Pesquisar este blog

domingo, 30 de janeiro de 2011

Como uma canção

Ainda a lhe esperar...
E dia após dia eu continuo a lhe esperar
Sem esperanças ou preocupações
Apenas vendo os dias passarem

Nada tão belo e tão odioso
O complicado por mim ausente
Apenas atento... pronto para ouvir seus passos
Aqueles que eu ansiosamente aguardei

Sinto que existe, ou apenas me convenci de que sim
Vontade não me falta, só queria ter alguém

Ainda a lhe esperar...
Eu me estendi; deitado e adormecido
Onde quer que estiver... ainda a lhe esperar
Mesmo que só exista em meus pensamentos

Saboreei o segundo perdido, olhei firme;
Pensei ter sido você, aquela que eu tanto sonhei
Aquela que eu tanto rezei, aquela que...
Se quer, saberei se um dia virá

Cabisbaixo mas não derrotado, largado mas não perdido
Suado, sofrido, despreocupado, mas atormentado

São seus passos que eu ouço, ou são somente as folhas que caem?
Sabes de mim? Ainda me queres? Já ouviu falar de amor assim?

Tomo meu rumo, finjo que sim
Saio para lugar nenhum... onde está você?
Queria ver-lhe, sentir-lhe ou, ao menos,
Saber o que e quem é você.

Sinto um aperto aumentando, me sufocando
Será minha ânsia de você?
Como posso suportar não saber se um dia terei você?
Saber se verei você? Saber que lhe pertencerei...
Saber seu gosto, seu cheiro
Saber de você... saber de você...
Quem é você?
Onde estás?

Não me tema, não se esconda,
Você é a única que pode me mudar
A única que pode me resgatar
Trazer-me de volta a vida e ao gosto de viver
Aquela que cuidará de meu coração
E, sempre que precisar, aquela que terá o meu por perto

Onde está você que não vem?
Ainda a lhe esperar, ainda a tentar...
Suportaria a carne à provação do tempo?
Da dor, da penúria e da luxúria?

A dúvida e não mais a esperança
É quem me faz lhe aguardar, lhe esperar
Trará consigo a emoção, a alegria e a liberdade?
Trará consigo o meu direito de amar?
E, se trouxer... poderei em ti confiar?

Marque-me a ferro, sangre minha carne
Leve minha alma, sugue minha vitalidade
Devore-me o corpo e transpasse o meu coração
Mas...
Mas...
Mas... pelo amor que tem a Deus: venha

Disposto a sofrer ou a viver
Quero ter você, agora, mesmo que não exista
Hei de criá-la, imaginá-la
Disfarçarei tua vida em um outro alguém
Até que venhas para mim
Sofro por tua falta
Sofro por não ter por quem sofrer
Acalente minha alma
Supra minha necessidade irreal de ti
Exista, por favor
Esteja aí, em algum lugar, a me esperar
E, se por mim já passou, mostre em meu ser
A marca que deixou e diga:
“Aqui está a prova de que és meu”

Rondo a noite sozinho
Rondo os dias, vazio
Obliterado de emoção
Qual dos lábios lhe pertence?
Em qual dos seios bate o teu coração?
Carregarás um dia um filho meu?

Toma de minhas mãos
O direito que lhe darei:
Mostrar o que é bom ou não
Entrego-me a ti, escolhas para mim,
Faça o que bem quiseres de meu coração

Sonhe os meus sonhos
Quero respirar o teu ar
Veja com meus olhos
Quero sentir os teus anseios
Sou tua pele desnuda
Sinta-me dentro de teu interior

Ainda a lhe esperar
Ainda querendo lhe amar
Entenda o quanto preciso de você
Entenda o quanto preciso
Entenda...

Saiba, veja, tenha certeza
Quero poder amar
Quero que seja você
Quero ter aquilo que um dia pensei que poderia ter...
Ter você...

Se está aí, e sabe que isso tudo é para você
Não pense, não hesite, não duvide
Estou aqui para recebê-la
Para ser somente seu
Para deitar contigo no teu eterno sonho,
Para viver você
Para ser e ter
Veja... acredite... é possível
Se quero
Queira também
Sinta também
Por que, o que aqueles chamam de amor
Eu chamo de obsessão
Quero lhe ensinar a amar
E quero que me ensine a não parar de gostar

Mesmo assim, ainda a lhe esperar
Como em uma canção
Uma linda melodia
Que arrepia, que melhora seu dia
Como numa bela sinfonia,
Repleta de harmonia e luz
Caminharei por todos os dias
Olhando de lá para cá
Eternamente esperando
Um dia
Lhe encontrar
Para saborear
Um mínimo
De um momento seu...

Aqui... vivendo... apenas... a lhe esperar...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Conto número 5 - Enquanto dormia

Corria desesperadoramente pelo meio do mato. Era alto e cheio de árvores. Começava a escurecer e quase já não via nada. Meu fôlego ia pras cucuias e mesmo assim eu não parava de correr. Sentia minhas pernas puxarem e repuxarem. As fisgadas aumentavam. De repente eu caí. Uma queda interminável. Sentia meus braços batendo em alguma coisa. Por fim aterrissei com força no que parecia ser água. A escuridão já não me deixava ver mais nada. A correnteza me arrastou e lutei para ficar com a cabeça para fora da água. Agora os meus pulmões ardiam. Meus braços batiam em pedras. Uma pancada forte na cabeça. Senti-me flutuando e, quando dei por mim, estava caindo novamente. Era uma queda d’água gigantesca. Eu estava acima das nuvens. Enquanto caia podia vê-las se aproximando rapidamente. Ventava tanto que sentia meu corpo se enxugando. Não podia acreditar, estava planando. Ainda em queda, mas com direção. Pensei no quanto seria bom se eu pudesse tocar as nuvens e com um movimento, planei por sobre estas. Meu corpo foi se endireitando e colei meus braços junto ao corpo. Peguei mais velocidade. Agora estava voando na horizontal. Bem rente às nuvens. Emparelhado a elas. As pontas dos meus pés as tocavam. A lua brilhava forte no céu. Perdi a noção de quanto tempo se passou. Voar era saboroso. Comecei a fazer peripécias no ar, e à medida que rodava e fazia looping eu gritava a plenos pulmões. Era muito divertido. Estava sorrindo. Decidi atravessar as nuvens e fazer rasantes no solo. Fiz um mergulho em parafuso. Gritando. Emocionado. A velocidade era tanta que meus olhos não viam nada. Cheios de lágrimas. Esforcei-me novamente para frear a descida e nivelar o corpo. Consegui bem a tempo, quando quase choquei-me com as águas do mar. Percebi minha nova diversão e minha nova oportunidade. Não a desperdicei. Fiz o mesmo que com as nuvens e deixei meus pés tocarem a água. Estava fria. Percebi que não usava mais os meus sapatos. Percebi que não estava mais com minhas roupas. Estava nu. Voando por sobre o oceano. Avistei uma ilha a minha frente, parecia com o lugar onde eu morava. Havia uma luz vindo por detrás de uma grande montanha. Sobrevoei a ilha em direção à luz. Era uma grande festa na praia. Pousei bem ao lado da enorme fogueira que ardia reluzente. As pessoas me olhavam assustadas. Eu sorria. Logo estavam todos se divertindo novamente. Uma bela mulher chegou perto de mim e perguntou por que eu não usava roupas. Respondi perguntando por que é que todos eles usavam. As pessoas ao meu redor gritaram e tiraram suas roupas. Aos poucos todos ficaram nus. Só havia diversão. Nada me incomodava mais. Daí, lembrei que estava correndo no meio da mata. Olhei nos olhos da linda mulher e a beijei. Senti seu corpo quente junto ao meu e quando abri os olhos, estava novamente no meio de uma enorme mata. Dessa vez diferente de todas que eu já estive. Comecei a correr outra vez. Parei subitamente e corri para o outro lado. Avistei uma enorme pedra e corri para ela. Saltei para cima dela facilmente. Dobrei os joelhos e tomei impulso e saltei para cima. Meu corpo foi se acelerando até que percebi que estava muito alto. Quis ir mais alto e acelerei meu novo vôo. Ultrapassei as nuvens e continuei subindo. Cada vez mais rápido. O vento estava congelante e, mesmo assim, não desisti de subir mais. O ar era rarefeito e ficava difícil respirar. Acelerei mais e resolvi parar de respirar. Estava tão alto que percebi que já estava tocando o espaço. Olhei para lua, que estava enorme, e voei para ela. Não havia mais vento, mas o frio continuava. Eu sorria e até tentei gritar novamente. Não consegui. Não tinha mais ar em meus pulmões. Deixei minha cara de alegre no rosto e fui para lua. Sentia sua luz tocando mais forte em meu rosto. Quanto mais eu me aproximava mais sua luz acabava e só restou, por fim, seu solo, que toquei com meus pés descalços. Deixei minhas pegadas naquele solo fofo e saltei com um astronauta. Percorri uma grande distância daquela forma. Depois de um tempo, senti-me entediado e soltei forte, alçando novo vôo de volta para casa. Acelerei mais que das outras vezes. Queria sentir meu corpo arder. E assim o fiz. Desci como um meteoro até a ilha onde morava. Decidi que não queria parar e como um míssil atingi o solo. Houve um enorme estrondo e o chão tremeu junto comigo. Quando levantei da cratera, ouvi um enorme silencio. Fechei meus olhos e quando os abri novamente, estava deitado em meu colchão. Tirei o edredom de cima do meu corpo nu e caminhei até a janela do meu quarto. Olhei para fora e vi que ainda era noite. Abri a janela e vi as luzes da cidade lá embaixo. Pulei a janela para o lado de fora. Sorri novamente e percebi o que estava acontecendo. Subi na murada do precipício e saltei. Por um instante, eu jurava que eu estava sonhando. Acelerei em direção a praia...

Calor da porra

Começa com o incômodo
Depois sempre piora
A sede nem precisa ser tanta
Dói mais a irritação.

Que falta me faz um dia nublado

Eu acordo suado
Puto e muito irritado
Já acordo pingando
Todo grudando

Quem precisa do sol? (estou brincando)

Tiro a camisa
Visto um short
Abano-me com um papelão
Meu ventilador o Dalton queimou

Se pudesse arrancaria a pele

O dia está quente e,
Que dia não está?
Mesmo quando chove
Nem essa água vem pra refrescar

Morrer queimado seria o mesmo que ver o inferno

E os malditos pernilongos?
Voam passando em frente aos meus olhos
Perdi a conta de quantos já matei
E calor só aumentando

Escolhi minha morte: congelado no Alasca

A pele vira um adesivo
A mão escorre e escorrega
Já é madrugada e continuo suado,
Cansado, chateado, amargurado

No momento, não há nada que eu deteste mais

Sua, sua, sua sem parar
Como posso sair e me divertir se
Nem posso para de suar?
Chega , chega, chega...

Meus poros clamam por refrigeração

Sábado desinteressante

Um dia. Um dia comum. Cansaço, chatice, preguiça e manha. Enquanto escrevo assisto uma entrevista de Luisa Buarque. Algo sobre literatura nas favelas. Não presto muito atenção. Tenho ela voltada para o que estou escrevendo. Tentando relembrar o que de bom e de ruim me aconteceu hoje. E pensando nisso, acho que a única coisa de bom que me aconteceu foi não ter acontecido muita coisa ruim.

Levantei tarde, o que está me matando agora nas férias. Acordado por Tomás, o amigo de prosas alongadas, com e sem sentido. Muito conversamos. O que de útil foi dito eu não sei. Não prestei muita atenção a isso. Nossas conversas são divertidas. Só isso. A preguiça me mata ainda. Levanto, solto os cães. Os menores dormiram comigo. Enrolo algumas tarefas, tudo muito arrastado, muito vagaroso, penoso. Ministro os remédios aos bichos. Empoleiro-me na cama. Desisto da aula que daria. Desisto da aula que teria. Desisto, desisto. Tomo coragem para tentar iniciar o dia. Resolvo comer. Resto de sopa de ontem. Misturo o resto do queijo ralado e pego um pão velho. Como com prazer. Estava com fome. Depois de comer o que resta é mais preguiça. Tento dormir novamente. Minha garganta e meu nariz não me ajudam. Acordo tossindo. Irrito-me. O gato dormia comigo dessa vez. Levei-o para fora. Liguei o computador, aguardando notícias que não vieram. Nada daquela bela. Seria um dia sem atrativos. Ainda não, ainda tinha uma visita. Assisti a alguns vídeos de bandas no Youtube. Além de vídeos sobre ETs. Cansado, reuni o que me restava de disposição e fui limpar a sujeira canina. Alguns minutos depois voltei para cama. Mais chateado e mais cansado. Minha visita liga. Diz que virá a noite. Não queria encontrá-la à noite. Tão pouco passar todo esse tempo com ela, sem poder escrever, sentir preguiça e fazer o que sei de melhor: nada. A visita queria sair com uma outra pessoa antes de vir aqui. Não gostei. Nem ela. Discutimos, brigamos. Desliguei o telefone impaciente e irritado. Depois pensei que seria melhor, poderia fazer mais de coisa nenhuma. Fui tomar banho. Gelado que estava quente, por causa do sol na caixa d’água. Arrumei e saí. Fui à padaria comprar comida. A minha havia acabado. Comprei as porcarias que eu como e voltei. Já estava com fome quando saí. Voltei e comi. Além da conta. Fiquei pesado. Mais preguiçoso ainda – se é que era possível. Assisti mais televisão. Cochilei, levantei. Tratei os cães de novo. O novato derrubou a ração e espalhou por todos os lados. Irritei-me e deixei pra lá. Voltei para cama. Olhei novamente a internet. Minha barrida doeu. Roncou. Reclamou. Rangeu e voltou a doer. Fui para o banheiro com o Bukowski debaixo do braço. Descarreguei e aliviei-me. Bem não estava, mas mal também não. Voltei para cama e comecei a escrever esse texto.

O que existe de bom em um sábado desinteressante? Seu próprio desinteresse...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Homenagem ao velho Buck

Como o velho Buck, um dia irei ficar
Não tão sórdido e nem tão perverso
Talvez um pouco mais,
Talvez um pouco menos

Em suas linhas corro minha imaginação.
Em minhas leituras, cativo-me de suas ideias
Qual é a graça? Qual é o prestígio?
Valho-me de boas intenções?

Lê-lo é rever o passado imaginando um futuro
Gargalho sozinho de suas peripécias
Divirto-me com suas confusões e
Retratos toscos de uma realidade

Em suas sentenças me esbaldo
Quão divertido pode ser um poeta?
Calmo e até incompreensível por demais
Não encontro todas as palavras para descrevê-lo

Homem diurno, homem noturno
Mais homem que isso só se for com o pau para fora.
Sujo, devasso, pervertido e pornográfico:
Um verdadeiro ídolo.

Simples como ele só e nada modesto
Sua imoralidade aflora a vontade
Suas experiências equivalem a grandes estudos
Vulgaridades a parte, tínhamos um gênio.

O cântico dos cânticos nunca revelou sua presença
No entanto, safado que era, de certo comia alguém, sorrateiro
Bêbados canônicos; percebi que somente dois deles eu admiro:
O velho Guatemar e o velho Buck (ambos safados)

Quantas palavras merece o Homem de poucas palavras?
Creio que quantas ele mesmo escreveu
Por mais hediondos que foram seus dias,
Por mais que tenha amado e sido amado

Cada palavra sua é a desmistificação do cotidiano
Um relatório, um diário, uma confissão sem dó.
Coragem nunca lhe faltou em qualquer de seus instantes
Do pouco que li o do muito que lerei, eu sei!

Se por ventura nessa homenagem faltaram
Vaginas e caralho, em sua vida nunca houve de faltar.
Espelho-me em sua ousadia, de um dia,
Porra nenhuma me faltar e nem buracos ter para meter

...onde quer que você estiver, que esteja comendo alguém!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Banho gelado

Naturalmente, deveríamos todos nos habituar a esse tipo de tratamento da pele... tá, frescuras à parte, tomar banho frio é mais saudável do que o banho quente. E por que estou tratando desse assunto? Percebi hoje, enquanto tomava o meu banho, que já estou a quase quatro anos tomando banhos frios e nunca mencionei isso – por escrito – em lugar nenhum. Minha forma de prestar homenagem aos banhos frios então, será essa crônica do banho gelado.

Como tudo isso começou. Quando ainda era um adolescente, por volta dos dezesseis anos, resolvi que tomaria banhos gelados. Não me lembro bem ao certo o por quê dessa decisão. Pode ter sido uma provação para mim mesmo – coisa que eu costumava fazer muito. É claro que minha decisão foi tomada numa época de muito calor. Não contava eu é claro com o frio mas, mesmo quando ele veio, continuei bravamente. Por que eu parei o banho gelado? Bom, aconteceu um percalço na minha vida, naquela época, um incidente envolvendo minha primeira namorada e uma coisa que tentamos fazer. Longe daqui eu dizer o que houve. Mas foi exatamente por isso que eu acabei voltando para os banhos de chuveiro ligado. Claro que eram tempos de muito frio, o que ajudou na decisão.

Prático dizer que não parei totalmente com os banhos ‘gelados’. (gelado porque a sensação de tomar um banho frio no inverno é a de estar se congelando!) Principalmente quando voltava para casa todo suado e morrendo de calor, nada melhor do que o tal banho. Daí veio a minha vida de morador solitário. E junto a isso, meu desleixo com coisas que se estragam. No início, quando meu chuveiro estragava, eu acabava arrumando alguém para trocá-lo para mim. Com o tempo, esses espaços de tempo foram aumentando. Até que, por não ter mais onde eu enfiar a vergonha, eu mesmo trocava os chuveiros.

Quando mudei para minha atual residência, os incidentes com chuveiros queimados só aumentaram. E minha indubitável preguiça também só aumentou. Por fim, da última vez que o dito cujo queimou, apelei e disse para mim mesmo: “agora é na marra que eu só tomo banho gelado” e assim o fiz. Vale lembrar o desconforto alheio de todos as pessoas que se aventuram (ou são obrigadas) a tomar banho aqui em casa. No meu caso, é mais do que natural. Mesmo nos dias mais frios, aqueles banhos de manhã cedinho – antes de sair para a aula ou o trabalho – tipo umas seis horas da manhã, com tempo chuvoso e ventos congelantes, mesmo nesses dias, o banho já se tornou suportável. Foi uma prática obrigatória. E não adianta me dizer que é só comprar outro ou trocar a resistência. Chuveiro aqui em casa é igual bruxa na inquisição: QUEIMA! Um dia ainda processo o dono da casa e reivindico a troca de toda a fiação. (o assunto aqui é só o chuveiro, não quero nem comentar o resto das coisas que aqui já se queimaram) Lembro ainda que troquei o chuveiro pouco tempo atrás, por causa dos meus pais que vieram ficar um tempo aqui em casa e durou no máximo uns três meses. Queimou antes deles irem embora, uns dois dias antes. Tadinha da minha mãe...

Mas quais as vantagens de desvantagens de se tomar banho gelado (sempre). Acho que faz bem para pele (gay), dá mais resistência ao organismo (macho), agiliza o banho e principalmente, alivia em muito a conta de luz. A desvantagem é que sempre sou obrigado a tomar o bendito banho se quiser sair de casa, faça chuva ou faça sol! Não consigo nem datar qual foi a última vez que demorei no banho, brincando com meu ‘coleguinha’. (no banho gelado ele mal aparece!)

Aqui encerro minha crônica recomendando a todos vocês que gostam de tomar banho que, ao menos uma vez por mês, arrisquem-se a tomar um banho gelado. Nota: mesmo quando vou tomar banho em algum outro lugar, prefiro tomar gelado.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Conto número 4 - Uma vida

Por mais que fosse incrível a ele estar feliz alí, naquele momento, entusiasmou-se e se deixou levar pela sensação. Dividia o que tinha com seu irmão mais novo. Nunca faltara a seu irmão, nem sequer em um instante. Vendo-o alí deitado como um anjinho o tranquilizava sempre. Era muito bom ver o garoto, dia após dia, crescendo e crescendo sem parar. Já estava quase na altura do seu ombro. Mediam sempre. O caçula sempre pedia: “irmão, vamos medir de novo, você mediu errado da última vez!” e terminava o pedido em um sorriso que se eternizava em todo momento. Ele adorava o irmão como a um filho. Eram carne e unha. Preferia ficar a sós com o irmão a estar com qualquer outra pessoa. E nunca deixou de ser assim, desde o dia que haviam perdido seus pais naquele trágico acidente. Passou a mão pelos cabelos lisos e loiros do irmão. Sorria ao fazer isso, como adorava aquilo. Daria tudo, absolutamente tudo, pelo irmão. Quantas não foram as vezes que passou fome, só para ver seu irmão bem nutrido. Seu irmão nunca sentira fome na vida. Jamais deixaria isso acontecer. Preferia matar a ver seu irmão sofrer. E não parecia que ele estivesse sofrendo alí, naquele instante. Dormia? Não sabia, sentia-o adormecido. Mesmo com toda aquela gente fazendo barulho. Segurava a cabeça do irmãozinho apoiada no colo. Acariciava seus cabelos lisinhos. Amava muito aquele moleque. Lembrava do primeiro dia que passaram sozinhos em casa. Passaram aquele primeiro dia todo abraçados um no outro. Vez ou outra, o menor chorava muito e ele o agradava como podia. Nunca perdia a paciência com o irmão. Nunca! Aqueles eram bons tempos ainda. Um tempo antes de perderem a casa. Antes de serem levados pelo juizado de menores. Antes de serem levados para o orfanato, ouvindo todos os dias que seriam separados e adotados por famílias diferentes. Aquilo não podia acontecer. Ele tinha certeza que seus pais iriam querer que ele cuidasse do irmão. E assim o fez. No segundo dia de orfanato, depois de assaltar o depósito e juntar o que era preciso para ficarem bem, tirou o menino dali e foram para bem longe. Não tinham mais parentes, não tinham ninguém a quem recorrer. As pessoas a sua volta gritavam e aquilo o incomodava muito. Não percebiam que o irmãozinho precisava dormir e descansar. Abaixou e beijou a testa do irmão, dizendo baixinho: “tudo vai ficar bem, você sabe disso, eu estou aqui...” Nada o deixava mais furioso do que outros se metendo no jeito que cuidava do irmão. Até alfabetizá-lo ele conseguiu sozinho. No dia que seu irmão leu o primeiro livrinho foi uma festa só. Comeram pizza, isso ele não esquecia. Ensinou matemática para o garoto e até alguma coisa de história. O menino não parava de pedir mais livros. Levava o garoto na biblioteca mais próxima e arrumava um jeito de sair de lá com o livro que o irmão escolhia. Mesmo que não tivessem uma casa, mesmo que morassem nas ruas, nunca deixara seu irmão debaixo de céu aberto em um dia de chuva. Nunca o deixou passar frio nem nenhuma dificuldade. Uma vez, lembrava bem, enfrentou três garotos maiores do que ele só por causa do irmão. Apanhou muito, mas expulsou os três de perto do seu protegido. Alguém tentou tocar a face de seu irmão. Expulsou a mão com um tapa e gritou: “ninguém toca nele!” Ouvia a sirene cada vez mais forte. Alguém disse ao longe: “o menino parece estar morto, mas o irmão não deixa ninguém chegar perto” “Morto? Não! Nunca!” pensava enquanto abraçava o irmão mais forte do que antes. Rezava sem saber rezar e implorava que tudo terminasse bem e que, pudessem sair dali para tomar um sorvete, como faziam na maioria das tardes. “O que aconteceu, filho?” – um sujeito de colete brilhante e segurando uma maleta perguntou. “Acho que foi atropelado” – disse uma voz. “Garoto, vou fazer tudo por seu irmão... mas precisa se afastar” – disse o homem da maleta. “Faça o que for preciso, mas comigo aqui do lado. Se ele acorda e não me vê por perto, apronta um berreiro...” – disse sorrindo e abriu espaço para o homem, sem contudo largar a mão do irmão que representava tudo em sua vida.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Conto número 3 - O início de todas as coisas

Num dia – um desses comuns – ouvi alguém dizer: “o número três é o início de todas as coisas”. Aquilo não saiu mais da minha cabeça. Onde quer que eu fosse, lá estava ele, o número três. Não achava isso ruim. Tampouco o número aparecia, do nada, como num thriller de horror. Eu é que o localizava em quase todas as coisas que via. Era até divertido no início mas, algo faltava nisso tudo. Como podia o três ser o início de todas as coisas se tudo começava do número um, ou às vezes do zero? Aquilo me deixou intrigado e perdi o sono uma, duas, três vezes! Exatamente três vezes. No quarto dia eu dormi como um cordeirinho. Sei que era psicológico, ao menos foi o que eu pensei no início. Levantava feliz num dia e assim continuava até o terceiro. Não existia nada que continuasse por mais de três dias. Absolutamente nada. Resolvi então estudar a extensão de todos esses acontecimentos. Comecei com algo fácil, comum. Tomei banho por três dias seguidos, demoradamente, lavando minha cabeça com bastante xampu. Ao sair do banho, logo no primeiro dia, propus a mim mesmo a não tomar banho no dia seguinte. Pois não é que no dia seguinte fez um calor de rachar e mesmo não querendo eu tive que tomar um banho. Até então eu pensei: “vou tomar banho de outro jeito”. Nada! Nem dei conta de mim, só sei que percebi que havia repetido tudo da mesma forma do dia anterior. Chocado e sobressaltado, não me rendi e planejei tomar banho no dia seguinte e em todos os outros para provar que conseguia quebrar o estigma do três. Terminado o banho do terceiro dia senti-me feliz por saber que quem havia decidido aquilo havia sido eu mesmo. Passei a noite acordado e entrei na madrugada. Como já era um outro dia pensei em já tomar o tal banho. No realizar das coisas, acabei me sentindo cansado e dormi. Quando acordei, já era madrugado do dia seguinte. Eu havia passado o dia todo dormindo. E não foi só isso, duas horas depois que eu tinha acabado de acordar, me deu um sono tão forte que acabei adormecendo novamente. Resultado: acordei na madrugada do dia seguinte e voltei a dormir duas horas depois. Ao final do terceiro dia – dormindo sem parar e sabendo que isso não se repetiria – tentei algo que teria mais controle: comer uma pizza de mussarela – a mussarela foi um toque genial, pois imaginei que todos os outros ingredientes poderiam acabar menos esse. Pedi a pizza no primeiro dia, no segundo e no terceiro. Quando chegou ao quarto dia, estava pronto para ligar para pizzaria quando peguei o telefone do gancho e percebi que estava cortado. Minha conta estava vencida. Eu estava dormindo no dia do vencimento e não me lembrei de pagar. Não vi problema nenhum. Peguei a chave de casa e saí para a pizzaria mais perto da minha casa. Fechada. Comecei a ficar nervoso já nessa primeira pizzaria mas, ao chegar na segunda, notei que estava aberta e que minha sorte estava para mudar. Pois não é que a segunda havia acabado justamente a mussarela e estava fechando por falta de queijo?! Perguntei qual era a pizzaria mais próxima dali e fui para lá. Essa estava fechada por causa de um aniversário. Tentei insistir, ofereci ao segurança cem pratas para me trazer um pedaço de uma pizza de mussarela. E ele me arremessou para fora do lugar e ainda ficou com minha nota. Rodei a cidade aquele dia todo, indo em todas as pizzarias possíveis e nada. Duas das pizzarias, para vocês terem uma idéia, estavam ardendo em chamas. Resolvi parar a busca e aceitar o número três em minha vida, antes que algum outro estabelecimento queimasse. Cheguei tarde em casa e quando abri a geladeira para comer alguma coisa, encontrei-a vazia. Resultado: fiquei três dias sem comer. Isso não é nada, não quero nem falar das vezes que fui roubado, atacado por cachorros, espancado por um lutador num bar e principalmente, do dia que achei que a mulher que estava me dando mole – e que levei para um banho de espuma na banheira da minha casa – era na verdade um travesti... maldito número três!

Os dois irmãos - Oswaldo França Júnior

Uma vez tive que ler um de seus livros para o vestibular da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Lembro muito bem do livro, era “Jorge, um brasileiro” (1967). E como eu gostei daquele livro. A narrativa do autor era muito simples e direta, era como se alguém estivesse me contando oralmente aquela estória. Fiquei muito entusiasmado com aquele livro e lembro-me de tê-lo lido em menos de uma semana. Dos livros que havia lido naquele ano, para os exames dos vestibulares que eu prestei, esse foi um dos que eu mais gostei (concorrendo diretamente com ‘Grande Sertão: Veredas’). Isso já deve ter quase cinco anos que aconteceu. Hoje, depois de tanto tempo, tenho mais coisas a dizer sobre esse autor que, com uma de suas obras, acabou entrando em minha história. Entretanto, antes de falar de França Júnior, quero explicar como retomei esse autor em meus dias e como é que eu escolhi “Os dois irmãos” para ler.

Para eu chegar até aqui muita coisa aconteceu. Mas vou tentar ser bem sucinto. Na faculdade, mais precisamente a uns dois meses (ou quase) atrás, eu conversava com meu professor de Literatura, Marcelino, em busca de uma orientação sobre o que eu deveria ler e estudar para escrever minha futura monografia – que agora seria sobre literatura brasileira e não mais sobre estudos clássicos. (Fui obrigado a trocar minha habilitação, por incompetência mesmo) No nosso papo, muitos nomes surgiram e um deles foi o do Oswaldo. A ideia vingou pois o mesmo possui um acervo na biblioteca central da UFMG – e eu ainda nem passei por lá – e isso seria um dos facilitadores para minha pesquisa. Ainda estou longe de concluir o curso – bota longe nisso – mas mesmo assim decidi que queria ler mais sobre esse autor nas férias, para ter certeza de que seria dele mesmo que eu iria falar. Esse foi o segundo motivo de eu querer ler mais um livro de sua obra. O primeiro, como já disse, foi o fato de eu ter lido “Jorge, um brasileiro” – que com certeza eu relerei antes de provavelmente escrever uma monografia sobre o França.

Motivos apresentados, contarei agora como é que eu escolhi o livro “Os dois irmãos” para ler e, como foi o processo de leitura. Duas semanas atrás, eu fui devolver – com multa – dois outros livros – os quais eu nem sequer tive tempo de ler – na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, a nossa biblioteca pública, aqui em Belo Horizonte, e pensei em levar outros dois volumes que eu pudesse ler tranquilamente. Em primeira instância, lembrei-me rapidamente do “Jorge” e conclui que um dos dois volumes – só podemos pegar dois de cada vez – seria outro livro do Oswaldo. Tenho que fazer uma pausa para confessar que até aquele dia, eu sequer lembrava o nome do autor, e tive que procurar pelo “Jorge” para saber o que estava procurando. Eu sei bem que eu blasfemei, mas heresias à parte, eu tenho que passar por vergonhas assim para aprender a ser gente grande. Bom, achei a prateleira com as obras de Oswaldo França Júnior e aleatoriamente escolhi esse livro. Até então – sinto vergonha mas vou repetir – não lembrava o nome do autor, não conhecia sua obra e pouco sabia de sua vida. Escolhido os dois livros, (o outro eu só vou citar quando for dar minha opinião sobre ele) voltei para casa folheando os dois volumes em meu poder.

Comecei a ler a estória dos “irmãos” sem nome na mesma semana, mas por complicações adversas na família eu só voltei a lê-lo nessa semana passada. Li o livro praticamente todo no mesmo dia. Foi exatamente no dia dezesseis de dezembro – desse ano que acabou de acabar – lembro com precisão o dia pois estava no hospital com minha mãe, que acabara de realizar uma cirurgia de varizes. Não havendo nenhuma complicação na operação, sobrou-me tempo para ler o livro. Confesso que comecei a ficar entediado com a estória, mas a escrita do autor é tão cativante que nem em dei conta de que tinha acabado o livro. Minha predileção por ‘Jorge’ continua indubitável, mas valeu a experiência. Tanto é que a próxima obra do autor a ser lida por mim, será ‘O viúvo’ (1965) que é seu primeiro romance – o que não vale uma pesquisa, não?!

Bom, sobre o livro ‘Os dois irmãos’ (1976 – ROCCO – Rio de Janeiro/RJ) – mesmo ano que eu nasci, vale a curiosidade – tenho a dizer que é uma estória ingênua e ao mesmo tempo madura. França narra a vida de dois homens, ‘o homem e seu irmão’, – os personagens principais não recebem nomes. O que em minha modesta opinião é genial – que inicia-se num funeral. É o enterro do pai dos dois homens e, o mais velho, o ‘homem’, decide que a partir daquele dia iria tomar conta do irmão que, até então, havia deixado de lado. A narrativa principal fica por conta do ‘homem’ que custa a entender o modo de vida de seu irmão, queixando-se sempre com sua esposa do ‘irmão’. O irmão é obsessivo por encontrar pedras preciosas na região em que vive, negando para tanto um trabalho que lhe dê sustento. Bem da verdade, as intempéries da vida de nada incomodam o ‘irmão’. Tudo o que ele faz é na base do sossego e da tranquilidade. Para o ‘homem’ isso é motivo de interrogatórios sem fim para com o pobre ‘irmão’. Ao meu ver, o toque cômico da estória está no fato de o ‘homem’ estar sempre atrás do irmão, insistindo para que ele arrume um emprego fixo para que tenha condições de cuidar da própria família, mas para fazer isso, deixa também de trabalhar. O tempo ocioso dessa trama é ressaltado por flash backs ocasionais, que demonstram um saber ‘natural’ do irmão, um jeitinho de lidar com problemas e de ser amigo de todos. O livro termina como começa, com a morte do pai, vista dessa vez por uma lembrança do ‘homem’, com uma curiosa lamentação. São 131 páginas de um enredo alegre, curioso, traumático, entristecido (em determinadas passagens), e muito divertido. Não é recomendado para quem espera ação, nem tão pouco drama. Gostei do emaranhado de acontecimentos, me confundi um pouco com tantas lembranças, mas no todo é um bom livro. Fácil de se ler e rápido de ser digerido. Narrado com simplicidade e louvou por França Jr.