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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Charuto com um amigo

Não sabia bem por que eu deveria fazer isso, mas sabia que era necessário. Inclusive, essa foi minha justificativa para aquele cigarro. Você bem sabe que não sou um fumante. Muito menos um amante da fumaça emitida por esse objeto. O fato é que eu sentia ter que passar por isso. E assim o fiz. Eis que o tempo passou e aquele dia tornou-se um ritual. Não era mais um cigarro, tínhamos um charuto (bom charuto) e (espera, caro também) nossas conversas. O que se formou alí, naquele dia, não foi apenas um papo, foi uma espécie de cumplicidade.

Somos amigos há algum tempo, temos muitas afinidades e também muitas diferenças. O importante é que estamos unidos por alguns motivos (como as mulheres) e pensamos em coisas grandes como nos tornarmos escritores. Desse princípio surgiu a oportunidade e, da oportunidade, nasceu o nosso ritual.

Almoçamos aquele dia falando quase tudo o que costumávamos falar. (O assunto sempre rende, não é mesmo?) Afinal falamos de quase todas as coisas que conhecemos no mundo real e até mesmo coisas do outro mundo. (Vê se aprende a acreditar em ET’s! rs) Se não tivéssemos compromissos, provavelmente viraríamos os dias falando e falando. (Mulher pra se falar é o que não falta)

Mas lhe pergunto; por que diabos gastamos noventa por cento de nossa conversa falando do sexo oposto? É claro que é uma coisa muito boa, mas não nos bastamos só de sexo. Eis então que, proponho, no decorrer de nossos papos, utilizarmos nosso tempo (aquele que de fato não temos) e apostarmos no saber da vida. Veja só quantas coisas ouvimos, lemos e discutimos que, em sua grande maioria, nos direciona ao saber do nosso próprio ser. Aquele papo de se conhecer não é uma vã filosofia. É o que de fato todo ser humano deveria buscar, concorda? Quantos não são os caminhos e quantas não são as informações que temos acerca de todas as coisas? Por que perder mais tempo com o que sabemos ser inevitável? E outra, isso não nos tira da diversão (mulher) pelo contrário, nos direciona a um caminho razoável.

Passo então a dizer que nosso assim chamado ritual deveria aprofundar-se em autoconhecimento. E, dele, surgir algumas compreensões. Voto a favor de prosseguir em nossa cumplicidade e a partir dela trocarmos informações de nossa evolução. Uma espécie de filosofia de boteco (sem boteco). Tratemos de nos encontrarmos, de transformar nosso conhecimento em sabedoria prática (redundante).

No mais, esse é uma espécie de correspondência filosófica. Um registro para nós mesmos. Assim poderemos ter uma ‘ata’ de nossos prodígios e também de nossos infortúnios. (Deus sabe o quanto nós passamos! hehe) Aguardo resposta, meu caro! Abraços.

domingo, 21 de novembro de 2010

Quem?

Fora visto a última vez às dezessete horas da tarde anterior. Onde fora ou quem visitara antes de desaparecer ainda é um mistério. Ninguém, como sempre, nunca viu nada e não ouviu nada.

— E o senhor, sabe de alguma coisa do sumido?

— Eu? Eu não? Não sei de nada, não ouvi nada... juro!

— Sei... sei... – é impressionante o quanto as pessoas estão dispostas a mentir mesmo sabendo que você sempre sabe que elas estão mentindo – e o senhor acha que ele sumiu por que?

— Não sei ao certo, bom...

— Se o senhor não conhece o sumido, por que é que não sabe ao certo sobre seu desaparecimento? – xeque!

O homem gaguejou e gaguejou e nada disse. Abaixou a cabeça e assim ficou, quieto, até eu perguntar novamente:

— Então, diga algo que possa me ajudar, meu amigo. A família toda está preocupada, já imaginou se fosse o seu quem...

— Ok! Ok! Não diga mais nada, eu digo, tá?! – desabafou o homem – ele saiu como se não fosse mais voltar. Eu tentei dizer algo que e o convencesse do contrário mas não me ouviu. Ele estava muito triste quando partiu e...

O homem fechou os olhos com pesar e ficou parado, respirando baixinho. Bem devagar. Esperou um tempo e retomou a fala:

— Sinceramente... tenho que dizer que uma vez... uma vez, isso também aconteceu comigo – disse o homem com a voz embargada e continuou – entendo a sua posição. Lamento inclusive. Comigo foi assim também. Tive que colocar um investigador atrás dele quando se foi... achei que nunca mais iria revê-lo. Mas graças a Deus ele está comigo! Graças a Deus eu o reencontrei.

— Bom, devo dizer que muito obrigado... mas realmente preciso encontrá-lo pelo bem de todos. O senhor se importa de me dizer alguma coisa que possa servir de pista?

— O que posso dizer? Eu só o ouvi discutindo com alguém... era uma briga séria, devo acrescentar. Não ouvia nada do outro, só dele... acho que tinha algo a ver com ser melhor viver sozinho do que sofrer pra sempre. Algo do tipo...

— Entendo, entendo... e o senhor acha que ele foi para onde?

— Pra onde foi eu não sei dizer. Mas com o pesar que saiu daqui e com o que andava acontecendo com ele, eu acho, que não o verá tão cedo. Bom, deixe-me dar uma dica. Ele vai voltar. Isso eu posso dizer, só espero que seja antes de algo ruim acontecer com a família em questão. Não adianta ir atrás. Se ele não quiser ser encontrado, não vai. Sabe bem que digo isso por experiência própria, não é mesmo? Comigo também foi assim. Mas ele voltou... depois de muitos anos, antes de eu me casar definitivamente... foi estranho, mas aconteceu. Claro que todos nós ficamos felizes com sua volta. Acredito que no seu caso será algo semelhante. Só... só não desista.

— Obrigado... realmente não tenho mais o que perguntar. Obrigado por tudo.

— Não perca as esperanças, filho. Vai dar tudo certo.

E assim me virei e parti. Não podia conceber esperar. Tinha que fazer algo. Não somente por ele. Era mais por mim na verdade. Todos estavam ansiosos por revê-lo. Tinha que fazer algo. Comecei a caminhar sozinho, sem direção. Precisava por as idéias no lugar. Por onde começaria? O que eu tinha até agora? Nada? Acho que interrogar espíritos não estava ajudando. Não era verdade. Eu o conhecia muito bem, isso ajudava, mas... bem, não tanto assim. Não era de muita valia ser parte da família. Não quando essa estava incompleta, sem ele. Droga! Por que é que ele era assim tão rebelde? Não importava com ninguém, será? Isso me feria também. Não estávamos completos sem ele, isso era um fato. Lamentar também não adiantaria. O jeito era seguir em frente até que ele aparecesse. Nada de ficar conversando com anjos e demônios...

Quando parei de caminhar, eu já estava onde o vira pela última vez. Exatamente de onde eu havia saído. Bem naquele jardim. Abaixo daquela árvore que sempre íamos todos juntos. Suspirei fundo e fiquei alí olhando o lugar. Não havia passado um dia inteiro sequer, mas sabia do que se tratava. Foi exatamente alí que ele fora magoado pela última vez. Assim eu fiquei alí, pensando no que ele havia passado. Sabia como havia se sentido. Afinal, eu estive com ele em todas as dificuldades. E naquele dia de ontem, não tinha sido diferente. Tomei coragem e pronunciei em voz baixa um juramento ao vento:

— Amigo, onde quer que esteja, saiba, acredite: eu vou encontrá-lo e seremos felizes todos juntos novamente. Eu prometo.

E foi assim que confessei ao vento os meus desejos mais secretos. Para assim poder exorcizar de mim todos os demônios. Jurei encontrar o sentimento que havia fugido de mim naquela tarde de ontem: o amor.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pobre coração

Até onde eu lembrava, eu tinha um coração. Foram tantas as pancadas nesse pedaço de músculo que eu desisti de tentar reanimá-lo. Eu sentia-o bater, mas nada muito forte. Sempre naquele seu compasso fraco e esmaecido. Vivia com meu corpo em atividade, não dava para parar. Mas, ele... ele continuava calado. Bombeava somente o necessário para que eu vivesse. Não me transmitia mais aquela energia que eu tanto apreciava. Não! Ele vivia, agora, por viver. Amargurado por todo o sofrimento vivido. Todas aquelas frustrações, um dia, teriam um efeito. Não tardou a chegar. Foi devastador no princípio. Eu, sinceramente, não achei que ele fosse aguentar. Aconteceu muita coisa de uma vez só. Não havia dó, nem piedade. O tempo também não ajudava. Era decepção e amargura, uma atrás da outra. Sem intervalo. Foi uma grande barra o que passamos sozinhos.

Tentei falar com ele, mas ele sempre estava calado. Há meses não ouço a sua voz. Quando ouvia, muito raramente, era algum sentimento por alguém que voltava. Ai, ai... juro que tentei ajudar. Não sabia exatamente o que fazer, mas tentei mesmo assim. Quando ele ainda me ouvia, eu dizia: ‘cara, não se apaixone. Vai por mim, isso dói!’ Ele só respondia com um: ‘humpf’. Eu fiz a minha parte. Tentava distraí-lo com o máximo de ocupações possíveis. Lia, escrevia, passeava, cantava, me divertia (até onde conseguia), lutava para satisfazê-lo. Por fim, não conseguia. Não era justo comigo, não era justo com ele. Estávamos juntos nessa. Não havia saída para nenhum dos dois se não saíssemos juntos. Quando eu estava quase conseguindo me voltar para mim mesmo, ele se apaixonava novamente. Aquilo me irritou e confesso que ficamos brigados por um tempo. Ele aqui dentro, eu do lado de fora. Sempre perto um do outro. Mesmo assim, distantes...

O tempo sempre se arrasta quando se está sofrendo. Tenho uma vasta experiência nisso. Podem acreditar. Mas quem se importa, não é mesmo? Nunca se está por dentro de quem está sofrendo. Não dá para entender. Nem o queiram. O negócio é continuar vivendo, certo? Explica isso para o meu coração. Cansado de sofrer... então foi assim que eu continuei vivendo, quer dizer, me arrastando na vida. Nos falamos muito raramente. Eu quando quero mostrar alguma coisa nova, como uma nova meditação, ou uma nova emoção. Já ele, só fala comigo se for para falar de alguém que se encantou. Eu tento acalmá-lo, mas ele já sai fazendo planos. Imaginando como seria o futuro ao lado de tão bela presença. Sempre digo: ‘vai com calma, dê tempo ao tempo...’ Ele pouco se importa com o que eu digo. Parece que é movido à ansiedade. Nada o faz parar, exceto é claro, a queda.

Como é duro vê-lo ali, encolhido, soluçando baixinho. Seus caquinhos jogados para todos os lados. Passei um dia inteiro olhando para ele, tentando encontrar algo para dizer. Prometi a ele que não o deixaria sofrer mais, no entanto, como posso impedi-lo de sofrer novamente? Na verdade, acho que sou como ele, bem lá no fundo. Meu exterior demonstra despreocupação aos sentimentos, mas por dentro, somos apenas um. Se ele está feliz eu também estou, mas como ele vive tristonho e desamparado... não dá para deixar meu grande amigo assim. Tomo suas dores, como se fossem minhas, e dividiremos juntos esse infindável fardo... pobre coração...

sábado, 13 de novembro de 2010

Sobre meu pai

Sempre gostei muito de escrever e nunca me faltou assunto. Meus projetos literários são vastos. Realmente não vejo um fim para as coisas que pretendo escrever. Embora isso tudo seja de muita valia pra mim e, muito importante para os cursos que devo seguir, uma vontade em mim não se cala. Uma vontade não, uma necessidade. De todos os assuntos que pretendo escrever, um que não para de me atormentar, é escrever sobre meu pai. Não acho, contudo, necessário explicar o por quê dessa vontade. Os que me conhecem, mesmo os que não, sabem que muitos dos meus ensinamentos vieram dele. Não quero aqui desmerecer minha mãe, a quem infinitos agradecimentos devo. Se não fosse o empenho dessa mulher em me educar, jamais teria aprendido a respeitar o outro. Jamais teria aprendido a ser educado. Jamais teria chegado até aqui. O fato de eu querer falar sobre meu pai jamais excluirá a necessidade de escrever também sobre minha mãe. Não dá para separar o que sempre esteve junto por todo meu desenvolvimento.

A necessidade, necessidade não; obrigação! de escrever sobre meu pai veio se intensificando com o passar do tempo. Meu pai já está com setenta anos hoje. Suas percepções e recordações estão cada vez mais falhas. O tempo que possuo para resgatar tudo o que puder dele está se esgotando. E a oportunidade que tenho em minhas mãos, de tê-lo aqui presente em minha cidade, é mais do que um presente. Não posso desperdiçar um momento assim tão glorioso. O que eu vou contar para meus filhos, quando esses me perguntarem do avô, se eu mal me lembro de algo do meu próprio avô? Essas lacunas estão jogadas as traças há anos. Não posso mais ser tão relapso. Preciso produzir, o quanto antes, o pouco que resta da memória da minha família. Da minha memória...

Sei que não estou em posição privilegiada, mas também não estou sem nada. Meu pai escreveu uma espécie de diário durante muito tempo de sua vida. São mais de dez agendas, repletas de informações sobre seus dias. Mas isso tudo é ainda muito pouco. Esses diários foram escritos em sua fase adulta, quando já era casado com minha mãe e quando já tinha todos os filhos (ou uma boa parte deles). E não é só isso. Tenho conversado com meu pai e achei a introdução perfeita para a sua biografia. Uma lembrança. A que ele afirma ser a mais antiga que pôde se recordar e, que tanto marcou sua infância. Achei magnífica a forma como ele relatou, em detalhes, todo aquele minuto de seu passado mais remoto. Refletindo agora sobre seu relato, percebo que mais uma coisa devo a ele: entendi de onde veio essa minha vontade de explorar detalhes de todas as informações. Obrigado pai.

Bom, esse texto é mais um lembrete do que um texto em si. Além de uma singela homenagem ao homem dos homens – para mim. É a forma de externar minha nova missão. De todos os relatos verdadeiros de minha vida, de toda a ficção que transborda de meu cérebro, de todas as homenagens que tenho a obrigação de prestar; dentre elas: as pessoas que fazem parte de meus dias, meus amigos, meus amores, minhas alegrias e tristezas; dos animais, a quem eu tanto devo... de tudo isso!, o mais importante, e imediato, é escrever sobre o homem pai. Aquele que, mesmo transbordado de defeitos e fraquezas (assim como eu), ensinou-me a ser gente. Se hoje estou aqui, indestrutível perante todas as porradas dessa vida, é porque o senhor me ensinou a continuar vivendo e sobrevivendo. Lembro ainda do que ele sempre me diz nessas horas: “o maior come o menor” uma espécie de: “o que não nos mata, nos torna mais fortes”. Amo você, pai. A sua benção.

Um dia

O que poderia eu dizer e fazer para me livrar de todas as amarras da produção? Ser criativo não tem me bastado. Ultimamente, minha cabeça fica abarrotada de coisas para serem escritas e eu não consigo dar vazão a todas elas. Parei, pensei e verifiquei. Perdia tempo demais com muitas outras coisas... tais como; perder o foco por bobagens, me desviar do caminho certo que tanto me conduzia a algum lugar, me deixar levar pelo ego, ouvir muitas pessoas, deixar de ouvir as pessoas, não prezar pelo silêncio e a solidão, buscar demais a companhia do outro (a), deixar de ter a companhia certa (que nunca há de vir), deixar de fazer quando já devia ter feito, me deixar levar, me deixar ficar, me deixar sentir preguiça, não deixar! Maldito seja os meios de comunicação que tanto atrapalham. Fingem estar ajudando mas, na verdade, estão te dizendo que você não é nada sem eles. Te viciam. Te destroem. Consomem seu tempo e seu potencial. Tenho muito a agradecer, mas muito a questionar.

Mas sozinho, no fundo, sempre estarei. Mesmo que acompanhado de tudo e de todos. Como em vários dos meus contos. Como em minha vida real. Mas é assim que devo ser. E isso, de fato, é muito bom. Bom para mim, para meu desenvolvimento. Estar só, tem que ser a todo o momento. Para ter tempo de refletir e curtir o que se é provado. Cada teste e cada desafio, mais um entre tantos num único dia. Valeu a luta e vai valer a batalha. Aquele que mais aguentar é quem vai ganhar a guerra.

Isolo-me na tentativa de abraçar, com ardor e clamor, meu destino, aquele que eu sempre sonhei, que um dia terei.

Só, mas não vazio. Cheio, mas paciente. Feliz, mas não contente. Com conhecimento, me enchendo de sabedoria. Lutando e lutando, bravamente, todo santo dia!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sementes plantadas

...porque eu já plantei sementes! Muitas e muitas delas. Ouço o burburinho de suas manifestações. Cada sementinha que um dia não passava de um pensamento. Cada ato e palavra que se transformou numa bela rosa, mas cheia de espinhos...

Plantar é muito difícil! Não resta dúvidas, mas... colher é sempre uma tarefa mais árdua. Quem planta sempre colhe. Quem não planta também. Não dá pra lutar contra a semeadura...

Um dia, vou olhar para trás (olho sempre) e vou perceber que o tempo passou... vou mergulhar no meu íntimo e perceber que, mesmo aprendendo, eu ainda não sou quem eu gostaria de ser... vendo isso, eu direi: ainda não acabou, ainda posso lutar por tudo que quero ser. (plantar e colher)

Então imediatamente outra semente cai ao solo dos sonhos e desejos. Saberá ela se viverá ou morrerá? Nem mesmo seu semeador pode dizer. Nem mesmo... seja Ele quem for. Dado o ponto em que tudo se completou; foi de lá que veio o esplendor. Sei ao certo o que preciso saber e ser?

O que substancia o colher? O que da razão ao viver? Quem foi que disse o contrário do que estava escrito? Palpar a terra e ver o quão fundo se pode penetrá-la. O vigor aflora o desejo de se colher.

Não temo a colheita, mas não sei lidar corretamente com ela... não ainda. Quais são as arestas que devo aparar? Como podar as folhas de maneira a ver tudo mais verde? Olhar o que plantei e ver crescer, mas sem ter medo de ser engolido por isso.

O ponto do retorno nasce e vem... e quando chega, atinge sem dó. Tanto para o bem quanto para o mal. E aí, chega a sua melhor lição. O que você plantou, está contra ou a seu favor? A resposta, a melhor delas, seria: todas as colheitas são lições. E todas, depois que se aprende a entendê-las, são favoráveis. Torne o seu jardim, o seu pomar, no seu grande latifúndio de aprendizados.

Não sentir a dor dos espinhos é como ignorar a dor de se colher; pois, quando se colhe, se recolhe do criador a vida e o esplendor... saiba usar o amor para reparar a dor.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Confissões chuvosas

Passei um lindo dia de chuva em casa! E o que foi que aconteceu? Muita coisa. Nada externo, claro. Exceto os vários banhos de chuva pra ir atender a porta. O recanto de minha morada é bem aconchegante nos dias de chuva. Tirando a zona canina, é lógico. E ficando aqui em casa percebi uma coisa muito agradável: amo chuva. Tá, eu já falei isso pra todo mundo. Mas acho que o meu blog não sabia disso ainda! (rs) Então, viver sob chuva é uma das minhas maiores felicidades. É claro que, vez ou outra, eu quero saber de sol, (muito raro) mas em suma, chuva é o que há!

No decorrer do dia de hoje, como eu disse, muita coisa aconteceu. Primeiro um quase bom sono. (O que pra mim significa muito, mesmo sendo quase nada) Depois uma série de preguiças em meio a, conversas no MSN, escrever textos, vagar na Internet, assistir seriados, comer bobagens, cuidar de bichos, organizar bagunças, deitar, digitar, sentar, ler, escrever... ; eu pude por fim descobrir que, além de chuva, eu gosto é de estar à toa quando tem uma! Louvado seja o dia chuvoso.

Bom, ler quando tem chuva é perfeito. Magistral. Se eu pudesse fazer chover quando eu fosse ler, seria perfeito, porque, esperar chover para ler é muito triste... Escrever em dia de chuva também é muito bom, para não dizer excelente. Espero não perder nenhum dia, desses lindos dias nublados. Escrever debaixo de chuva é tão bom quanto dormir sob ela.

Ainda não sei se é o cheiro da terra molhada (mofo, no caso da minha casa! rs) ou se é o tamborilar das gotas no telhado, o que mais me atrai. O fato é que dias assim são realmente especiais. Chuva é uma coisa que faz acentuar o sentimento. Se você estiver feliz, nem mesmo a chuva vai te deixar pra baixo; se sentirá renovado com o lavar das águas. Se estiver triste, o sentimento será intensificado por essa impressão de eterno entardecer. Para os que vivem a vida, a chuva trás consigo um grande renovar. E, para todo o sempre, a chuva há de nos mostrar os novos caminhos...

Muitas outras coisas bacanas podem ser feitas em dias de chuva... mas creio não ser conveniente falar disso aqui. (rs) Mas então o que fica de bom de um dia desses, é a vontade de tornar a ter mais dias assim. Cada pingo retumbante que ecoa no meu telhado é uma memória que ressurge. Percebi, então, que uma gota pode trazer uma lembrança. E que, num dia de chuva, como hoje, posso ter uma reminiscência de toda uma vida. Agradeço então a toda a força misteriosa que rege o universo; agradeço também à nossa grande mãe, a Natureza, por tudo o que há de bom. Como dizia a música: “chove chuva, chove sem parar...”

Este texto foi começado no sábado último, e só hoje eu decidi terminá-lo e colocá-lo aqui. Aproveitando mais um dia de preguiça e de chuva. A perfeita ocasião para o devido retorno.

sábado, 6 de novembro de 2010

Sobre a vida

Começava a sentir o frio da noite... já era noite? Nem havia me dado conta. Surpreendi-me com os fatos. Deixei estar... não havia mais muito tempo, não é mesmo? Ouvia o coração pular sofridamente dentro do meu peito. Seu trabalho descompassado já era comum havia algum tempo, mas hoje, eu sabia que estava no fim...

Não quis me sentar como outrora fazia nessa situação. Espera! Nunca havia estado em situação similar. Mesmo assim não me sentei. Escorei-me na pilastra central do lugar. Ouvia o gotejar que saía de mim. Sentia a vida escorrer-me pelas feridas. Não dava tempo de tentar mais nada. Sabia que aquele lugar seria meu túmulo. Nada de flashes do passado, nada de coisa nenhuma. Onde estaria a tal luz? Sorri comigo mesmo ao pensar na luz... mesmo a beira da morte aquilo me soou cômico. Tossi um sorriso. Doído, mas um sorriso. Alguém falou-me:

— Consegues rir numa situação como essa? – perguntou-me a voz.

Não consegui responder de imediato, sentia o sangue a me tapar as vias respiratórias. Engasguei-me com a tentativa e tossi alto e dolorosamente. O sangue espirrou na pilastra à minha frente. Ouvi o som de passos se aproximando. O caminhar cessou. Estava ao meu lado. A voz rouca e grave ressoou em meus ouvidos por mais uma vez:

— Do quê estavas rindo? – insistia a voz em saber da minha graça.

— Eu ria... ria da morte... de uma certa forma – expliquei-lhe cansado.

— Aposto que ela também riria de ti – disse firme.

— Não duvido! E sinta-se à vontade para rir também – disse eu, com desdém.

Ouvi uma risada abafada. Nem me esforcei em ver nada. Minha vista já estava praticamente escurecida havia algum tempo. Tomava ar como se tivesse acabado de subir uma montanha. Tudo doía muito e era muito difícil. Não resistia, deixava ser. Permitia-me partir. Não contestava, não reclamava. Eu estava certo de que não mais ficaria ali...

— Por que não sentas, meu caro? – perguntou-me a voz – Parece-me esgotado.

— Não quero descansar nos meus últimos minutos de vida – praguejei.

— Tu és um daqueles que acredita em descansar após a morte?

— Não acredito na morte – pausei buscando ar – ninguém vai para lugar algum quando morre.

— Daria tua vida por essa crença? – perguntou-me irônica, a voz.

Sorri mais uma vez dolorosamente. O sangue, o que ainda restava dentro de mim, escorria-me nos cantos da boca. Meu corpo todo latejava. Mal me sustentava de pé. Só conseguia permanecer alí, escorado e em pé, por teimosia mesmo.

— Sabe... eu daria minha vida por qualquer coisa. Sei que não existe a imortalidade da alma... sei que não vou para lugar algum... e principalmente, que não vou durar mais nada... só uma coisa me consola: o fim.

O dono da voz começou a caminhar novamente. Circulava-me, lentamente, assim como meu tempo se escoava. Ouvia-lhe os passos, nada mais que isso. Eram pesados. Por fim parou e disse:

— Muitos são tolos, muitos são idiotas... mas tu... tu não mereces o descanso, o fim. E terá de mim, o tempo necessário para mudar teus pensamentos. Viverás até que eu decida que devas partir. Uma vez a cada sete dias eu voltarei para que tu me convenças de que mudaste teus conceitos. Quando acreditares em mim, dar-te-ei a paz. Enquanto isso, sofra a dor da morte, vivo, como estás agora.

E tendo dito isso, partiu. E toda aquela angustia e sofrimento, perpetuaram-se para quase todo o sempre. Até o dia em que eu, finalmente, aceitei a verdade... mas isso é uma outra história.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Princípio da Imprecisão

Nada concreto, nada certo.
O princípio de tudo está na imprecisão.
Incauto e distraído, segui você por instinto
Conhecia a tua e não mais que isso
Nada previsto, nada certo.
Continuei o meu caminho
Vendo-te distante, ao longe.

Nada supus, nada confirmei.
Segui adiante somente naquele instante
Duvidoso de que tudo chegasse a algum lugar.
Saboreei o que não tinha
Imaginei o que um dia viria...
Seria você quem eu gostaria?

Tratei de apagar o desejo,
Controlar o meu ensejo
Audacioso o meu segredo.
Controlei-me e deti-me por completo.
Mesmo irrequieto, ansioso por um contato
Pensei feliz de um dia vê-la do meu lado.

Caprichei em palavras e movimentos
Na incerteza de alguns complementos.
Senti-me tranquilo quanto àquele momento
Sabia que um dia completaria o restante
Do impreciso carinho que obtuso previa
De uma tarde fatigante.

Supus que mais nada havia de fazer,
Senão observar você.
Cálida, quieta e lindamente encantadora
Traquinei outras possibilidades
Outras tentativas por outras vias
Nada disso havia em meio às estripulias

Sentei, observei e me calei.
Como podia tão doce menina
Com ares de mulher,
Saber o que queria?
Não palpitei, nem sequer optei.
Deixei que o tempo lhe dissesse onde ir e pra quem sorrir.

Nas minúcias de teus finos traços
De tuas delicadas formas
Trajes perfeitos de tua bela história.
Ouvir-te simples em mansa voz
Tuas belas notas e teus lindos gracejos.
Perdoe-me se ainda penso em ti

É válido e é tranquilo
Viajar para um mundo desprovido e destituído
Da improbabilidade da certeza.
Mas foi lá que encontrei a tua beleza
Um muro concreto de estórias
Coisas belas de se guardar na memória.

Singelos tempos de menina
Vários desenhos, longos abraços
Tempo que não volta, mas que concorda
Em tua alma pequenina, lá se vai bela menina
A contemplar a todo instante
O brinquedo que outrora doravante, havia deixado de lado

Se por isso me encanta, os teus desejos,
Só posso prever que nada é exatamente certo
Que o impreciso irá assolar os nossos caminhos
Que mesmo de tarde, ainda sozinho
Pretendo um dia estar em frente, ao que penso,
Ser um bom grado de felicidade

E em plena flor da idade,
Não madura e nem infantil.
Navegando em águas sutis
Feliz. Vai ela menina,
Passeando sem direção em busca de emoção,
A lugares indizíveis, improváveis e intangíveis.

Um coração, é um lugar
Onde podemos estar
E podemos contar e confiar.
Saber escolher é difícil
E estamos sempre a beira do precipício
Quedados por solicitudes
Nos amiúdes da imprecisão
Mas com emoção decidimos que
Viver é só mais um risco
E é exatamente isso que eu preciso
Pra ser feliz em algum instante
Numa brecha de solidão, quando a emoção
Por fim se entregar e puder voltar a amar
Sem medo de me machucar.
Aí eu diria numa tarde fria
“Estou pronto para te conhecer”