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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Capítulo primeiro, página 6

O audaz, bateu-lhe à mão que o segurava no ombro e pronunciou em fervorosas palavras vindas com ardor do coração:

Primas tu pela não interferência de nossa espécie para com os nossos protegidos, exceto por meio de ordens superiores. Cegado estás, pois então para com nossa real missão, não candidatei-me em vão, não sou nem serei um inútil observador. Creio nos desígnios de cada ser, mesmo na mais ínfima das esferas. Aquele a quem vigio e protejo é de minha inteira responsabilidade e sabes tu, o quão valorosa é esta alma e o quanto puder por este fazer, hei de fazê-lo. Não há duvidas que até mesmo neste nosso plano somos passivos de erros, estão os de nossa gente, com absoluta certeza, equivocados. Não ficarei aqui como mula empacada a esperar que o mal domine a mais uma de nossas sementes – fez uma pausa, observou o outro, centelhas crispavam-lhe da visão aguçada, pois acreditava em abundância em suas próprias palavras. Sem mais se deter, concluiu em sua voz timbrada ardorosamente – Se por meu ato for condenado a vagar à eternidade nos lagos de lava das profundezas das trevas, mesmo assim o farei. Descerei sem mais demora para junto de meu amado protegido e em tudo o que puder ajudá-lo sacrificarei-me com prazer. Estarei ao seu lado até que este torne-se o quanto antes o predestinado líder que há de ser, dedicarei-lhe até minha última centelha de vida.

E assim terminado seu discurso, ficou ali pairando no ar esperando acalmar-se para que pudesse despedir finalmente de seu companheiro e desta forma, dirigir-se ao tempo real dos mortais socorrer o seu. Ficaram ali se olhando, visíveis somente um para o outro em suas magistrais e encantadoras formas. Por fim, o mais sábio inclinou a cabeça para baixo e com lamentar pronunciou:

- Vejo agora que estais convicto e irredutível de teus passos, nada mais direi-te para dissuadir-te de tuas vontades. Vai-te em paz e sirva com bravura e coragem os desígnios do Homem. Devo-te apenas advertir-te de que neste plano que pretendes adentrar, estarás por tua própria conta e que depois de tempos junto destes, os humanos, perderás de vez tuas características divinas e tua chama apagar-se-á. Ficarás desprovido de teus poderes e não mais nos ouvirá. Sendo assim, não mais retornarás à vossa casa, perderás teu único lar. Lamento irmão, esta é tua escolha e assim sempre houve de ser – calou-se então o mais sábio, a cabeça ainda inclinada, guardando para si, em seu mais profundo interior, toda a tristeza que sentia de perder o irmão e amigo que tanto amava.

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