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domingo, 24 de janeiro de 2010

A Lenda...

Existe uma lenda, que diz que um admirável e exuberante dragão, desceu dos céus para poder amar plenamente o ser que mais ele admirava em nobreza e em beldade, uma perfeita égua. Esta, porém, não se achava digna de tamanho amor, afinal, ter o amor de um ser místico e fascinante como um dragão era pra poucos.

Num belo dia, o dragão vindo em velocidade, voando dos céus, aterrissou em frente à égua, que ficou surpresa pois não esperava por nada daquilo.

O dragão com todo seu tamanho, que aterrorizava tribos inteiras, singelamente lhe disse em voz poderosa:

- És a mais bela de todos de tua espécie, encantas-me tu com teus perfeitos movimentos e tuas magistrais palavras...

Antes que pudesse continuar a égua lhe disse:

- Fico lisonjeada com tuas palavras, oh grande dragão...mas o que queres tu, com um animal de minha espécie? Não vês que corro pelos campos enquanto voas? Não vês que és imenso e que sou esguia perto de ti? Não concordas comigo que isto não passa de ilusão?

O dragão arfou profundamente e depois respondeu:

- Vejo que lhe faltam pequenas coisas como a sensatez, minha cara, afinal sou um ser místico, existo para teus olhos apenas e pra nenhum outro mais. Sendo assim, porque duvidas de minhas intenções para contigo? Se estou aqui, diante de ti, é para que também me queiras, assim como quero-lhe por milênios à fim.

- Mas somos tão incompatíveis e...

- Não estás me ouvindo com atenção, não é uma questão de escolha, estamos predestinados a uma vida juntos, nascemos para vivermos lado a lado...

- Perdoe-me então, mas como respondes-me o fato de vivermos pra sempre juntos, se somente tu é imortal?

- És graciosa até em teus equívocos, minha bela. Viveremos a eternidade de nossos corações, unidos pelo amor que sentimos um pelo outro...

- Como podes tu, saberdes de meus sentimentos por ti, que mal conheço?

O dragão sorriu largo e disse:

- Como sabes tu o que sentes, se nem ao menos sabias que fomos feitos um para o outro? Lutas inutilmente contra nossos destinos. Tua singularidade termina aqui, onde nos encontramos e nos conhecemos, a partir daqui somos apenas um, tuas palavras e teus atos não correspondem somente a ti, mas a ambos.

A égua estava admirada, mas não sabia o que aquilo tudo, surpreendentemente novo lhe representava. Podia ser verdade o que o grande dragão lhe dizia? E como lendo seus pensamentos o dragão lhe revelou em um penetrante e intenso olhar:

- Olhes tu em meus olhos e responda, podes me ter e não se apaixonar por mim?

Ela não conseguia encontrar palavras e em silêncio permaneceu.

- Confesso-lhe, eu posso me apaixonar por você, pois já estou. Eu posso ser amado por você, digo-lhe - disse ele.

- Sim – ela respondeu carinhosamente – eu também posso ser amada por você.

Assim, desde este dia os céus tomaram outras formas e as nuvens também. O verde ficou mais verde e a natureza se regozijou em felicidade por tão bela união.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nos vemos em palavras...

Em pensar que um mero acaso nos proporciona tantas novas visões de um mundo tão distorcido, que, o que agora vejo é tão singelo, belo e importante e se encaixa perfeitamente em meus moldes de personalidade. Agrada-me e toca-me sensivelmente, como eu, em um canto oculto de meu ser. A distância não impediu-nos a confirmação de uma pré e madura amizade, nem o tempo há de deter esta força que agora nos encanta e nos aproxima. Força esta, que movida a meigos traçados verbais, nos torna em imagens belas de dias vindouros. Encanta-me tão bela jovem de excelentes qualidades e tão semelhantes defeitos. Beleza esta que me põe indigno de optar pelo que devo aclamar... suas belas aptidões ou seu caloroso coração? Destas, escolho o conjunto que tanto me cativou e acolheu em suas doces palavras. Escolho você...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Roendo ossos...

Achava que em minha vida não sentiria raiva assim tão constantemente, mas de uns tempos pra cá, não há um só dia que não me sinta enfezado com alguma coisa. Chego a cometer absurdos como brigar comigo mesmo por algo que esqueci e socar paredes e portas para extravasar o incomensurável ódio que sinto com as malditas situações adversas que não se ausentam de mim. Odiar é uma coisa feia, sempre soube disso, não me orgulho de saber deste meu defeito. Defeito? Algo que já está impregnado em mim. A raiva, o nervo e o ódio. Trio bacana que chegou do nada e foi se estabelecendo em minha vida. O que sou agora? Um retrato do que vi meu pai sendo? Um retrato de uma vida de amarguras? Sinceramente, não sei a origem de tanta aversão. Não sei porque me sinto tão furioso e incontrolável. Uma fagulhinha e eu já fico todo tomado e possesso. Saiam da frente, estou passando com meu dia ruim e minha maldição exacerbada. Quando adolescente, lembro-me vagamente, eram raras as vezes que algo assim acontecia. Fui crescendo e isso foi piorando. Ando numa atual onda de estresse que tudo me incomoda, me exaspero com enorme facilidade. Ta certo que minha desorganização contribui somatoriamente a isso. Mas não há exercício que chegue e que me faça voltar pacífico ao lar. O fim do dia é a única coisa que me relaxa, claro, pois, senão, se estiver cansado e sonolento. Pronto... resolvido. Dorme e não me enche mais o saco, Pedro!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Carta ao vazio

Por que quando estamos sozinhos nos sentimos frágeis, tristes, magoados, desesperados, angustiados, perdidos e abandonados? Por que nunca nos bastamos? Por que tenho que ter alguém com quem contar e dividir minhas alegria e tristezas? Por que diabos não posso viver só, feliz comigo mesmo, ou triste em harmonia? Por que não posso? Ou não quero? Ou, melhor ainda, por que não sou independente e auto-suficiente? Por que não o quero ser, se sei que posso? Por quê?

Sei que sou capaz de viver uma vida regrada de amizades, mas a mim só me importam as companhias das pessoas que estimo. Mesmo morando tantos anos sozinho não pude aprender a ser independente. Tenho meus amigos cães e gatos, mas não me sinto assistido mesmo assim. Tenho os livros que tanto amo e as folhas para escrever e nem isso me basta. Tenho meu violão e minha guitarra e nem mesmo eles, que tantas vezes choraram por mim, me são suficientes. Aos poucos vou me preenchendo e me completando com o que mais me aflige, o vazio. Seria meu vazio, algo com o que eu possa contar? Um amigo, uma presença?

Há dias venho tentando escrever estas linhas, mas não conseguia por estar sempre tão ocupado do meu mais recente amigo. O vazio. O que posso dizer dele... sujeito bacana, cheio de melindros. Não posso querer pensar em ver alguém que ele já vem me chamando, requisitando minha total atenção. Sujeito bacana, mas muito mimado. Certa vez tentei conhecer um outro amor, na verdade não o era, bem que eu queria que fosse, mas mal experimentei-lhe e fui dragado de volta pelo meu inseparável companheiro de solidão. Sabe, é difícil explicar às pessoas o que se passa numa amizade assim, elas já me apontam com um monte de preconceitos e eu até as entendo. Confesso que eu mesmo achava que o vazio não era uma boa pessoa. Sempre aparecia nas horas mais impróprias. Chegou até a me assustar algumas vezes com esse jeito repentino de surgir. Mas como estou na maior parte das vezes solitário em meus momentos caseiros e a única companhia dialogável que eu possuía era ele, o vazio, acabei por me afeiçoar a este e daí surgiu nossa incomensurável amizade. Tenho que admitir que no princípio eu até o temia, me sentia mal às vezes, mas cá entre nós; faça sol, faça chuva, pode ser a pior das horas, aqueles momentos que não há ninguém com quem contar, sempre tenho ele pra me fazer companhia, meu amigo o vazio. É por este motivo que escrevo-lhe para agradecer, mesmo que você esteja aqui, agora, ao meu lado lendo o que escrevo, obrigado por todos estes anos de companhia, amigo!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Capítulo primeiro, página 12

lentamente – e assim o garoto fazia, como se não tivesse forças pra se quer opor ao pedido que lhe chegava mentalmente. E ele continuava – concentre-se em seu corpo, saudável e perfeito... não existe mais a dor... – e a voz prosseguia na mente do jovem como se sempre estivesse estado ali. Frase após frase, uma após a outra, Tobias as incorporava como suas, como se sua mente lhe dissesse o que havia de ser feito e pensado. O alivio já estava presente no garoto quando o audaz findou suas preces, nada mais latejava, nada mais doía, ao menos nada mais incomodava internamente, suas marcas externas ainda estavam ali presentes, as bochechas arroxeadas e inchadas, o sangue seco nos cantos da boca e perto dos ouvidos denunciavam a agressão sofrida. Suas costas e abdômen estavam cheios de hematomas por sorte tampados pelas vestes. Nada porém se comparava com o restabelecimento de seu braço fraturado e seu punho torcido, estes pois, poriam o pobre rapaz em resguardo por bons dias, por instantes estes pensamentos lhe vieram à mente e com um modesto sorriso ele pode agradecer em silêncio. Embora fantástico e surpreendente fosse o feito do homem anjo, ao garoto, nada fora do comum parecia-lhe, não só por sua mente anuviada pelo torpor, mas também por este estar pré-destinado a uma vida repleta de glórias e sucessos, acompanhada é claro de muita dor e sofrimento.

Laasrael levantou-lhe mais uma vez, endireitou-lhe a postura e estendeu-lhe a mão para um último cumprimento, o menor assim o fez, e com um grande sorriso o anjo partiu virando-se repentinamente sem mais delongas. Tobias demorou a entender o que acontecia mas por fim falou-lhe em boa voz tentando chamar-lhe de volta:

- Laasrael? Não aceita entrar e tomar um chá conosco, ou alguma coisa pra comer? – queria o menino achar forma que fosse suficientemente à altura de um verdadeiro agradecimento.

- Não te incomodes, meu caro. Estarei bem. Parto agora, mas logo voltarei a ver-te, intenciono saber de teus progressos na vida – e dito, partiu sem olhar pra trás.

Tobias notou que o homem tomou a direção oposta à que chegaram e lembrou-se que sua casa era a última da rua e que naquela direção só havia uma trilha que margeava uma estrada de terra, esta terminava no rio que abastecia a cidade, bem como suas belas cachoeiras e lago. Naquela hora a vista não era tão bela como de manhã, quando ele e o avô faziam caminhadas por ali. Tentou dizer-lhe por onde o caminho o levaria mas já era tarde, pois o outro já se encontrava distante e mal podia distinguir-lhe a silhueta. Sorriu o menino