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sábado, 31 de julho de 2010

Louco!

O dia vinha chegando, não, na verdade, o dia já se tinha ido. Louco varrido e desvairado, mal tive tempo de olhá-lo nos olhos, e que olhos eram estes. Todo louco tem um que de pirado. Não, todo doido tem um que de abstrato. Em que categoria me encaixo? Na de quebra-cabeças sem peças? Talvez. Quem se importa? Tranquilo foi o dia, mas que dia foi este? Não o vi, não me disse nada, passou e nem olhou pra trás. Sentei no chão das impossibilidades e caí deitado no colchão das improbabilidades. Calcei o pé esquerdo antes do direito. Putz! Errei! Era o pé direito no sapato esquerdo... ou era o contrário? Tanto faz, calculei mal o salto e não acertei a piscina. Caí de cara na poça da obsessão. Sorri com meus meios dentes. Penteei o meu único fio de cabelo do umbigo. Chorei com meu sorriso toda angústia feliz que eu sentia.

Cansado de tanto vaguear pelas terras da solidão, acompanhado de todos os meus anônimos amigos, decidi por fim parar numa pizzaria de inconveniências e pedi um leite com chocolate. Fui mal atendido por se tratar de um ogro palhaço, cujo nome não havia e nem também as galáxias de sua feiúra, trouxe-me uma paçoca explicando-me que ali era uma pizzaria de emoções e não uma charutaria de desejos. Sorri tristezas e agradeci o nunca que me foi servido.

Continuei o meu passeio até que a encontrei. Ela sorriu mais uma vez em seu poço de amargura e eu devolvi cortesmente a sua insanidade com uma piscadela de ombros. Levantei o meu chapéu púrpura e larguei ali o meu castiçal de estimação. Toquei em seus lábios com meus dedos e beijei a sua mão com meus lábios. Ela não mais me olhava, estava fascinada com o elegante nada que lá vinha pela rua abaixo. Chegou sorrindo sem os dentes e ela retribuiu-lhe o encanto com um aceno de orelha. Ele a pegou nos braços ocultos e a beijou sugando-lhe para o vácuo profundo e esquecido. Fiquei uma fera, e voei para o seu pescoço com as minhas pernas. Acertei-lhe em cheio no âmago e o vi cuspir toda indulgência da carne. Tossiu alto e expeliu o invólucro xucro do desdém. Ri alto na cara de suas costas e pulei o universo em busca de felicidade. Rodei horrores naquele dia imenso de final de século. Não vi passar nem sequer um ônibus com destino ininterrupto de sobriedade. Fui caminhando mesmo, sabia onde morava o fim, era meu vizinho, sempre do outro lado da vida.

Já estava de noite de um dia que não mais sabia qual e pensei em ler alguma coisa antes que o sol se pusesse. Peguei o primeiro livro da estante de CD’s que eu vi e abri na última folha, estava muito escuro e pude ver claramente escrito em nenhuma das linhas: “você é louco!”

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A graça do humor

Que graça existe em ser engraçado?
Quem é que disse que ter graça é ser engraçado?
Não adianta ter graça se não se sentem engraçados
Não dá pra ser engraçado se você não ri da graça
O que é o humor pra quem não ri?
O que é um dia feliz pra quem só chora?
Pra onde vão as alegrias quando chegam as tristezas?
Se você não costuma sorrir, você é triste?
Se eu rio sempre, eu sou alegre?
Meu riso te incomoda?
Minha alegria te diverte?
Meu humor te inspira?
Você também quer rir o tempo todo?
Se incomoda de parar de ser triste, só um pouquinho, ta?
Ignore a sua dor, isso também passa.
Ausente-se do seu sofrimento,
Abandone a histeria e amargura de sua mente,
Se a dor não passar, finja que já passou...
Pra ajudar a passar, tente sorrir...
Tente até conseguir,
Se não conseguiu foi porque não tentou tudo o que podia.
Comece com um esboço de sorriso,
Alargue os cantos da boca em direção às orelhas.
Vá revelando os dentes e as covinhas,
Contraia as bochechas até que apareçam as suas rugas.
Muita ruga é sinal de muita alegria.
Se seu sorriso já está formado,
Passe para o balanço da barriga
É como um soluço, só que mais forte.
Balance a pança com o diafragma.
Faça uma, duas, três e quantas forem possíveis.
Utilize-se da voz, comece a gargalhar.
Uma bem alta, muito longa, com mais de dez “rá-rás”.
Aí está, se você tiver praticado direitinho,
Vai notar que não existe mais a dor.
Que tudo se perdeu num riso.
Que nada que não valia a pena ficou.
Seu riso é mais forte do que a dor,
Sorrir faz bem também pro amor.
Acorde e comece o dia, mas lembre-se:
Sorria, sorria, sorria...
Se for sentir a dor ou qualquer coisa que for,
Sorria, gargalhe, sorria...
Se mesmo assim a dor não for,
Não te falta amor, te falta humor...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Caminhei...

Caminhei, andei, passo a passo eu respirei
A musica tocava, embalando meu andar
Sentia uma vontade súbita de nada fazer
Assim o fiz, ou quase, pois caminhava

Prorroguei meu pensamento, um acalento
Mesmo assim ele veio, me invadiu de você
Saudades senti, mas dor não vivi
Gosto de gostar de você e não doer

Os anos se vão assim como meus passos
O caminho vai encurtando, o local chegando
A noite vem vindo e o sol se esvaindo
Não demorou, nem vi o tempo que passou

Cantarolei algumas frases, viajei no caos
Lutei, insisti, mas aceitei.
Não mais briguei, andei, andei.
Sorri sozinho pelo caminho, o vazio

Não estava fúnebre nem funesto
Andava ausente de companhia
Ausente da companhia de andar
Não cansei, não me desgastei, nem sequer suei

Gostei quando cheguei, não mais do quanto eu caminhei
Pensei, repensei, olhei, me virei e voltei
Caminhei, caminhei, caminhei
Só meus passos eu não contei...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Problemas!!!

O que há de errado com o mundo? O que impede as pessoas de se conhecerem? Imagino que a onda do momento, que é sensação em todos os lugares, que está bombando atualmente, é a necessidade de se sentir triste e amargurado, vazio talvez. Não vejo as pessoas fugindo deste tipo de sentimento. Confirmam suas vulnerabilidades e fraquezas e assumem com o maior orgulho o que são. O máximo que podem ver, com seus olhos doloridos e acostumados aos dissabores da vida, é um mero reconhecimento de suas prisões. Eles dizem “eu sei que eu sou assim”, seria muito bom se a frase terminasse aqui, mas vem acompanhada de um “as pessoas têm que me aceitar como eu sou”... Para! Isso não é uma verdade. Assumimos diferentes personalidades e diferentes tipos de máscaras diante dos mais variados tipos de pessoas e dos mais variados tipos de situação. Você não é o que você está sendo neste momento. Não, isso é só uma impressão do seu verdadeiro eu. Calma lá, eu explico; as pessoas são meras manifestações de sua realidade, são reflexos da sua mente, da sua vontade. Somos o que pensamos ser, nada mais. “Eu sou tímida” “eu sou feio” “eu sou linda” “eu sou explosiva” “eu sou deprimido”, eu, eu, eu, eu! Chega de “eus”, basta! Isso cansa, e você acha que alguém tem que te aceitar como você é??? Olha a complexidade do mundo, olha o inferno que causamos com os nossos amaldiçoados egos, estão vendo? Alguém aí pensa que é legal e que arrasa dizendo que é um coitadinho? Se você pensa assim, saiba que se alguém te aguentar por mais de um ano, essa pessoa merecerá ser canonizada. Ser atraente para o mundo não é ser uma pessoa lotada de falhas. Ótimo, todos temos defeitos, mas, se liga!, eu não quero ver todos os seus. Nem quero que você veja alguns dos meus. Se eu reconhecer um dos meus defeitos, farei de tudo para melhorá-lo e não obrigar a um de vocês me aceitarem como eu sou. Quero exaltar minhas qualidades, quero que as pessoas gostem de mim pelo que eu tenho de melhor, pelo que eu conquistei com o aprofundamento de meu ser e com muito esforço. Chega de dodóis, chega de birra! Caramba, se acalmem, nada do que vivem é o fim do mundo, e se fosse, é só aceitar e não ficar fazendo pirraça dizendo que não quer ir. Porra!

Abram os olhos então! Eu fico revoltado com coisas assim, isso me enfurece, me tira do sério, me faz sair do eixo, me arrasa, me afasta do caminho da paz. Daí penso, “mas a busca é só minha”... eu sei, eu entendo, eu me deixo levar. Tenho que parar de querer arrastar pessoas para a minha causa, se eu continuar a fazer isso, serei mais um. Daqueles chatos que ficam tentando converter as pessoas, os que juram que o que eles vivem é melhor do que qualquer outra coisa que você possa um dia sequer ter vivido ou viver. Eu sou eu e ninguém vai ser por mim. Calo-me então, aceito. Abaixo minha cabeça e volto para o meu lugar. Concentro em mim de novo e afasto todos os pensamentos, sejam bons ou ruins, e volto a presenciar o momento, o instante. Aquilo que eu tanto leio, escrevo e comento com todos à minha volta. Já percebi que este meu caminho tem que ser agora silencioso. Perdi muito tempo tentando divulgá-lo na inútil esperança de encontrar alguém que pensasse similarmente igual a mim. Em vão, claro. Não é aqui que eu vou conseguir alguma coisa. O que mais eu ouço, como dizia no início do texto, para a resposta de “como vai?”, é um “não muito bem” ou “mais ou menos”, isso pra tentar escrever algo otimista aqui. Todo mundo tem um problema! (gostou, amiga blogueira) Não! Ninguém tem! E até que eu suporte as dores do universo, vou fingir que eu também tenho. Aceitarei o que vocês amam dizer e vou assumir que também sou assim. (um loser) Vou parar de viver no meu mundo mágico onde as coisas são perfeitas e os pássaros cantam. (agora você gostou) Não estranhem se eu nunca falar sobre os “meus” problemas, ok? Lembrem-se: estarei fingindo.

Bom, lamentável. Queria ter um melhor argumento para massacrar as pessoas isoladas em seus mundos de imperfeições, mas estaria sendo hipócrita, estaria agindo contra o que eu penso. Concluo, depois de tanto bater de frente com o mundo, que o melhor mesmo é que aceitar os problemas dos outros. (Já que os meus eles tomaram pra si) É melhor deixá-los pra lá, com as suas reclamações, lamentações, angústias, tristezas, falsas alegrias, felicidades momentâneas e todo o resto que vocês tanto adoram. Vida longa à ignorância e ao apego!!! Sofram o que devem sofrer. Não que eu não sofra, embora sofra somente para me livrar disto, mas é uma luta saudável. (e não é um problema, isso se chama oportunidade) O que quer que seja, será. Mais uma vez deparei com a minha síndrome de ajudar o mundo. Não sou bom o bastante para isso. Aceitarei simplesmente a opinião alheia como a mais pura e verdadeira. Sim! Vocês têm razão. Pronto, resolvi qualquer tipo de discussão com o mundo para os próximos anos da minha vida.

Veja, isso não é uma revolta (é sim), é só uma forma de gritar “ei!!!! Não existe problema!!! É você que fode com a sua vida!!!”. Mas se por ventura você me ouvir gritando isso, não acredite não, eu só estarei praticando para conseguir um papel numa peça de teatro. Viu?, tranquilo, na paz, de boa!, sem briga. Se você ainda assim quiser chegar me contando que alguma coisa é problema, eu te ouço, confirmo tudo, assino embaixo, e ainda dou aquela suspirada dramática, dando um tapinha nas suas costas e acrescentando a seguinte frase: “é... é foda mesmo!!!”

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A lá Bukowski

Quantas são as vaginas?
Algumas, nem poucas, nem muitas.
Já reparou que muitas delas possuem características marcantes?
Algumas são doces, quentes, molhadas, apertadinhas e aconchegantes.
E as outras todas?
Muitas são largas, fedem, são mal lavadas, gosmentas...
O que pesa mesmo é o fedor. É duro de se agüentar.

Começou nuns dias pra trás, experimentei uma e...
Não gostei, estava de difícil acesso,
Sem contar que fedia muito,
Impressionantemente seu odor espalhou-se por todo meu corpo
Só num banho pra poder tirar toda a inhaca
Gelado se me lembro bem, com muito sabão
Frustrante dia, por que não dizer, noite.

Outra veio no dia seguinte
Essa, era virgem, selada, não rompida...
Assim continuou, não a toquei sequer
Imaginei e pude senti-la em meus pensamentos.
Muito a desejei, pouco a molestei
Segurei-me e contentei-me com as outras partes daquele corpo
Talvez venha a experimentá-la.

No mesmo dia, outra apareceu.
Vagina mulher, não garota.
Muito a toquei,
Por mais que a desejasse não passei de sua vestimenta.
Úmida a deixei, desejosa de meus encantos
Cheirosa! Disso tenho certeza,
Senti seu perfume pelo líquido perfumado em meus dedos.

Outro dia veio e outra vagina me visitou
Desta vez uma conhecida, sabia de seus encantos
Surpresa me pegou, seus piores atributos eu encarei.
Catinga dos infernos foi o que cheirei
Além de sangue de uma pós-menstruação.
Valeu-me o orgasmo
Mas de longe tenho orgulho deste.

Veio o quarto dia e então a melhor.
Outra conhecida, também vagina mulher.
Que mulher, muito boa de cama e com bons atributos.
Boa vagina, bem asseada e cheirosa.
Valia o encanto e as gozadas,
Senti-lhe o sexo, mesmo que sangrada...
Vale o regresso, vale a investida, boa companhia.

O quinto dia veio, o último...
Veio assim, vazio e sem vagina.
Não que eu quisesse, esta me deu o bolo.
Satisfeito não fiquei, pois esta também conheço...
Vagina moça, boa vagina, apertada, rasa, linda e limpinha.
Bom cheiro, boa safra... das mais novinhas.
Não me queixo, pois nada me sobrou dos quatro dias... nada nem porra nenhuma

Cadê o tempo?

O que falar, o que dizer quando nada se sabe, nada se entende, tudo se imagina, tudo se supõe? Quem somos nós? (não, não é um plágio) Vejo os dias passando e às vezes vejo o tanto de tempo que perdemos sem ao menos termos notado. Conversava com um amigo hoje pelo telefone e discutia; “percebeu que ontem era domingo?” foi o que eu disse a ele quando não tinha entendido pra onde tinham ido as horas. Estou deslocado (perdido seria uma melhor palavra) no tempo. Tenho mais atenção no presente, no instante, do que antigamente, mas mesmo assim não vejo o tempo passar. Cadê ele? É sério, não é uma loucura da minha cabeça, vai falar que você não percebe o quanto o mundo está mais acelerado? Veja as coisas a sua volta. Tenho memórias frescas do início do ano, do início do meu período letivo da faculdade, do início do carnaval (inferno), do início do ano, mas cadê o início? Já foi! Ontem era o início do ano e agora já estamos no seu fim, não é mesmo? Eu não vi passar, você viu? Meu aniversário é um pouco depois do meio do ano e até ele já passou. Impressionante! Inacreditável! Minha idade está aumentando sem meu consentimento. Estou sendo estuprado pelo tempo. Caramba! Até que dia eu ainda vou poder refletir sobre o tempo? Estou com medo de um dia pensar em escrever algo sobre ele, como agora, e quando eu começar... cair morto em seguida. Será que ele ainda nos deixará um pouco de si? Será que meus filhos (se é que um dia terei tempo de ter um) irão apreciá-lo? Pensando agora, tenho medo de um dia estar andando por aí e algum garoto vier se oferecer para me atravessar para o outro lado da rua. Pior: vai que o garoto é meu próprio filho que já vai ter nascido com dezoito anos.

Sei que não é viagem da minha cabeça e nem loucura. Eu sinto isso, se você não sente eu não tenho culpa. Talvez isso só aconteça com gente da minha geração, pois o tempo passa tão rápido que as pessoas que nascem agora já chegam desprovidas de noção temporal. Não consigo entender o mundo físico e deve ser por isso que eu esteja tão desesperado para fugir para outro plano. Para o mundo espiritual. Taí, desesperado... deve ser uma reação temporal. Não faço coisas com a maior calma ou paciência possível, tudo tem que ser correndo. Meu Deus! Estou me adaptando ao tempo sem ao menos saber que estava. Caracas! Pode ser pior do que isso... eu posso estar sofrendo os efeitos do tempo com maior intensidade por ser assim tão agitado. Socorro!!! É sério... é um pedido de ajuda. O mundo se esvai e eu nem estou tendo tempo para me encontrar. Meditar está mais para um conto de ficção do que para a realidade. Vai chegar o dia em que os meses serão os dias e os dias as horas. Veja, não fico aqui panguando, estou correndo atrás, mas de que? Será possível correr atrás do que já está perdido? Pena ainda não ter evoluído ainda para ser um ser atemporal. Outra descoberta, ser um ser atemporal talvez seja a resposta... ou não, vai saber. Saber também já está perigoso, até você conseguir transformar um conhecimento em sabedoria o mundo terá se acabado. Se é que o mundo já não acabou e eu estou vivendo apenas do seu passado. Hum... interessante. O presente é uma mera ilusão, cada instante já é passado, mas o tempo é tão rápido que daqui a pouco nem o futuro escapa. Talvez daqui uns dias já não se conjugue os verbos no futuro. E nessa onda toda vamos tentando escapar, dando um jeitinho aqui outro ali. Eu fico na minha onda, esta de continuar tentando ver o presente, o instante. É só eu parar de pensar e olhar pra trás... é isso! Eu só percebo o tempo quando olho para trás, resposta para as minhas frustrações temporais: olhar para baixo (presente), porque se eu olhar para trás (passado) eu verei tudo o que se passou de uma só vez, e se olhar para frente (futuro) eu verei o tempo vindo a toda, e na velocidade que ele vem provavelmente vai arrancar um pedaço de mim. Quer dizer, mais um pedaço...

O ônibus

Saí cansado de lá, não o suficiente, mas já quase sem energia nenhuma. Caminhei uns cem metros e fui para o ponto. Olhei o relógio: 23:55, ao que me lembrava, o ônibus sairia as 23:45, provavelmente já teria passado por ali onde eu estava. Mesmo assim resolvi esperar, esperei cerca de quase dez minutos e por fim concluí que o havia perdido. Pus-me a caminhar, comecei pelo morro em minha frente. Subi em trote, basicamente, uma corrida lenta. Meu fôlego só deu para metade da subida. Caminhei o restante não esquecendo de respirar com calma para estabelecer-me novamente. Cheguei ao topo, atravessei uma rua, um carro passou por mim e buzinou para outro que vinha, assustei-me. Cruzei a rua e dei mais uma corridinha. Cheguei a um grande cruzamento, olhei a minha volta e quase nenhuma viva’alma na rua. Era dia de semana, sem movimento, em férias a cidade morre praticamente. Um motoqueiro passou a toda, gritou alguma aporrinhação e eu nem sequer olhei. Estava concentrado, olhava em volta a espera do menor sinal do meu ônibus. Caminhei por outro quarteirão e dobrei a esquina. Avistei o outro ponto, ali eu teria mais opções, na verdade só mais uma além da que eu tinha. Passei por um ponto de táxi e nem cheguei a me lamentar por não poder pegá-lo. Olhei para trás pra vigiar o ônibus, nada. Um outro táxi vinha passando e diminuiu muito a sua velocidade, emparelhou comigo, como se eu o tivesse chamado. Não olhei e depois de uns poucos segundos ele se foi. Voltei a olhar pra trás, para os lados, para frente, pra cima e pra dentro do estacionamento escuro do super mercado e nada também. Passei por um ponto, que não era o meu, verifiquei os números dos ônibus que ali passavam, queria ter certeza de que não haveria possibilidade de erro. Olhei para o sujeito que ali estava esperando e ele nem me viu o olhar. Caminhei uns trinta metros e por fim cheguei ao meu ponto. Olhei a minha volta, olhei o relógio, mais de meia noite, alguns minutos apenas, verifiquei a minha segurança, sem temor, por precaução somente. Parei, olhei para o grande prédio abandonado, detrás do ponto, todo aberto sem janelas, apenas grades no primeiro andar. Estava sujo de lodo e limo, muita água escorria dele. Não estava chovendo. Abri o meu livro e comecei a lê-lo curioso, ganhei-o naquele dia mesmo, o autor era o Samuel Beckett e a obra era Molloy. Até então, nunca ouvira falar dele, mas ao ler a introdução fui me situando. É a estória de um mendigo que reencontra a mãe e não se lembra de quem é. Prestei atenção sobretudo à forma escrita. Na apresentação já existiam alguns pequenos trechos esmiuçados delo apresentador. Muitas partes eram fluxos de consciência, mas fiquei atento à construção das frases e seus sentidos. Tentava entender sua forma escrita, sempre pensando em minhas próprias criações. Não estava tão atento assim. Ficava com um olho no livro e outro na rua, toda vez que uma lotação vinha eu ficava a ler seu destino à distância. Muitas passavam menos a minha. Olhava para o outro lado e lá estava o viaduto vazio, vez ou outra alguém a atravessá-lo. Dois moleques passaram por mim, encarei-os de soslaio para não ser pego de surpresa. Viajem da minha cabeça, nada aconteceu. Os ônibus passavam, as paginas lidas também, o meu número nunca chegava, nenhum dos dois. Comecei a perceber a minha desatenção em ambas as coisas que fazia. Fechei o livro e comecei a praticar um chamado espiritual que me fora ensinado no domingo anterior. Pensei nas entidades divinas que poderiam me auxiliar a experimentar o mundo espiritual. Pensei numa, pensei noutra e fiquei ali meditando comigo mesmo. Uma brisa começou a soprar e as folhas secas no chão começaram a dançar. Olhei para trás e vi as folhas se aglutinando num montinho na calçada. Eu estava na rua, em frente ao ponto e este por sua vez em frente ao prédio abandonado. Pensei comigo, “se nada me acontece à luz do dia, que ao menos aconteça aqui no ermo da escuridão”, acrescentei a ressalva, “que seja de bem, é claro”. Nada acontecia, exceto as folhas a dançar com a brisa. Pensei na frase “não existem momentos comuns” e comecei a viajar nas possibilidades espirituais do instante. Pensei em “n” coisas mas minha imaginação não me permitia mais do que isso. Pensava comigo se estaria preparado para ver, ouvir ou sequer sentir uma presença espiritual. Chateei-me por ainda não ser um cara com este tipo de informação. Fiquei ali imaginando o tanto de coisas que eu duvidava e desacreditava e que, se eu tivesse a capacidade de presenciar um fato que fosse, isso bastaria para começar a pensar de uma outra maneira. Precisava de uma experiência assim pra começar a ampliar meus horizontes. Em fim, não sei quanto tempo ali fiquei, numas das vezes em que verifiquei o ônibus que vinha enxerguei o meu, não me senti aliviado, nem feliz. Acho até que me senti desprivilegiado por não ter tido mais tempo para um contato. Dei sinal. O motorista encostou o coletivo. Dei boa noite, paguei e me sentei depois de cruzar a roleta. Olhei as horas e percebi que já eram quase uma da manhã. Pus-me a ler novamente até chegar ao meu destino. Em pensar que uma volta pra casa podia me ser tão produtiva a ponto de escrever algo sobre isso. Muito desinteressante pra quem lê, mas muito tranquilo pra quem atua. Esperar um ônibus pode ser uma fonte de inspiração, uma experiência de autoconhecimento.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Por que não voar?

Por que não voar? Pergunto-me isso todos os dias, hoje, em especial, perguntei mais do que de costume. Durante uma conversa com meu amigo Tomás, na cantina da faculdade, debatemos por horas as coisas que são ou não possíveis aos seres humanos, tais como: voar. Ele defendeu arduamente que; se algum ser fosse capaz de voar, morreria logo em seguida por despender de muita energia, energia esta suficiente para acabar com a própria existência. Eu, por exemplo, prefiro acreditar que, se depender de energia para tal feito, mesmo sabendo que é exatamente disso que se precisa, além é claro de simplesmente se acreditar, esta energia não seria tão custosa a ponto de encerrar a vida. Temos uma energia limitada, que talvez se estenda para muito mais se por um acaso soubermos como aplicá-la, como mantê-la, como expandi-la ou mesmo conservá-la. Pois então, baseando-se em que tudo seja possível, bastando para isso o acreditar, elevar-se em um vôo é simples dentro dum contexto em que se possa ultrapassar as amarras do pensamento. Desde o sempre somos coibidos de executarmos o que queremos por regras impostas, seja pela sociedade, seja pela Igreja, seja pelo o que chamam de leis da natureza e principalmente, pelo nosso querer. Mas se somos parte desta natureza e vivemos em uma sociedade, herança religiosa desta Igreja, que a tudo controla e mantém, podemos também interagir e modificar algumas destas leis e regras. Usemos como base o livre arbítrio que a nos foi dado para usarmos da forma que quisermos. Adiciono a esta dádiva, o direito de sermos o que quisermos ser. Você nasceu com o poder de aceitar ou não os parâmetros da vida como ela é. Meramente uma questão de escolha. Como você se vê? Como você se concebe? O que acredita ou não? Você realmente está aqui, neste mundo a quem todos chamam de real? Mais uma vez me pergunto, e não me canso disso, o que vivemos é real? O que é a realidade? Como posso deixar de acreditar que voar então seja impossível? Não quero viver o resto da vida pensando que tudo será sempre limitado. Pra que pensar que não posso conseguir, se posso passar a vida aprendendo a fazer, tentando e talvez conseguindo? Posso chegar a sequer voar, mas a minha liberdade voa, minha vontade também. Concentro minha vida em todos os grandes ensinamentos dos grandes mestres. Não existe um grande ser que tenha falado pra você desistir de acreditar, de abandonar sua vontade. Ninguém disse: “sua vontade não vale de nada, pois nada é possível” e sim exatamente o contrário. Não quero que você acredite em mim, não quero fazer ninguém pensar como eu e, se eu um dia chegar a voar, pode deixar que eu também não vou contar pra você. Voar é só mais uma experiência, como comer, dormir, teleportar. Onde minha mente pode me levar? Onde quero ir com a força do pensamento? Onde é o limite de minhas crenças e até onde deixarei o mundo “real” tomar conta da minha vontade? Agora digo: se o céu é o limite, eu o ultrapassarei. “Voar, voar... subir, subir...”

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O que está no meio do caminho

“No meio do caminho tinha um teclado, tinha um teclado no meio do caminho”, entre tantas coisas que tentam impedir minhas “escrevelâncias”, o teclado se tornou mais uma. Teclas duras como o aço, retiram minha agilidade. Espaço agarrado, teclado manco, a letra “a” afundada, tudo para dificultar minha escrita... primeiro foi o “insert”, no meu desespero de acertar o “back space” com o dedo mínimo da mão direita, errava sempre a maldita tecla e acertava-o, fazendo assim com que eu estragasse a “empurrância” das letras ao corrigir algo no meio das palavras. Em seguida veio o amaldiçoado “F12”, que também ao tentar usar o mesmo “back space” apertava-o causando um salvamento indesejado no meio de uma criação. Bem de fato, agora pensando, talvez devesse ter arrancado o meu mindinho impreciso e não as coitadas das teclas. Bom, estes foram incômodos sanados, com as teclas arrancadas, acertar o “back space” ficou mais fácil. Estou pensando seriamente em retirar também a tecla “]”, além do “enter” esta é a única que ainda me atrapalha. Bom, mas vejam só, o coitadinho do teclado já apanhou tanto. No meio dos meus ataques de fúria, ele tomou tanta pancada e ainda sobreviveu, tinha é que aposentá-lo com menções honrosas. Minha última tristeza com ele, tirando o fato de estar sempre manco por causa da perninha de apoio que, subitamente e misteriosamente, desapareceu depois de um soco, é a coitadinha da letra “a”. Ah, pobrezinha... me faz uma falta! Devem estar se perguntando: como é que ele está digitando o “a”? Simples, desenvolvi uma força adicional em meu mínimo esquerdo, uma força adequada, nem muito forte nem muito fraca, o suficiente para que a letra saia sem dificuldades e não dispare, a ponto de ter que ser levantada com uma alavanca.

Assim fosse só isso... “no meio do caminho tinha um MSN, tinha um MSN no meio do caminho”, o que dizer sobre isso? Gosto de falar com muitas das pessoas que eu converso por lá, mas quando eu sismo de abrir o dito cujo antes de ter já escrito alguma coisa, aí já viu, né? Nossa, é de uma lentidão que dá até medo. Por exemplo: este texto mesmo é a prova concreta de minha ineficiência. Estou a escrevê-lo desde as dezenove horas e olhando agora para o relógio, vejo marcar trinta pra meia noite. Mas a injustiça não seja feita...

“No meio do caminho tinha um telefone, tinha um telefone no meio do caminho”, e assim se vai a lista de coisas no meio do caminho. São tantas e das mais variadas... um celular, um Orkut, alguns cães, alguns gatos, um livro, a campainha, a fome, a preguiça, outro livro, um seriado, um filme, o tédio, a distração, a inconstância, e todos os mais variados eticeteras. Assim sou eu, um ser cheio de coisas no caminho. As coisas vão aparecendo e eu as vou contornando. O glúteo já “aquadradado” pelas horas, o calor a incomodar, as mãos a doer, mas tudo não passa de um equívoco, o engano de achar que as coisas que estão no meu caminho, são intransponíveis. Nada pode me deter, nem o “no meio do caminho tinha um eu, tinha um eu no meio do caminho...”

terça-feira, 13 de julho de 2010

Apatia

Fiquei furioso com o tamanho da cena que esta me fazia, não falava nada com nada e nada a detinha de ficar fazendo finta. Cada palavra daquela era um absurdo, uma insanidade que se transferia a mim mediante a intensidade do meu tesão. Estava claro que nós dois padecíamos do mesmo mal, a vontade latente de estarmos um no outro. Talvez fosse a violência na carne, mesmo que representada por socos e pontapés, mas aqui no entanto, o mais provável era que eu a penetrasse fundo em seu âmago. Carne na carne, a minha carne na carne dela, o meu volume na cavidade dela. Gemia junto comigo, incontrolável como eu, ofegante, mas comedida por seus ancestrais dogmas. Refutou-me na primeira investida, ainda vestida de seus trajes. Ponderei-me controlando minha fúria bestificada, inspirei fundo não dando importância a suas estripulias. Queria domá-la, agarrá-la, imobilizá-la, subjugá-la, penetrá-la e cavalgá-la. Meus intentos sempre sendo atrapalhados por seus movimentos de fuga, de dissimulação. Não a perdoava, queria por que queria pô-la em coito. Nada me ajudava, nem a força, nem a insistência, nem a perseverança, o que mais me impedia, no entanto, de concretizar os meus desejos era a minha própria desaprovação. Não tolerava o seu “cu doce”, queria mostrar-lhe os dias felizes de uma vagina satisfeita. “Veja”, pensava eu, “está sentindo o prazer?”, era o que eu imaginava, se, já dentro dela. “Calma”, disse a mim mesmo, “tente mais uma vez”. Iniciei um novo processo já ciente da improbabilidade, não por causa da fêmea em questão, essa já havia sido domada em outras épocas, bastava a mim a tolerância de Jó e persistência que, naquele instante, não dispunha. Sabotei-me a nova investida, antes mesmo de apertar-lhe o botão de iniciar, localizado abaixo do seu clitóris, em sua cavidade que, tenho certeza, já estaria inundada a esperar-me o pênis ereto, não obstante, abandonei a tudo tomado de tamanha cólera e pus-me a praguejar injúrias, primeiro a mim mesmo, em seguida a culpar a dona da tão famigerada “perseguida”. Não dava conta ali, do que estava por vir. Antes tivesse resistido bravamente e inabalavelmente ao trágico frenesi. Devia pois, ter-lhe insistido até que tivesse, por exaustão, me dado o seu fruto, sua tão sagrada feminilidade bíblica. Pensando bem, ia-me exaurir antes que a exaurisse. Calamidade concluída, pusemos-nos a discutir e a digladiar em palavras e berros, estes últimos somente de minha pessoa. A contenda não tinha fim, não que ela não desistisse, se delongava por minha culpa, já havia me cansado de todo aquela verborragia desnecessária anterior ao ato, vinha à forra em descabimento de palavras chulas. O que ela almejava era uma conversa desprovida de sexo. Não estava apto a prosseguir numa discussão sem a necessária irrigação sanguínea do meu cérebro, todo meu sangue se alojava numa única função: “erecer”. Sempre fui adepto da conversa posterior. Quer um diálogo satisfatório? Trate de não botar-me de pronto. Se preparado já o estiver, desista e usufrua da trepada. Estou sendo vulgar? Perdoe-me de tais calúnias, um homem desprovido de sua ejaculação não é um homem sensato. Atente para tal ocasião em que estará a ler-me em muitas linhas e, com seus dedos a bolinar-se magistralmente, desejosa de penetração outrora abandonada por seus muitos chiliques. Masturbe-se, peque, abandone seus preconceitos, liberte-se para um grande dia de orgasmos... e se necessário for, me chame para penetrá-la.

domingo, 11 de julho de 2010

Inumano

Não sozinho ou desamparado, apenas isolado, como eu sempre gostara. Andava, andava sim, não como gostava à noite, nas ruas vazias, andava desta vez pela avenida, movimentada, no dia com o sol rachando. Os transeuntes iam e vinham em suas vidas agitadas, corridas e transtornadas. Isso muito me incomodava, me punia, me irritava. Tinha que ser justo hoje? Tinha que ser justo agora? Cada passo meu, em meio aos esbarrões dos pedestres, era um reencontro com o meu passado recente. Acordei hoje, como sempre acordaria em um dia comum, mas com um diferencial, uma peculiaridade. Além de ser um dia muito quente e acordar muito suado, acordei também com a minha insatisfação aflorada pelo dia do meu aniversário. Nunca gostei de aniversário, principalmente o meu. Não estava bom, eu sabia disso. Levantei, arranquei a blusa encharcada de suor e fui tomar um banho. Passando pelo corredor, em direção ao banheiro, cruzei com minha irmã, que sequer bom dia me deu. Normal. Ela sempre foi assim, mas daí pensei “é o meu aniversário, poxa”, e quem eu tentava enganar? Nem eu gostava daquilo, melhor mesmo que ela não me incomodasse. Bom, entrei debaixo do chuveiro, frio mesmo, procurando não me demorar muito. Sabia que o dia ia ser longo, queria ir para o mais longe que fosse possível. Já no meu quarto, eu vesti meu jeans surrado e uma camiseta qualquer, calcei meus tênis e saí do quarto. Já me preparando para sair vi minha mãe na cozinha preparando o café que ela tanta gostava de tomar de manhã cedo. Parei ali por um tempo e fiquei olhando-a em sua arte de preparar o melhor café, que até mesmo quem não gosta, assim como eu, iria apreciar. Saí sem fazer ruído, não levei dinheiro e nem celular. Queria, penso eu agora, sofrer o máximo que eu pudesse. Uma forma de punição. Andei a esmo, sem o menor destino, apenas queria andar. E assim o fiz. Andei e agora ando ainda. Vim pensando desde casa o que seria melhor pra um cara como eu, que sempre detestou tudo numa sociedade, ganhar de presente de aniversário. Eu detestava a sociedade de uma forma especial, de um jeito só meu, não me revoltava e fazia coisas tolas como me drogar e brigar, apenas desprezava qualquer tipo de contato com quem quer que fosse. Isolava-me, assim como agora, isolado e incomunicável com o mundo. Sabe, não queria o mal das pessoas, quer dizer, de algumas eu queria sim, mas no geral eu não queria. Só queria paz e sossego. Pois então, agora estou aqui sem rumo, sem direção, andando em uma linha reta que não sei onde vai dar, quase chegando ao centro de minha cidade. Uma grande cidade, demonstração de uma grande falha social, ao menos era assim que eu pensava. Olhei para um relógio, destes da prefeitura, marcava treze horas em ponto. Pois neste exato momento, não é que eu vejo algo que muito me chama a atenção, algo com que em primeira instância eu pensei, “só pode ser brincadeira”. Parei estático e fiquei olhando para aquilo. Parei de me achar grande ou qualquer coisa que alguém se ache quando vê o que eu vi e pensei comigo, “mera coincidência”. Já ia recomeçar a andar quando de repente eu li o que estava faltando para me deixar catatônico. Fiquei ali parado, estagnado, olhando para aquela placa que anunciava: “seu dia, seu aniversário, sua vida mudando, agora e aqui. Entre.” Até aí tudo bem, sem nada de mais, podia estar escrito em qualquer lugar que quer uma boa propaganda para cativar os tolos, mas o diferencial era o meu nome completo escrito na linha de baixo me chamando para entrar. Fiquei muito incrédulo, claro, inicialmente, mas quando reli a placa, para ter certeza de que tinha lido corretamente, eis que, ao terminar de ler exatamente tudo o que eu já tinha lido, vi acrescentado mais uma frase ao anuncio: “sua grande chance de mudar tudo aquilo que você odeia de uma vez por todas”. Eu sabia que aquilo não estava escrito ali naquele instante, sabia que aquilo estava escrito pintado e não em uma tela eletrônica que podia mudar o tempo todo. Fiquei embasbacado, desacreditado, não podia ser verdade. Olhei desconcertado para os lados, procurando nos rostos a minha volta, aquém que estivesse olhando para aquilo como eu estava. Ninguém se importava com aquilo que eu estava vendo, ao menos eu achava que eu estava vendo algo assim. Depois de alguns segundos de susto passei a sentir uma raiva, pensei “eles estão brincando comigo. Alguém quer me pregar uma no dia do meu aniversário”. Com este pensamento na cabeça, espremi os punhos e já bastante irado, decidi por entrar naquela porta no meio de tantas outras lojas. Olhei novamente para a placa bem do lado esquerdo da porta, esta era pequena em largura, mas grande como as outras portas de lojas. O lugar era um tanto exótico e muito estranho, pra começar não tinha ninguém querendo entrar no lugar, não havia uma vitrine, só aquela placa pintada escorada num dos cantos da porta. Pisei no degrau que a separava da calçada, senti o cheiro de naftalina no ar, adocicado talvez, como o de incenso queimando. Olhei para o fundo da loja, nada lá, olhei para os lados e só via as paredes lisas e sem enfeites, de um amarelo desbotado. Comecei a caminhar para o seu interior e nada percebia até que, mais ao fim da entrada, perto de uma curva para a direita, eu vi uma cortina que separava a frente da loja do fundo desta. Antes de transpassá-la porém, percebi que não estava sentindo mais nada, exceto apreensão. Olhei para a minha esquerda e pude ler uma placa com os dizeres “não demore, entre logo” em seguida uma seta apontando para a tal cortina. Respirei uma última vez profundamente e passei pelas cortinas puxando-as para os lados. Assustei novamente. A sala era mais escura do que eu imaginava, sua única iluminação era um abajur, destes com estrelinhas abertas em sua cobertura, que espalhava uma luz fraca. Pude ver de imediato, o que mais me deixou perturbado, um homem comum e sem maiores detalhes, exceto uma barba mal aparada. Ele vestia uma roupa leve em tons escuros, me encarava sem expressão por trás de uma mesa onde estava o abajur à sua direita, perto da parede. A mesa coberta com um pano verde escuro, muito similar a estes usados em mesa de jogos de baralho, aveludado. Por sobre ela nada além das mãos do homem, cruzadas, relaxadas. Não sabia o que pensar ou dizer, devo ter ficado parado ali olhando-o, não diretamente nos olhos, estava envergonhado acho, por uns três minutos. Por fim o estranho me disse:

- Sente-se por favor. – sua voz era rouca e forte, grave também. O que mais me incomodou foi o fato de eu não ter visto cadeira nenhuma à minha frente antes de ele ter estendido a mão apontando para ela.

Sentei-me puxando a cadeira, destas de ferro, de abrir e fechar, para perto da mesa. Senti-me hipnotizado pelo momento. Ri com o canto da boca, talvez uma defesa pra timidez, o fato era que eu fiquei me perguntando o que é que eu estava fazendo lá.

- Você deve estar se perguntando o que é que está fazendo aqui, não? – disse ele como que prevendo o que eu pensava.

Fiquei sem resposta, aturdido com a pergunta, mas ele prosseguiu por mim:

- É chato ser aniversariante e estar sempre insatisfeito, não? – meneei a cabeça em sinal de negativa, sem contudo dizer uma só palavra. Ele prosseguiu – Sua revolta não é diferente de muitas outras, a sociedade e o mundo estão mesmo perdidos, concordo, mas, contudo, não vejo muita gente tentando de fato acabar com isso. Pode ser que o que falte aqui seja um pouco de iniciativa, coisa que eu não acredito, mas o interessante é pensar: e se alguém pudesse mudar tudo, absolutamente tudo? Se tivesse poder para tudo mudar, essa pessoa de fato o faria?

Ele parou de falar e eu parei de olhá-lo nos olhos. Estava absorto em pensamentos, não pensava no que ele me dizia, nem deixava de fazê-lo, só estranhava todos aqueles acontecimentos, ali, num único dia, num único momento. Porém, não parei para questionar-me do absurdo daquilo.

- Então – começou ele – você aceita?

Não disse palavras, nem respondi com gestos, apenas fiquei parado esperando ele continuar como se ele tivesse apenas me feito uma pergunta redundante, mas não foi como eu imaginei.

- Então, eu disse, você aceita?
- O que? C-co-como? – gaguejei tentando recuperar o raciocínio – Aceita o que?
- Não é o que você mais deseja?
- Como assim? – comecei a ficar revoltado – do que você está falando?
- Vou esclarecer pra sua mente desatenta – disse ele me repreendendo – eu estou lhe oferecendo a chance de mudar toda a sua vida, tudo a sua volta, todas estas coisas que você odeia. Transformar o mundo em algo novo e melhor. E aí, você quer?

Estava atento, porém não via coerência no que ele me dizia. Não me deu tempo para pensar em mais nada e voltou a perguntar:

- Quer ou não quer? – fez uma cara de entediado.
- E como é que eu vou fazer isso?
- Isso faz parte do seu problema, o meu é dar-lhe condições para tal – e antes que eu pudesse perguntar outra coisa e completou repetitivamente – vai aceitar ou não?

Achei aquilo engraçado e respondi um “sim” sem pretensão alguma, só para ver o que o tal iria dizer. Pra minha surpresa ele se levantou de uma só vez, me estendeu a destra, e ficou com a mão a esperar a minha para um cumprimento. Sorri sem graça e me levantei já apertando-lhe a mão.

- Parabéns, faça bom uso do que lhe foi dado – disse ele sacudindo energicamente a minha mão.
- Como assim? O que é que você está me dando? – já ia lhe questionar sobre alguma brincadeirinha sem graça, mas ele me interrompeu.
- Lembre-se, você só terá as facilidades de já estar. Como aprender sobre suas capacidades vai depender do seu empenho e nada mais – disse sem soltar a minha mão e continuou – Todos os seres podem ser o que quiserem, é natural de suas existências, mas não o fazem por duvidarem cegamente de suas capacidades. Seus bloqueios foram retirados do seu cérebro, da sua mente, sua vontade está livre. Basta agir, com sabedoria é claro. Boa sorte – desejou ele soltando minha mão. Em seguida apontou para a saída e esperou minha reação com um sorriso no rosto.

Fiquei sem saber o que dizer. Confesso que estava para começar a me revoltar, mas me contive subitamente, sentia uma paz e uma calma momentâneas que me fizeram querer sair dali. Acenei um adeus e saí sem olhar para trás. Quando dei por mim já estava na calçada, no caos do dia a dia. Cocei a cabeça e olhei para trás e onde havia uma porta, de onde eu tinha saído, só restava um pôster colado em uma parede bem sólida. Espantei-me com a parede sem a porta, era muita maluquice. Ainda pensei um pouco antes de andar até a parede e dar alguns tapinhas na solidez de sua consistência, só então reparei que o que estava escrito no pôster desbotado e meio rasgado: “Aja. Boa prática.”

Continua...

terça-feira, 6 de julho de 2010

O abraço...

Tava lá, tava vazio, tava escuro...
Não, não tava não... meus olhos é que estavam fechados.

Olhei você no meio de toda sua confusão...
Confundi fundo o meu coração.

Pensei, ausentei e magoei...
Deixei-me ferir novamente numa ilusão.

Senti despedaçar o caminho que trilhei...
Vi que meu caminho nunca fora o seu.

Sentei, chorei, me torturei...
Tirei de mim o que conquistei e devolvi pra ninguém.

Vi o dia indo e semana também...
Não queria perder o pensamento em você.

A viagem chegou e você embarcou...
Arrasado tornei-me, meu abraço você deixou.

Queria tê-lo entregado pra levar consigo...
Por isso desesperei e me abalei.

Rascunhei, reformulei e até publiquei...
O ruim se foi, o vazio visitou, mas o coração se curou.

O vento te leva, mas é ele quem te trará de volta...
Volta! Quando vier o abraço estará aqui, onde deixou.

Veja o milagre do amor...
O abraço que ficou se multiplicou e todos eu lhe dou.

Até...

Altos e baixos

Ódio, ódio, ódio, só pensava nisso, nada mais me importava. Estava cansado e amargurado. Viver é sofrer, sofrer é uma escolha, mas mesmo não querendo, você acaba sofrendo por pura incompetência. Eu sei, eu sei, maldição! Eu sei! É tudo culpa minha. Eu é que sou o culpado, eu sei. Eu realmente sei. Mas mudar isso tudo, transformar todos estes pensamentos caóticos em boas atitudes, é um inferno de difícil, pra não dizer impossível... não! Não aceito isso, eu sei que eu posso, sei que é um momento, uma fase, um segundo de uma vida inteira... mas por que é que este segundo se arrasta e se transforma em minutos, horas e até mesmo dias? Calma, calma, calma... eu tenho que me controlar, sei que isso passa, é só mais uma merda de sentimento. O suor me desce da testa, minhas narinas estão dilatadas e estou ofegante. Minha pele coça com o meu nervosismo, minha cabeça também. Não acerto as palavras e até me irrito mais. Para, para, para... eu hei de conseguir... ou não... não! Não vou contradizer tudo o que eu penso, digo e prego. É só respirar, parar de me aborrecer e... Caramba! A porra do telefone toca alto e me assusta, o música que eu ouvia está pausada, dando mais ênfase a devastadora campainha. Atendo e digo que estou numa discussão, o que de fato não deixa de ser verdade. Mas não estou mais, não é mesmo? Estou aqui digitando minha linda história e meu lindo terrível dia. Não, não é verdade. O dia não foi tão ruim assim. Talvez seja por eu ter assistido aquele monte de mortes na televisão, não a de humanos, esta eu já estou acostumado, mas as dos animais e da natureza. Tentei ligar o som novamente, mas a música me incomodou. Começo a me sentir um verdadeiro paciente sem tratamento em fase terminal. Controle-se, digo pra mim mesmo. É foda, respondo. Está fazendo o seu melhor?, pergunto-me. Nem de perto, respondo. Então para de choramingar... vai, vai lá e esmurra aquela parede. Não, não quero, tenho preguiça até pra isso. Agora não é mais raiva? É preguiça? Sei lá o que é, é um desconforto, uma maldição por certo, saber que isso é um sentimento e vê-lo aqui, dentro de mim, descontrolado, a espreita, prestes a me devorar... como sou inútil!, me amaldiçôo. O que é que eu busco para os meus dias? Está neste sentimento de agora? Não! Mas veja por outro lado, é uma excelente oportunidade de botar os ensinamentos em prática. Estou percebendo que já estou ficando mais calmo. Talvez... talvez fique assim até ser perturbado de novo. E quando será isso? Eu sei! Eu sei! Eu sei! Posso responder? Pode, claro! Quando eu deixar acontecer, certo? Certíssimo! Viu, eu sabia. Não diga que sabia, diga que está atento. Se estiver atento não deixará um sentimento idiota te derrubar. Ei!?, não percebeu que eu já estou derrubado? Cale esta boca! Vai assumir uma derrota pra uma coisa tão insignificante? É... acho que eu já assumi... Se for verdade, então levante-se e lute de novo, nem que pra isso seja necessária a morte. O telefone toca interrompendo meu monólogo/diálogo. Mais um teste, penso comigo. Mais um pra me irritar. Até que agora não fiquei mais tão possesso. Isso até eu voltar ao início da discussão anterior, imagino. Tenho mesmo que voltar? Talvez seja melhor deixar pra lá. Vai perder a chance de se sair melhor do que da última vez? Não sei se eu quero tentar isso, justo agora. A hora é agora, ô mané! Se não fizer agora o que tem que fazer, isso vai voltar uma outra hora de um jeito ou de outro. Talvez lá você esteja calmo demais, tem que ser agora que está nervoso. Ah! Mas veja só, eu nem estou me sentindo tão nervoso assim. Droga! Perdeu a chance. Faz assim, da próxima vez que estiver começando a surtar, não deixe chegar a tanto. Vira o jogo, cara. Tenha atitude, você sabe, quem é que manda nessa porra? Eu! Então, pô, vira homem. Honre o que está aprendendo. Quem é que fica dizendo pra praticar as coisas que se aprende? Eu, né? Já tem a resposta pra todas as dificuldades. Vai deixar um momento de dificuldade virar um problema? ...não! Erga essa cabeça, nós estamos nessa juntos. Se você ficar para trás, eu também fico. Olha tudo isso que você escreveu, ta vendo? Estou! Então!? Não demore tanto da próxima vez, certo? Certo, e obrigado, viu? Que isso, foi nada, você sabe... eu sou você...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Casual

Casualmente estava eu ali, parado como sempre. Sem nada pra fazer, sem muito no que pensar, assim, de bobeira. Encostei-me na primeira parede, a mais perto de mim, e fiquei ali exercitando o que sabia fazer de melhor: nada. Sorri pra mim mesmo e me dei por satisfeito. Nada como um bom dia pra se fazer absolutamente nada. Foi então, que mesmo que eu não quisesse, eu a vi. Passou deslumbrantemente por mim. Cada passo dela eram cinco das batidas de meu coração, percebi imediatamente a desvantagem. Ela não me percebeu, claro. Também não queria, ao menos em princípio. Ela dobrou a esquina e sumiu de minha vista. Fiquei ali parado por alguns instantes, apenas ouvindo o meu coração e som do estalar de seus saltos que sumiam ao longe. Olhei pra baixo, para o chão, nada pensei, nada cogitei. De repente, uma rocha caiu em meu raciocínio gritando “ACORDA”. Tremi de cima em baixo como se tivesse sido eletrocutado. “Vá atrás dela, já!”, disse a voz. Passei a mão pelo cabelo tentando desgrenhá-lo e ajeitá-lo confusamente como o era. Empurrei a haste dos óculos escuros para junto do meu rosto e pus-me a andar rapidamente. Dobrei a esquina num segundo e dei de cara com a moça que voltava. Trombamos. Nosso choque se transformou em eternidade. Eu e ela ali, de frente um para o outro. Sua bolsa caiu com o impacto. Em câmera lenta eu pude ver seus lábios se movendo e pronunciando um “ai”, o mais sensual de toda a minha vida. Meu coração não mais estava disparado, estava realmente descompassado. Meu estomago gelou, senti minhas pernas tremerem, minha voz emudeceu-se. Aquele segundo de eternidade não acabava. Vi seus olhos me encararem e sua expressão mudar de surpresa pra dor, de dor pra raiva, de raiva pra um enorme suspiro e do suspiro, ao ver o meu rosto, para uma grande vergonha. Vá lá, né, eu sou bonito. Mas nada se comparava a aquele rosto angelical, de menina mulher, tinha diante de mim o que considerei o retrato da perfeição. Eu sorri sem graça e ela também. Meu “slow motion” não acabava, nem eu nem ela desviamos o olhar. A voz falou em minha cabeça “diga um oi”. Eu balbuciei alguma coisa mas nada inteligível. Tirei os óculos que escureciam a minha visão de sua pele alva. Reparei que ela me olhava na alma e eu na dela. A voz repetiu “diga um oi”. Eu tentei novamente e gaguejei sem nada dizer. Sem minhas lentes escuras, pude perceber que seus olhos eram azuis da cor do céu de um dia muito ensolarado. Claros como um sonho fresco. O que mais eu podia fazer diante de tanto encanto? Foi quando a voz gritou “DIGA UM MALDITO OI”, e imediatamente, surpreendido pela voz, a palavra “oi” saiu de minha boca. Acompanhei cada músculo de sua face contrair em um lindo e magnífico sorriso, tão branco quanto a neve. Suas bochechas coraram num tom rosa que caprichou ainda mais aquele rosto perfeito. Por fim ouvi sua voz de sereia dizer “oi”. Meu peito parecia um solo de bateria, juro que podia ver até minha camisa se mexer com o palpitar. Minha respiração estava completamente irregular, estava quase engasgando de tão emocionado. Mais uma vez o que me salvou foi a voz, guiando-me para o próximo passo “diga seu nome”. O que não ajudou foi a minha respiração que não me deixava formular frases. Gaguejei novamente e por fim comecei a rir sem graça. Ela me acompanhou na risada e, mais corajosa que eu, perguntou: “qual o seu nome?” Minha gagueira não passou de imediato, mas por intuito eu tomei um grande fôlego e comecei a dizer: “eu... eu... eu...”, pensei por um instante e soltei a verdade: “eu...esqueci o meu nome...” fiquei chocado comigo mesmo e ela comigo. Nossas expressões mudaram. Um segundo se passou por inteiro e no segundo seguinte caímos na gargalhada simultaneamente. Não havia mentira ali, só os sentimentos mais puros habitavam aquela circunstância. O que eu era ou ela, não importavam. Ela continuou me olhando com toda a calma do mundo e eu a ela. Abaixei por um instante para pegar sua bolsa e entreguei-lhe sorrindo. Ela agradeceu e continuou ali me olhando. Não sentia mais necessidade de falar, nem ela. Ficamos ali, apenas nos olhando...

A atenção

O que é ter atenção? Reflita por alguns instantes e depois tente traduzir em palavras o que você entendeu por “atenção”... agora, responda: o que é ter atenção? Reflita novamente e me descreva, desta vez, em uma única palavra, o que você acha que é...

Só pra escrever este texto, por mais que eu me concentre no que estou escrevendo, percebo que falta em mim, atenção. Estar atento é não perder nenhuma minúcia do presente. É estar ali no exato instante do agora. Lembre-se agora, de alguma circunstância da sua vida em que você julga ter estado atento. Como foi? Realmente se sentiu presente? Estava consciente de seus atos, pensamentos e sentidos, todos focados numa única direção? Faça assim, pense agora no presente. O que está vendo na sua vida de fato. “Quem é você?” já se tornou a sua pergunta de cabeceira? Onde e quando você está?

Perguntas demais, explicações de menos. Isso me faz lembrar de avisar que este não é um texto explicativo, é uma divagação sobre algo que quero compreender. Atuar com ele pra que eu possa melhorar meu caminho. Tenho que ficar atento, em estado de vigília constante. Não posso controlar certas coisas, mas posso doutrinar minha atenção para que trabalhe a meu favor, e não contra mim. Porque é isso o que acontece, eu me julgo atento, no entanto, o que foi que eu vivi de fato naquele nano segundo? Quase que absolutamente nada. Cada tecla que estou apertando aqui, com meus dedos, meus músculos e tendões trabalhando em parceria com meu cérebro. Minha coordenação motora que impele a formar, com cada tecla apertada, uma nova palavra, que minuciosamente vou estruturando no pensamento do jeito que eu queria que fosse dito. Mas mesmo assim não obtenho o resultado desejado. Por mais que eu me disponha a estar aqui digitando, não concluo as frases como o almejado. Percebo que minha mente voa pra trás e pra frente, no passado e no futuro e... minha nossa! Como é difícil segurá-la aqui comigo. Cada linha que escrevo é uma vida que já pensei. Tento acelerar o processo, transformar tudo num fluxo de consciência, meus erros de digitação me impedem, meus pensamentos expansivos vão se dilatando, quase que não me deixando aqui parado, percebo que está tudo sendo em vão.

Quero muito ter a verdadeira atenção, eu a busco de diferentes formas. Como me concentrar o suficiente pra ter a atenção devida? Ledo engano. Nada é o suficiente. É um eterno crescer e evoluir. Palavra bonita que não caracteriza nada de concreto. O que é a evolução senão ela mesma? Se você supostamente evolui, você está indo em direção ao todo crescente. O que é então evoluir quando se está no meio do nada. Se olhar para trás não verá o começo, se olhar para frente não verá o fim. Então tento entender o princípio da atenção. O objetivo não é evoluir, o objetivo é estar presente em todo o processo. Cada passo, cada movimento, cada pensamento. Não vaguear, não pestanejar, não vacilar. Todo o propósito da atenção está nela mesma. Não pense que sabe, não diga que não. Seja atento, tenha atenção. O aqui e agora é o que procuro. Se tivesse aprendido o aqui e o agora, não o procuraria, seria ele, estaria nele. Respiro, espiro, respiro, espiro... a lentidão dos movimentos me dá tempo de refletir. Refletir não, de estar atento. No entanto, sei de uma coisa: com a atenção, terei a clareza de todos os pensamentos. Somente então, poderei redigir um texto que faça jus ao que todos chamam de atenção. Lembre-se, Pedro: esteja atento. Boa prática pra você.

As coisas que eu odeio, parte II

Calma gente, não estou nervoso, nem tão pouco chateado com nada, é que a ocasião pede pra que eu fale disso. Vejam bem, como disse na primeira postagem, eu odeio a Globo. Não assim de um jeito ruim, mas sim de um jeito horrível mesmo. Não suporto aquela emissora (uma invasão alienígena disfarçada de emissora) muito menos seus apresentadores/comentaristas. Vamos aos fatos. Na última sexta-feira, uma seleção horrorosa de futebol, a quem todos clamam como deuses, perdeu por pura incompetência e falta de vontade. Até aí, nada de mais. (Isso sempre acontece com que não se empenha no que faz e valoriza mais o salário do que a produção) (Caso você tenha chorando muito pela derrota do seu país, isso se deve a uma coisa chamada prepotência e arrogância. Para de acreditar na emissora e veja os fatos como eles realmente são que você não vai ficar tão desiludido) Acontece que algum imbecil, na verdade vários deles, decidiram achar um culpado, o famoso bode expiatório. Culpam um aqui o outro ali e não chegam a lugar algum. Não entrando neste mérito, deixando de lado os pobres massacrados pela mídia (a quem eu nem odeio), vou perguntar a quem me lê: por que é que todos continuam julgando os outros, sendo que todos erram? Essa pergunta é de menor relevância, o meu intuito aqui é argumentar (descer o pau) no que ocorreu depois. Não lembro bem que dia (se deve ao fato de eu odiar futebol), aconteceu o jogo da Argentina contra a Alemanha. Tudo bem você escolher um time pra torcer, mas torcer contra nossos “hermanos” por que um idiota, intitulado melhor narrador esportivo (quem lhe conferiu o título foi a própria Globo), disse que eles são os nossos arqui-rivais, é pura falta de personalidade. Não foi por este motivo? Não? Deve ter sido então pelo fato de você (aquele infeliz que não sabe perder) não suportar a derrota e ter que torcer pela ruína alheia. Veja bem, seu time perdeu. Aceite. Pronto. Quando vejo alguém torcendo pela derrota do outro time (e olha que é o que mais satisfaz os ogros que se dizem torcedores), fico me perguntando se eles foram amamentados direito, ou se foram amados em seus lares, pra tentar entender o por quê disso tudo. Tanta incompetência em ser um desportista. Por que é que existe esta rixa? Eu torci pra Argentina (o Maradona é um dos poucos cheiradores que eu respeito. Né, Aécio?!), pois são os nossos vizinhos, moramos no mesmo continente, fomos colonizados e usados pelos europeus quase que da mesma forma. E mesmo que a Argentina ganhasse, eu não odiaria a Alemanha (nem a odeio agora), sou capaz de escolher o que odiar, e eu escolho você, Galvão (seu tosco! Desculpe, não pude evitar).

Quando começo a falar de algo que eu não gosto (odeio), chego a ficar estafado só de não ver o fim da lista. Mas vou me ater ao assunto esporte. Uma coisa que muito me irrita, é o chamado jornal esportivo. Você liga a televisão pra tentar ver um destes telejornais (conselho: nunca veja) (outro conselho: não veja TV, leia um livro) e o que você vê é um programa voltado para o futebol apenas. Por que é que se chama “Globo Esporte” se não fala sobre esporte(s)? Onde é que está escrito no dicionário que esporte é igual a futebol? Quando muito, temos notícia de ginástica, vôlei, corrida e... hum... mais alguma outra coisa qualquer que eles queiram que você assista pra dar ibope. Você é fã de bocha? Desista! Se por algum motivo (ibope, é claro) seu esporte for mostrado no jornal será comentado e descrito por algum leigo, incapaz no assunto. Cadê os meus esportes preferidos? (campeonato de aviãozinho de papel, luta de maiô no gel, arremesso de anão... entre outros)

Isso me faz sair do assunto esporte e voltar para o assunto Globo. Pare, pense e reflita. Você tem alguma opinião que seja similar ao que o Jornal da Globo, ou qualquer um de seus apresentadores, divulga? Sim? Amigo... lamento informar, mas você é um escravo da mídia. Seus pensamentos são regidos por informações idiotas com o intuído de comandar a vontade de idiotas como você. Você assiste novelas? Chora com as personagens? Entristece-se com os dramas (exageradíssimos)? Acorda! Para de ver esta merda! Até romance de banca de jornal é melhor do que aquilo. Você não consegue parar de ver, já era? Faz assim, pra ir abandonado o vício, você só assiste aos comerciais, vai ficar por dentro de tudo. Mas se quer voltar a pensar e ser inteligente, abandona isso. Overdose de todas as drogas ao mesmo tempo faz menos mal do que novela. Agora, se você é um cara muito, mas muito inteligente, daqueles que perdem a vida social pra estudar, que se enclausuram meses num quarto, que está tendo crises nervosas e colapsos de memória de tão esperto que você é, tenho uma grande dica: assista um capítulo inteiro de uma novela. Isso faz com que seus neurônios parem de fazer a sinapse e alivie o seu estresse. Mas cuidado! Se sentir que está gostando do que está vendo, é sinal de que todos os seus neurônios estão morrendo (ou se matando).

Agora só pra diversificar este assunto, que até então girou em torno de televisão e futebol (novela eu nem cito por me fazer perder neurônio só de pronunciar o nome), vou falar de uma coisa que magoa muita gente (a mim principalmente): a língua portuguesa. Você é daquele que não se importa em assassinar o português? Daqueles que, mesmo tendo a disposição o corretor do Word, decide que escrever rápido e abreviado é melhor que está tendo? Que acha que, pra pegar uma gatinha(o), tem que escrever tudo com gíria, ou (pior ainda) acha que ela(e) não liga se você escreve tudo errado? (O pior é que as “gatinhas (inhos)” não sabem escrever também) Você é daquele que justifica todos os erros com a frase “mas você entendeu né”? (desse jeito mesmo, sem virgula. O comum também é ver o “mas” desta frase ser trocado por um “mais”) Pois bem, seja você quem for, não faça isso com a nossa língua. Parem de maltratá-la. Ela não merece esta surra. Veja, você pode continuar sendo uma mula ou um ignorante, sem problemas! Pode continuar queimando o seu filme falando tudo errado. É o seu direito! Mas aprenda o mínimo suficiente pra não agredir até os seus antepassados. Acho que vocês pensam que estão arrasando com a mulherada ou com os gatinhos, certo? Não estão não! Vocês estão destruindo o que restam em vocês de intelecto. Olha, é verdade. Você nem precisa ser muito inteligente pra escrever certo. Quer continuar falando tudo (quase que absolutamente tudo) errado, tudo bem. Vai sempre ter alguém pra te criticar ali mesmo, mas não escreve errado não. A maioria das pessoas fica com vergonha de te corrigir, tentando te agradar. Conselho: escreva tudo no Word, o corretor dele, por mais ineficiente que seja, já é o bastante pra você fazer sucesso na vida. Ah! Detalhe, aquele monte de grifos em vermelho e verde, são erros, ta? Não são enfeites!

Continua...

domingo, 4 de julho de 2010

O treino, parte I

- ... mas mestre, por que é que devo...

O mestre acertou-lhe com a vara de marmelo bem no ombro, do lado esquerdo, interrompendo o que seria uma pergunta.

O discípulo abaixou o olhar e ali ficou parado novamente. Já estava naquela posição incomoda por cerca de duas horas. Nunca havia ficado daquele jeito por mais de trinta minutos. Estava estafado, seus pulmões ardiam, suas pernas tremiam e seu cérebro gritava “NÃO!”. Por fim, desabou, estatelou-se no chão de costas. Arfava violentamente.

- Levante-se – ordenou pacificamente o mestre.

No entanto, o jovem aprendiz não lhe deu ouvidos e ali ficou deitado, ofegante.

O mestre o encarou por mais alguns segundos e por fim falou:

- Tudo bem, fique bem onde está e não desgrude as costas do chão – ordenou com a habitual imponência na voz – eu faço o que você deveria ter feito. Enquanto isso, você me assiste daí, deitado no chão. Se por um acaso decidir levantar, irá passar o dia inteiro na posição anterior.

O mestre então curvou as pernas, posicionou os braços e assumiu a postura ordenada. Respirava lentamente...

O discípulo sentiu então uma enorme força emanando dali de onde estava. Virou a cabeça e reparou o mestre, já em sua avançada idade, firme como uma rocha, sem contudo, deixar de expressar calma e serenidade.

Tentou levantar envergonhado e foi imediatamente atingido pela vara de marmelo que sequer viu chegando. Olhou espantado para o mestre que de sua posição parecia não ter movido, a vara repousada no chão. Espantado, mas dominado pela vergonha, limitou-se a continuar deitado.

Balbuciou então alguma coisa como que um pedido de desculpas. Não foi respondido. O mestre continuava impassível, inalterado, não se movia da posição.

No discípulo só cabia a vergonha, ao menos foi isso que sentiu durante a primeira hora. Depois, começou a refletir sobre os ensinamentos daquele grande homem que estava ao seu lado. Fechou os olhos, entrelaçou os dedos acima da barriga e refletiu. Regressou no tempo e vivenciou todas as experiências até ali. Sua mente acalmava-se, no entanto, suas costas doíam. Vez ou outra gemia baixinho, gemidos estes que não passavam desapercebidos do mestre que a tudo observava. O dia corria e a dor do jovem só aumentava. Já haviam se passado quatro horas, neste tempo, o discípulo tentou levantar por duas vezes e nas duas vezes foi atingido de alguma forma pela vara de marmelo que não havia se movido do chão. Toda vez que dizia algo tinha o silêncio como resposta. Bufou.

A noite chegou e o discípulo sentia as costas ardendo, principiou-se na raiva e logo voltou a sentir a vergonha, quando por fim, contemplou com atenção, que seu mestre não havia se movido em absoluto. Sentiu vontade de chorar. Seus olhos marejaram. Seus sentimentos eram confusos, ora sentia vergonha por si, ora orgulho de seu mestre. Decidiu, por fim, acabar com aquilo. Fechou novamente os olhos e meditou. Respirava profundamente, cada vez mais. Começou a sentir a energia que exalava de seu tutor. Banhou-se dela sem querer. Fortaleceu-se. Não mais sentia dor alguma. Perto da meia noite, levantou-se num salto e posicionou-se como o mestre. Desta vez não foi atingido. Havia satisfação no semblante do velho.

Respirava profundamente, inalteradamente. Seus músculos não mais tremiam, seu cérebro não mais pensava, estava completamente atento a sua inércia.

O mestre a tudo acompanhou satisfeito. Abandonou a posição, já quando o dia raiava. Sorriu contente e orgulhoso do discípulo. Abaixou-se para apanhar a vara de marmelo e a encontrou do outro lado, perto de seu pupilo. Espantou-se. Antes que pudesse dizer algo, notou o sorriso no canto da boca do jovem. Olhou incrédulo para a face do discípulo. Por fim, gargalhou progressivamente até o ruidoso.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Entrevista (Parte II)

- Mas, me diga, o que o aflige?
- Bom, pra começar, não paro de pensar no “conhecer-se”... está se tornando um hábito... estou... estou... preocupado, talvez.
- Hum – exclamou o entrevistador – mas por que tanto pensa nisso...
- Veja – disse interrompendo o outro – toda religião faz esse discurso, todo mestre prega a mesma filosofia, todo livro de auto-ajuda tem um capítulo sobre o assunto, tudo ser humano cita esta frase numa conversa... mas por que diabos as pessoas não se movem na direção deste conhecimento?
- Olha, tal...
- Não entendo o motivo de tanta hipocrisia, como um assunto pode ser tão disseminado e nunca ser absorvido. O que mais ouço nas ruas e das pessoas que eu conheço é “eu sei, eu sei...”, mas se realmente soubessem, não perderiam mais tempo com nada na vida a não ser o conhecimento de si mesmas.
O entrevistador ficou de cabeça baixa, pensativo, sem contudo perder a fisionomia de intelectual sabido. Segurava o queixo com a mão esquerda e o bloco de perguntas com a direita. O entrevistado estava deitado numa espécie de divã, que na verdade era a sua cama, onde tinha a maioria de suas reflexões. Ficaram calados por alguns minutos e por fim continuaram.
- Quer me dizer por que é que você acha que as pessoas têm que se conhecer, porque é que você pensa que alguém quer isso pra própria vida?
Riu com escárnio, fortemente, debochou da pergunta mas mesmo assim respondeu.
- E por que não?! – exaltando o absurdo – Se todos só falam nisso, por qual motivo não iriam praticar o que acreditam? Por que é que...
- Pare de bancar o tolo – disse em bom som o entrevistador – quem você conhece que pratica o que prega? Quem é que dá atenção a isso? Quem se importa ou não em se conhecer?
As palavras reverberavam pela sala (quarto) até atingirem o nada. Os dois permaneceram em silêncio por, talvez, horas. As sombras da tarde tomavam as luzes da janela. O silêncio se partiu.
- É um caminho de solidão. Sempre ouvi isso também – disse o entrevistado – sempre soube e venho me acostumando cada dia mais. Quando estou escrevendo, quando realmente estou escrevendo, me sinto confortável na presença da solidão. Bem da verdade a prefiro. – levou os braços pra trás, colocou as mãos por sob a cabeça – Começo a perceber o que acho que realmente me importa. Não sinto medo, receio talvez, um pouco de dúvida, mas não penso em voltar atrás.
- Só se sente assim quando escreve?
- Não mais, às vezes quando estou caminhando, lendo, conversando, ouvindo música... eu estou lá em uma tarefa, daí eu começo a prestar atenção... é, é essa a palavra. Começo a prestar atenção na minha respiração e percebo o que de fato estou fazendo. Nisso eu não consigo mais agir normalmente, sabe? Eu começo a me questionar sobre o que está acontecendo ali, naquele instante. Ouço o ruído do ar perpassando minhas narinas e concentro nisso, e se alguma outra coisa acontece à minha volta ou alguém fala comigo, é como se isso não mais importasse. Ali, naquele instante, o que vale é a intensidade com que eu entendo o momento. Penso muito nisso, parece que nada existe, sabe?
Não ouviu resposta. Olhou para trás onde estava, outrora, o entrevistador. Nada mais estava ali além de si mesmo. Mesmo achando estranho, não se incomodou. Já não era a primeira vez, não seria a última.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Caminho (sozinho)

Procurei, procurei... ali estava... duvidei. Era mesmo? Sentei na primeira pedra que vi a minha frente. Estava postada bem no meio do caminho. Era um obstáculo? Mas era pequeno, fácil de pular. Podia contorná-la também. Bom isso era o de menos... ou não? Olhei para trás e depois pra frente. Cocei a cabeça. Respirei, só então me dei conta de que sentia um cheiro bom de terra molhada. Olhei para o chão. A terra estava úmida e nas beiradas do caminho eu via o verde do musgo, este beirava as gramíneas que ali nasciam. Fechei os olhos, agora ouvia o som do vento suave. Ouvia também o som das águas que não estavam ali por perto, corriam em algum lugar mais à frente. Pensei comigo, nada pode ser tão simples assim. Refleti sobre o quanto eu havia procurado... ainda não era o bastante... calma, calma – disse pra mim mesmo – veja bem, já estou aqui. Demorou muito. Também pudera, não tive orientação... minto! Tive sim, mas do que lia, do que eu ouvia, do que conversava. Não tive um mestre diretamente. Espera! ... é isso, pode ser que encontre o mestre aqui no caminho... olhei pra frente, não via o fim dele... subia e descia, fazia imensas curvas até se perder no horizonte. Suspirei alto. Muito trabalho... quase desanimei. Proibi-me. Nada me deteria... animei-me. Calma, calma – disse pra mim mesmo – não posso me desesperar, tenho que calar minha ansiedade. Imediatamente outro pensamento me veio à mente. Lembrei de algo da infância, um insight talvez. Não, não – me disse novamente – concentre-se. Assim o fiz, bom, tentei... outro pensamento. O cheiro me lembrava de algo do meu passado. Devia ser qualquer coisa, sempre gostei do cheiro de terra molhada, de pasto, de esterco de vaca. Não fui criado em roça, não nasci lá, mas meus pais eram e sempre me levavam pra visitar os parentes. Caramba! Pensei exclamando, como minha mente estava ficando avoada. Calma, calma, calma, estou só emocionado, empolgado com minhas novas descobertas. Já passei por isso outras vezes, já devia ter acostumado... hum! A quem estou querendo enganar, sempre fico assim com um novo começo, uma nova etapa. Mas isso é sentir a emoção, não estou aqui pra isso, pelo contrário, estou aqui pra entendê-las. Ok! Vamos lá então... respirei fundo... não contive um sorriso por causa do cheiro... passei por isso rapidamente. Respirei novamente, mais centrado... posicionei-me de maneira confortável, a altura da pedra ajudou-me a cruzar as pernas facilmente. Postei-me com a coluna ereta... estava relaxando. Repousei a mão direita sobre a esquerda e respirei novamente... meus sentidos começavam a se desligar. Um calafrio percorreu-me a espinha. Mais uma vez... mais concentrado... mais uma respiração... já começava a sentir-me ausente... abri meus olhos de uma só vez. Estava consciente de todo o presente daquele instante. Meu corpo emanava calor... sentia a brisa como estando ali, viva a me tocar, me cumprimentando. Agradeci o gracejo. Em seguida senti o sol, tocava o topo de minha cabeça com suas mãos, estava me abençoando... agradeci também. Observava o caminho agora com minha percepção ampliada. Gostava do que via. Ponderei. Veja disse a mim mesmo. Não posso partir, não ainda. Este é o início da minha jornada, quando a iniciar, não estarei mais aqui, no começo. Sorri internamente. Senti-me parte do local, abraçava o universo e ele a mim. Não estava mais ansioso, não sentia mais os meus sentimentos, estava calmo, sereno, descansado, energizado, revigorado, pronto. Pisquei meus olhos. Voltei ao meu consciente presente, sem contudo abandonar o meu progresso. Levantei-me calmamente. Olhei para meu acento, meu obstáculo. Não o julgava mais um simples obstáculo, entendi sua natureza. Podia contorná-lo, podia saltá-lo, mas não podia movê-lo. Esta era a minha primeira lição. Observei a pedra e compreendi a ponta de uma enorme rocha cravada na terra, a “ponta do iceberg”, O início da minha grande jornada...