque você fala assim... sabe... tão formalmente? – custava-lhe falar. Já era-lhe incomum que conversasse com um estranho e a sonolência impedia-lhe as funções motoras e o raciocínio.

Capítulo primeiro, página 7

O audaz percebeu então toda a dor que passava o irmão e por ele lamentou. Suspirou fundo com seus pulmões nunca utilizados e em direção a este foi, deu-lhe um forte abraço fraterno de longa duração. Findou sua despedida e foi-se em bater veloz de asas, desceu em queda livre em movimento espiralado. O outro em olhar triste ali ficou e como em um ato humano estendeu a destra como a chamar o amigo e irmão de volta. Sem se aperceber de movimentos, recebeu o que ficou, inesperada visita.

- Não preocupas-te meu caro – disse-lhe uma voz de magnífico timbre ao qual somente este podia ouvir, pois mais divina do que todos os anjos a cantar, esta soava. De longínquas moradas esta vinha e de tamanha honra era ouvi-la – o anjo está certo. Ajudar o pobre mortal, enquanto este precisar, ele deve. Louvemos graça e sucesso a Laasrael, o audaz. Sua escolha e seu sacrifício arrastaram as pesadas engrenagens que movem o destino do universo de volta ao eixo. Contenta-te!

E assim o sábio o fez, enaltecido foi por inigualável regozijo, e toda angustia que outrora lhe atormentava, dilacerada foi por insuperável voz. Pacífico ficou seu coração.

“Tinha de sair dali”, pensava Tobias sobre sua desagradável e desesperadora situação. Estava ele preocupado, além de dolorosamente machucado, temeroso por Lucas levantar-se dali e buscar novo confronto, sua vingança. Não conseguia juntar forças para levantar-se e partir. Não era possível nada pensar com todo aquele incômodo. Ao menos o grandalhão estava imóvel, mas por quanto tempo? Não precisou por demasia se preocupar, pois antes que o pudesse, ouviu bela voz chamar-lhe.

- Tobias? Despreocupa-te. Vim para ajudá-lo. Estás agora, seguro – disse-lhe a voz.

Mesmo dolorido, conseguiu virar-se em direção ao falante e pode perceber que ali, parado de pé, junto às frouxas tábuas da cerca, estava grande homem. Alto ele era, forte eram seus músculos que avolumavam seus trajes. Suas medidas eram extremamente proporcionais, muito simétricas. Destacava-lhe os lisos e muito negros cabelos que contrastavam à sua pele branca como gelo polar. Seus olhos não estavam visíveis pois estes estavam cobertos por escuras lentes em seus suportes metálicos. Trajava este, roupas de tamanho certo, nem apertadas e nem relaxadas, caiam-lhe justamente bem. Usava jeans e camisa, as calças da cor de seus cabelos e a camisa branca como sua pele. Se visto ao longe, provavelmente veriam-no sem sua veste superior, por este ser tão claro. Os pés, estes calçados com grossas botas escuras que combinavam com suas calças e cabelo, este último

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Capítulo primeiro, página 6

O audaz, bateu-lhe à mão que o segurava no ombro e pronunciou em fervorosas palavras vindas com ardor do coração:

Primas tu pela não interferência de nossa espécie para com os nossos protegidos, exceto por meio de ordens superiores. Cegado estás, pois então para com nossa real missão, não candidatei-me em vão, não sou nem serei um inútil observador. Creio nos desígnios de cada ser, mesmo na mais ínfima das esferas. Aquele a quem vigio e protejo é de minha inteira responsabilidade e sabes tu, o quão valorosa é esta alma e o quanto puder por este fazer, hei de fazê-lo. Não há duvidas que até mesmo neste nosso plano somos passivos de erros, estão os de nossa gente, com absoluta certeza, equivocados. Não ficarei aqui como mula empacada a esperar que o mal domine a mais uma de nossas sementes – fez uma pausa, observou o outro, centelhas crispavam-lhe da visão aguçada, pois acreditava em abundância em suas próprias palavras. Sem mais se deter, concluiu em sua voz timbrada ardorosamente – Se por meu ato for condenado a vagar à eternidade nos lagos de lava das profundezas das trevas, mesmo assim o farei. Descerei sem mais demora para junto de meu amado protegido e em tudo o que puder ajudá-lo sacrificarei-me com prazer. Estarei ao seu lado até que este torne-se o quanto antes o predestinado líder que há de ser, dedicarei-lhe até minha última centelha de vida.

E assim terminado seu discurso, ficou ali pairando no ar esperando acalmar-se para que pudesse despedir finalmente de seu companheiro e desta forma, dirigir-se ao tempo real dos mortais socorrer o seu. Ficaram ali se olhando, visíveis somente um para o outro em suas magistrais e encantadoras formas. Por fim, o mais sábio inclinou a cabeça para baixo e com lamentar pronunciou:

- Vejo agora que estais convicto e irredutível de teus passos, nada mais direi-te para dissuadir-te de tuas vontades. Vai-te em paz e sirva com bravura e coragem os desígnios do Homem. Devo-te apenas advertir-te de que neste plano que pretendes adentrar, estarás por tua própria conta e que depois de tempos junto destes, os humanos, perderás de vez tuas características divinas e tua chama apagar-se-á. Ficarás desprovido de teus poderes e não mais nos ouvirá. Sendo assim, não mais retornarás à vossa casa, perderás teu único lar. Lamento irmão, esta é tua escolha e assim sempre houve de ser – calou-se então o mais sábio, a cabeça ainda inclinada, guardando para si, em seu mais profundo interior, toda a tristeza que sentia de perder o irmão e amigo que tanto amava.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Capítulo primeiro, página 5

punho direito e afastou um pouco o braço para trás do seu corpo, procurando um impulso. Sua visão clareou em um instante e pode ver nitidamente o punho de seu, agora inimigo, que se aproximou do flanco esquerdo. Sem pensar em qualquer coisa agiu num puro reflexo que disparou seu punho frontalmente em direção ao meio dos olhos do outro. O golpe acertou Lucas, antes mesmo que este pudesse atingir Tobias certeiramente, que recebeu apenas um meio golpe no ouvido esquerdo. Lucas travou sua cara na mão do garoto. O estalo surdo do nariz do mais velho foi audível e bastante forte e, ao mesmo tempo que desmoronou no chão caindo para trás, Tobias torceu o punho tamanha a força do impacto.

Ajoelhou-se aos pés do inimigo abatido, estatelado no chão, o nariz em bicas de sangue, desacordado. Ali permaneceu um minuto inteiro até que a dor trouxe-lhe de volta ao instante presente. Gritou de dor pois sofria muito de um braço quebrado e o outro torcido. Encolheu-se no chão retorcendo-se na terra. Ficou ali sofrendo, remoendo-se em cólicas desproporcionadas. Por quase dez de nossos minutos mortais ele agonizou.

Não suportando mais ver tamanho pesar, seu protetor, que lá do alto a tudo acompanhava, pois aí estava o seu trabalho, tirou forças do fundo de seu âmago e rebelou-se.

- Basta! – gritou ele – amo-o por muito e desamparado não o deixarei. Para que sirvo se ao lado de tão tenra criança não posso estar? Por mais que me seja proibido, abdico de meu caminho e de encontro ao meu suplicante irei – e assim falando, luz deixou de ser e forma esplêndida e linda tomou, como um dos mais belos entre os da espécie humana. Forte, exuberante e acrescido de perfeitas feições angelicais. E antes que pudesse descer e suas alvas e enormes assas guardar, uma mão grossa segurou-o pelo ombro direito.

- Acalma-te, irmão! Imediatamente, ordeno-lhe. Ouça-me com atenção antes que a tudo renegues – disse o outro que forma humana também havia tomado, pairava este, mais esplendido ainda que o primeiro, ao ar em lindas assas brancas de enorme envergadura – Ages como um noviço, um inconseqüente, um incauto. Necessitas mesmo de tamanho alarde? – e usando a mão que o segurava, voltou-o para si dizendo – Olhai em meus olhos e dizei; vês real motivo para que caias, somente pelo teu que sofre a dor dos mortais? Não vês que o pior está por encerrado? Não corre mais perigos o jovem valente. Por si só, deste ele conta do problema. Logo irá levantar-se e de volta ao lar dirigir-se-á. Não desesperes tu, rogo-te.

Capítulo primeiro, página 4

combatentes não passou de um brilho de sol, eles debateram entre si em suas realidades atemporais.

O mais sábio impunha-se dizendo que nada havia de ser feito e que dali de cima onde estavam, haveriam de permanecer . O outro, o mais audaz, compadecia de amores por seu protegido e intervir por este queria.

- Sabes, oh irmão, que nada devemos fazer, assim há de ser – disse o sábio e calou-se.

O outro refletiu por instantes, que poderiam ser minutos, se naquele plano mortal estivessem. Por fim falou:

- Sabemos que existem outros por trás de tão maléficos gestos... tomar as rédeas devemos para acalentar o sofrimento de tão surpreendente alma – e assim dizendo ouviu a resposta em silêncio.

- Tu mesmo disseste irmão, esta alma está fadada a ser e a ela nada devemos fazer – sorriu cordialmente o sábio e completou – além do que não possuímos certezas acerca de mãos maléficas.

- Como não, irmão? – replicou rapidamente o audaz – está claro que o outro, por pior que seja, sofre de aguçada cólera. Arriscar uma alma por hesitação não é correto.

- Correto não é, impedirmos uma peleja humana sem prévias autorizações. É certo que o menor será um bravo, está em seu nome, acalma-te e observa – aconselhou o mais vivido.

Um longo silêncio se fez e por fim o mais incomodado falou:

- Estas coberto de razão, irmão. Fui tomado de cuidados pelo meu protegido e fraquejei. Devo acalmar-me e confiar em tal destino, nos desígnios de Deus – e assim dizendo, voltou sua atenção para a cena que tanto lhe preocupava.

E por mais que quisesse estar ali pelo seu, se conteve e calou seu cuidado e principalmente sua fúria. Desejava secretamente retalhar o outro com suas próprias mãos e sabia que tais pensamentos conflitavam com seus passos. Calou seu coração e limpou sua mente, pois não mais deveria almejar tão desproporcionada atitude.

Pudessem ver mortais e imortais o que ali se passou. De uma segurança inata e um desejo libertador, surgiu em Tobias uma força enorme que o fez petrificar-se, enraizado por seus pés no chão. Ali ele ficou, em um só fôlego, esperando o momento certo. Enrijeceu o

sábado, 28 de novembro de 2009

Capítulo primeiro, página 3

O garoto se virou a tempo de ver o galho descendo em velocidade para seu crânio e num último reflexo elevou seu antebraço esquerdo acima da cabeça interceptando o golpe. O choque conclui-se em um grande estalo e galho e braço partiram-se.

Um segundo, dois, mais exatamente três segundos seguidos de puro silêncio e o garoto irrompeu em um urro ensurdecedor que se propagou em todo o quarteirão. Os olhos viram e estes fugiram, puxando de volta à realidade o causador de tanto sofrimento. Os valentões puseram-se a correr desesperadoramente, fugindo dali. O agressor mor ainda se deteve um instante olhando sua obra, um sorriso se fez num canto da boca. Estava satisfeito. Virou-se e saiu pelo meio das tábuas. Antes porem que pudesse afastar seus ouvidos dali, Lucas, o encolerizado, escutou a voz lamuriosa que berrou de dentro do lote:

- Covarde! – gritou Tobias quase que aos prantos – Seu covarde... covarde desgraçado – Sua voz de lamento misturava-se a uma força estranha, um ímpeto de vingança surgia em seu eu. Custosamente o garoto se ergueu apoiando-se nos joelhos e em sua mão boa. O braço quebrado junto ao abdômen latejando impiedosamente.

Lucas se deteve a poucos passos do cercado, estagnou-se. Ouvira claramente as palavras. E estas o machucaram. Ele não era um covarde, ele sabia disso, ao menos era o que achava de si mesmo. Um segundo de hesitação. Estava só... que mal haveria? A vítima estava em frangalhos, não poderia com ele nem se estivesse saudável. A cólera voltava em jorros de adrenalina. Sentiu um desespero de por fim naquilo, queria aniquilar seu inimigo, queria matá-lo, realmente matá-lo. Espremeu os punhos acentuando os nós dos dedos. Alongou o pescoço pendendo a cabeça para um lado e para o outro. Voltou-se para a entrada da cerca e antes de caminhar até lá observou à sua volta; nada além de seus amigos correndo rua abaixo em direção a escola. Não estava preocupado, premeditou cada golpe, muitos deles. Lembrou de sua idade, apenas treze anos, três a mais que Tobias, não poderiam prendê-lo por isso, sequer descobririam. Estava decidido; seria assim. Não ia mais voltar atrás. Caminhou e passou pelas tábuas soltas, viu o “pirralho” – como pensava ele – de pé, segurando o braço torcido com a outra mão. Surgiu-lhe o ódio, o garoto o encarava com fúria. Gritou em uma explosão, armou um golpe com seu punho e correu em direção ao outro para percorrer a distancia que os separava o mais rápido possível.

Só, o mais novo deles não estava, não em presença física, este porem, estava assistido por outros, outros que o queriam bem e estimavam por sua saúde. Ao que, para os

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Capítulo primeiro, página 2

clamariam por suas almas em largos choramingos, como os recém nascidos.

Tobias não se orientou nem se deu conta da peleja que seguiria daquele instante em diante. Jogado foi contra as tábuas do lote vago ao seu flanco esquerdo. Doeu-lhe o mesmo ombro em latente compasso. Balbuciou um gemido e logo foi interrompido por uma dor mais forte que tomou-lhe todo o ar respirado. Uma pesada em seu estômago, mais certeiramente em sua parte mais alta, o fez tombar esfolando-se entre tábuas soltas. Rolou no mato alto que o pinicava sem perdão. Não houve tempo para rogar nada a ninguém. Nem mesmo sua adrenalina chegou a circular dando-lhe alguma experimentação sensorial. Seu cérebro só decodificara uma informação: dor.

Os atacantes abriram espaço entre tábuas e pregos, se aglomerando para infiltrar no ermo lote. Olhos ferozes e dentes trincados prontos para impor mais sofrimento ao indefeso e descuidado rapaz. Dois dos cinco levantaram-no, cada qual de um lado, num abrupto solavanco. O garoto mal se firmando em suas próprias pernas, o ar lhe faltando, ouviu pela primeira vez verbetes hostis.

- Ainda não acabei com você, seu merdinha - vociferou o maior deles, que de frente ao garoto que era dois terços do seu tamanho, mirava-lhe um golpe, que, ao ser disparado, bambeou-lhe os dentes e sangrou-lhe a gengiva.

Desfaleceu-se o menor com sangue brotando-lhe dos lábios. Seu peso levou-o de volta ao chão, de bruços com a fuça enfiada na terra pisada e úmida.

Um, dois, três, ao menos uma dúzia de chutes o acertaram no abdômen, costelas, coxas e tudo mais que era carne. A vista lhe embaçava com as lágrimas e tudo girava. Os ouvidos em um constante zum, não lhe deixavam ouvir mais nada. O gosto enferrujado de seu sangue escorria-lhe pelos lábios.

Os golpes por fim cessaram e contorcendo-se no chão ele ficou ao que parecia uma eternidade. Seus órgãos gritavam, sua carne ardia, seus músculos inchavam. Seus agressores afastaram-se, uns até preocupados, os outros nem tanto e o pior deles abaixou-se para pegar um grosso galho no chão. Este não estava mais em suas próprias razões, estava ele encolerizado, desmedido de seus atos. Seus companheiros tentavam desestimulá-lo, este respondia com empurrões. Uma desgraça iria acontecer.

- Levanta seu bosta, você vai sentir o que é bom – disse rosnando e elevando a arma por sobre a cabeça pegando impulso para o seu fatal golpe.

Capítulo primeiro, página 1

Dias poucos posteriores ao seu décimo aniversário, o garoto que seria homem, caminhava em seus silenciosos passos pelas tão pacatas ruas que o levariam de volta ao lar. Passos desconsertados em seus calçados modernos, maiores por pouco que seus pés, caminhava ele sem culpas, sem preocupações, a cabeça leve em seus pensamentos juvenis. Vestimentas já bem usadas, cores desbotadas, calças de homem de tecido jeans com as barras mal feitas arrastando no chão. Camiseta de algodão da cor marrom suave e de peso leve, comparada a enorme mochila abarrotada de livros e cadernos. A pele alva contrastava aos cabelos pretos noturnos, lisos mas desarrumados, caindo-lhe aos olhos por falta de aparo. Olhos medianos, castanho nozes, claros, brilhantes e atentos... não tão prontificados porém para perceber a turba que pela retaguarda chegava. Cinco era seu número e por mais alarde que estivessem fazendo, o mais jovem não os percebia. Cabisbaixo, meio trôpego, ele ia em calma serena para casa, afinal não havia por que se preocupar. Cidades eram assim: sossegadas. A rota costumeira após o horário escolar era sempre desta maneira. Fora assim nos anos anteriores e não haviam razões para o ser neste ano. O jovem, cujo nome era Tobias, além do mais, não possuía inimigos... não até aquele instante.

Cinco, seis? Sete eram os quarteirões que percorria todos os dias de sua casa para a escola e da mesma de volta para o lar. Este bairro além de ser de uma cidadezinha do interior, era também muito afastado do centro, da pouca agitação que lá havia. Casinhas quase que gêmeas ladeavam estas ruas, sem muros com pequenos jardins em seus frontes, cores gastas pelo tempo e nada de carros em suas garagens, um ou outro quando muito. Alguns lotes, ainda vazios, eram comumente cercados por grossas tábuas colocadas de pé, que tinham por única função, ao menos o que parecia, manter o espesso e comprido mato para o lado de dentro de seus limites.

A turma veio se aproximando, agitada, nada discreta. O intuito era claro, pegar, bater, machucar, provocar intencionalmente o mal. Poucas eram as chances de fato similar acontecer. Dia e hora errados? Como saber? Tobias não notou ao certo, não haveria de tê-lo notado. Linhas traçadas, por mais sinuosas que sejam, sempre tem um propósito e se algo estava acontecendo, era porque tinha de ser de tal modo. Poderia ele até mudar a forma, a circunstância, mas não lhe era possível alterar o fato. Estavam agora a poucos passos de suas sandices e estes vinham em número de cinco e como se não bastasse, maiores, mais fortes, mais tolos. Saberiam eles seus destinos? É claro que desconheciam, se o soubessem,

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Livro: Introdução

Prólogo:

Infindáveis são os caminhos, infinitos eles são. Escolhas levam-nos do ermo ao divino. Vidas não são mais que isso: seus feitos é que falam por si. Cada ponto luminoso de uma alma vagante é apenas o "um" de um grande todo. O ser fracionário nada mais é do que parte de um imenso e infindável (incomensurável) todo. Ser maior do que se é não é tarefa dos incautos, nem dos benevolentes que crêem em si mesmos. Apenas querer não é o bastante. Precisa-se crer – mais do que imaginamos ser necessário.  Quantos foram aqueles que acreditaram? Quantos eles são? Inumeráveis tentaram ser mais do si próprios e, sem êxito, partiram em chamas apagadas. Seus sopros não moveram as engrenagens do mundo. Não mais do que suas próprias. Mas estes – por certo – devem ser por alguns lembrados. Credes no espírito de bons homens? De melhores chamas – daquelas que surgem quase que apagadas – vemos brilhar em ardor a força inata de uns poucos – que ao mundo vêem – entre tantos que seria impossível notá-los. Destas poucas almas que do nada ardem como piras, menos ainda são as melhores... Destas melhores almas temos as improváveis... E destas temos as únicas...

Esta é a história de seres únicos, da ascendência do nada ao todo. Da elevação do zero ao topo da magnitude da existência.  Esta é a prova – o testemunho – da superação do crer. Maior do que a própria fé do universo. O entendimento e compreensão da vida, a racionalização da razão. O abrir de todas as portas. O esclarecer de todas as indagações. O fim de todo começo...

Essa é a história de um homem... de um homem apenas, não. Essa é a história de homens. De homens comuns e também de seres únicos. É a história de um mestre e seu discípulo. Da vida de um mestre que foi um dia discípulo e de um discípulo que um dia se tornou mestre. Essa é a história de mestre e discípulo e de como o universo se transformou quando se encontraram – se completaram. Quando mestre e discípulo se tornaram um, a chave da vida libertou a supremacia existente em cada ser. Esta é a história de um mestre e de seu discípulo, e por que não dizer; de um mestre e seu mestre. Esta é a reinvenção do herói, a tradução de seu novo significado. Quando o comum supera sua própria existência e passa a ser, não uma parte do todo, mas o todo inteiro.

O Primeiro:

Dizem ser um dom, uma força inata, mas o que não cogitaram foi que por si mesmo ele se fez. De sua própria vontade surgiu e se revelou, e grandes não foram os seus feitos, mas únicos e inimagináveis. Veio ao mundo como um outro ser qualquer, como uma simples alma. Nem mesmo ele sabia de seu destino, de sua própria jornada. Sua longa e ininterrupta jornada. De sua simplória vida galgou – a pequenos e humildes passos – até o infinito. Vagou por todos os cantos do universo (conhecido e desconhecido). Por toda a parte por onde pisou seu nome foi conhecido e até aclamado. Seus muitos nomes.  Cunhou por seu próprio esforço a sua história e magnânimo foi e sempre o será. O homem, o mestre, estava lá. Desde o sempre. O mestre, maior que o próprio tempo, imortal não era só seu espírito, pois sua carne também o era. Foi o melhor entre os melhores, o campeão de seu tempo e nunca veio a deixar de sê-lo. Imbatível, indestrutível, imaculado pela morte. O melhor dos aliados, o pior dos inimigos.

O encontro:

Seus caminhos estavam cruzados e este dia veio como o marco de uma eternidade. Mestre encontrou discípulo e finalmente o um se tornou dois. Por muito tempo estiveram juntos – não tanto quanto suas existências. O tempo foi crucial, o suficiente para que dois voltassem a ser apenas um e estes – juntos – tornaram-se inigualáveis e maiores do que o infinito. Ao lado do jovem mestre o primeiro esteve até que este se tornasse o que haveria de ser. E ambos perduraram por todo o sempre...

O segundo:

 Já o jovem mestre, galgado em sua própria experiência – assim como o primeiro – tornou-se homem e de seu espírito emanou sua força. Aprendeu com os mestres à sua volta, com as forças que o cercavam e com sua própria vontade. Desvendou muitos dos mistérios do universo e aprendeu suas leis. Sua carne tornou-se imortal como a de seu maior mestre e – pela segunda vez em um infinito – outro que não o primeiro, também prevaleceu.


Término do prólogo:

            Eis então um pouco da incomensurável história desses dois homens e de muitos dos que por perto estiveram. Seria possível narrar todos seus feitos? Até onde se pode ir ou chegar? Até onde um ser pode se conhecer e se apropriar de sabedoria? Afinal, o que neste mundo é eterno? Não, meu caro, aqui não existe uma vã filosofia...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estudar ou criar?

Sei que aprender é muito importante (ao menos para os que pensam) e sempre defendi esta bandeira, mas gostaria de entender algo: o aprendizado é para o acumulo de conhecimento ou é a base que necessitamos para a criação? Sempre digo aos meus alunos que, mais importante do que tocar os solos dos nossos guitarristas amados , é fazer os nossos próprios solos. A maioria das pessoas que conheço não medem esforços para aprenderem, digno e muito justo... mas e aplicar estes conhecimentos? Saber fazer, produzir algo decente e de boa qualidade não é pra qualquer um, mas é pra dar a cara a tapa e tentar e conseguir e não desistir. Tenho bons amigos e alguns deles são crânios que se matam de estudar e querem por que querem saber tudo. Mas e daí? Onde realmente isto leva? Não estou dizendo que não é necessário, pelo contrário, eu gosto e muito de aprender, mas daí não arredar o pé do estudo, sempre buscando mais e mais conhecimento... aí não! O negócio pra mim funciona com aplicabilidade. Se eu não estiver produzindo algo então não me vale nada saber e aprender. Obrigado.

Sacrificosos dias de um escritor

Sabe, nem mesmo sou um escritor ainda, mas almejo ser e escrever é como criar um filho... ele é apenas uma ideia, que vem surgindo e vem querendo aparecer e quando você menos espera ele nasce... até aí tudo certo. O problema começa quando a gente percebe que ele veio sem uma orelha, sem uma perna ou um braço e isso é pouco comparado ao crescimento do garoto. Você até da carinho pra ele, mas esquece de alimentá-lo de vez em quando e aí já viu, né? O bostinha não cresce de jeito nenhum.
Bom, analogias à parte, o que eu quero dizer é: É muito foda dar continuidade aos meus projetos ou porque não dizer, nossos projetos, afinal eu não devo ser o único neste mundo com este tipo de problema... ou sou? O que me importa é cuidar para não perder as esperanças e isso sim é uma tarefa de mestre. Quantas vezes desisti, me desanimei, cansei, parei ou até mesmo destruí uma criação? Pois é, e assim vou empurrando e levando e tentando conseguir o meu espaço.
Hoje tomei uma decisão drástica, mesmo tendo lido comentários contra este tipo de atitude, achei por melhor postar meu livro e minhas outras criações neste blog e assim sendo, talvez, mas só talvez eu possa me sentir motivado a ser um melhor escritor, ou seja: menos preguiçoso.

Dami, essa é pra você. Agora mesmo distante poderá ler e opinar.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A infinitude do infinito.

Minha crença de que o universo é infinito, começou quando eu ainda era uma criança, pois isso me foi ensinado na escola. Era este o entendimento dos cientistas a respeito do cosmos. Depois de um bom tempo, com os estudos da expansão do espaço, começaram a dizer que ele era sim, finito. Muitas outras ideias foram se aglomerando e são tantas as ideias, que, como sempre, fui induzido a criar a minha própria concepção de universo. Se tivesse como explicar o que entendo exatamente pelo mundo, eu o compreenderia plenamente e não estaria formulando hipóteses e sim afirmando algo. O que eu gostaria de passar não é algo original, tão pouco o queria que fosse, pois minha percepção me diz que tudo a minha volta é um universo, do macro ao micro, do alpha ao ômega. Em tudo pode conter um universo, assim como o universo contém absolutamente tudo. Porque deixar de pensar que em um único átomo não encontrarei quilhões de aglomerados de galáxias? Porque não seria possível? Se nos fosse viável ver além do átomo, o que veríamos? Nada? Não há nada dentro de um átomo? E se há, o que existe dentro do que está dentro dele? Não nos prendamos ao micro. E fora da nossa galáxia, fora do aglomerado em que estamos, do conjunto de aglomerados de galáxias? Terá um fim? Não creio. Não posso conceber o fim de algo tão grandioso, seria como ver os limites de Deus. Ver o Seu contorno. Enxergar Sua forma...não...não penso assim. Pensar em algo delimitador, me faz crer que infinito não é a palavra adequada. Infinito pra mim é assim...

domingo, 2 de agosto de 2009

A união de todas as coisas

Começar um blog é como testemunhar o nascimento de um universo, no caso o meu universo. Não consegui determinar um assunto específico para este blog, muito menos para este primeiro texto, então pensei: o que eu mais gostaria de falar (escrever) do que absolutamente tudo? Resposta: nada. Pensei também na responsabilidade de escrever algo que seria lido... depois de muito refletir conclui que se me prender a detalhes estaria me reprimindo. Bom, neste texto, gostaria de expressar o que entendo pelo conhecimento, que buscamos avidamente. A união das coisas, de todas elas, se mostrou a mim como um complemento, um auxílio para as minhas respostas infindáveis. Vi por exemplo, que não conseguia entender Deus por meios religiosos, sem o complemento da ciência. Lembrei-me então que nada era, no princípio, desassociado. Tudo era. Com o passar dos milênios o homem, por vontade de esmiuçar o todo, o dividiu até que o perdeu de vista. Hoje em dia, nenhuma pergunta chegará perto de uma resposta sem a compreensão de muitas variáveis. Os assuntos discutidos neste blog, serão apenas as questões por mim levantadas, ou a mim implantadas. É apenas a jornada de um homem que busca o conhecimento, a minha jornada.