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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Casual

Casualmente estava eu ali, parado como sempre. Sem nada pra fazer, sem muito no que pensar, assim, de bobeira. Encostei-me na primeira parede, a mais perto de mim, e fiquei ali exercitando o que sabia fazer de melhor: nada. Sorri pra mim mesmo e me dei por satisfeito. Nada como um bom dia pra se fazer absolutamente nada. Foi então, que mesmo que eu não quisesse, eu a vi. Passou deslumbrantemente por mim. Cada passo dela eram cinco das batidas de meu coração, percebi imediatamente a desvantagem. Ela não me percebeu, claro. Também não queria, ao menos em princípio. Ela dobrou a esquina e sumiu de minha vista. Fiquei ali parado por alguns instantes, apenas ouvindo o meu coração e som do estalar de seus saltos que sumiam ao longe. Olhei pra baixo, para o chão, nada pensei, nada cogitei. De repente, uma rocha caiu em meu raciocínio gritando “ACORDA”. Tremi de cima em baixo como se tivesse sido eletrocutado. “Vá atrás dela, já!”, disse a voz. Passei a mão pelo cabelo tentando desgrenhá-lo e ajeitá-lo confusamente como o era. Empurrei a haste dos óculos escuros para junto do meu rosto e pus-me a andar rapidamente. Dobrei a esquina num segundo e dei de cara com a moça que voltava. Trombamos. Nosso choque se transformou em eternidade. Eu e ela ali, de frente um para o outro. Sua bolsa caiu com o impacto. Em câmera lenta eu pude ver seus lábios se movendo e pronunciando um “ai”, o mais sensual de toda a minha vida. Meu coração não mais estava disparado, estava realmente descompassado. Meu estomago gelou, senti minhas pernas tremerem, minha voz emudeceu-se. Aquele segundo de eternidade não acabava. Vi seus olhos me encararem e sua expressão mudar de surpresa pra dor, de dor pra raiva, de raiva pra um enorme suspiro e do suspiro, ao ver o meu rosto, para uma grande vergonha. Vá lá, né, eu sou bonito. Mas nada se comparava a aquele rosto angelical, de menina mulher, tinha diante de mim o que considerei o retrato da perfeição. Eu sorri sem graça e ela também. Meu “slow motion” não acabava, nem eu nem ela desviamos o olhar. A voz falou em minha cabeça “diga um oi”. Eu balbuciei alguma coisa mas nada inteligível. Tirei os óculos que escureciam a minha visão de sua pele alva. Reparei que ela me olhava na alma e eu na dela. A voz repetiu “diga um oi”. Eu tentei novamente e gaguejei sem nada dizer. Sem minhas lentes escuras, pude perceber que seus olhos eram azuis da cor do céu de um dia muito ensolarado. Claros como um sonho fresco. O que mais eu podia fazer diante de tanto encanto? Foi quando a voz gritou “DIGA UM MALDITO OI”, e imediatamente, surpreendido pela voz, a palavra “oi” saiu de minha boca. Acompanhei cada músculo de sua face contrair em um lindo e magnífico sorriso, tão branco quanto a neve. Suas bochechas coraram num tom rosa que caprichou ainda mais aquele rosto perfeito. Por fim ouvi sua voz de sereia dizer “oi”. Meu peito parecia um solo de bateria, juro que podia ver até minha camisa se mexer com o palpitar. Minha respiração estava completamente irregular, estava quase engasgando de tão emocionado. Mais uma vez o que me salvou foi a voz, guiando-me para o próximo passo “diga seu nome”. O que não ajudou foi a minha respiração que não me deixava formular frases. Gaguejei novamente e por fim comecei a rir sem graça. Ela me acompanhou na risada e, mais corajosa que eu, perguntou: “qual o seu nome?” Minha gagueira não passou de imediato, mas por intuito eu tomei um grande fôlego e comecei a dizer: “eu... eu... eu...”, pensei por um instante e soltei a verdade: “eu...esqueci o meu nome...” fiquei chocado comigo mesmo e ela comigo. Nossas expressões mudaram. Um segundo se passou por inteiro e no segundo seguinte caímos na gargalhada simultaneamente. Não havia mentira ali, só os sentimentos mais puros habitavam aquela circunstância. O que eu era ou ela, não importavam. Ela continuou me olhando com toda a calma do mundo e eu a ela. Abaixei por um instante para pegar sua bolsa e entreguei-lhe sorrindo. Ela agradeceu e continuou ali me olhando. Não sentia mais necessidade de falar, nem ela. Ficamos ali, apenas nos olhando...

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