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terça-feira, 15 de junho de 2010

Espaço do Tempo

Estar aqui neste momento não me faz não estar em outro lugar ao mesmo tempo. Trabalhando o fluxo de consciência, noto estar em vários momentos ao mesmo instante. Onde? Onde não, quando. O quando também é ultrapassado e descabido. Não conheço uma palavra pra definir o espaço ocupado por nossa mente. É uma memória imediata, um acontecimento instantâneo, não é apenas uma lembrança ou minha simples imaginação. Qual a diferença de estar em algum lugar de corpo presente e de estar neste mesmo lugar apenas em sua imaginação? Ao meu ver diria que nenhuma. Veja, se meus sentidos são ditados por meu cérebro, o que me impede de criar a condição real de estar onde não se está? Imagino o lugar, penso em cada um de seus detalhes, cheiros, cores, sensações, gostos, e tudo mais para que eu transborde minha mente de dados. Criei meu mundo real em minha cabeça. Agora, o que me impede de estar lá neste momento? Meu querer, eu diria. Minha obra ficcional é toda baseada no mesmo fato: o querer, o acreditar. Fé cega? Talvez. Realidade? O que de fato é a realidade? Não há explicação para o que queremos e conseguimos com o poder de nosso pensar. Refleti muito sobre isso e ainda o faço. Seria desleal não termos uma capacidade assim, mas mais desleal que isso é o fato de não termos a capacidade de usarmos isso como usamos nossa visão. Péssimo exemplo, até mesmo a visão é distorcida, assim como todos os nossos sentidos. Ultimamente ando me propondo sentir além dos sentidos. Escrever está me ajudando. Quando transformo meu sentimento em algo “lível”, posso absorver o que estava sentindo de forma literária. Algo que eu possa refletir sem que aquilo me impeça de pensar ou me faça sofrer ou ser feliz. Estou à parte dos meus sentidos. Vejo e leio as minhas emoções sem senti-las.

Quem sou eu de fato? O que posso ou não fazer e conseguir com o meu querer? Cada dia mais eu vejo o mundo como um papel a ser interpretado. Acredito na não realidade da vida, na sua subjetividade. Estamos vivos de fato? Existe um começo ou um fim? Quero ser responsável por minhas decisões, por meus atos, por meus pensamentos. Quero poder decidir o que na minha vida é ou não real. Eu faço isso, se não sou eu que faço, vou acreditar até esta seja a verdade. Não vou me impedir e nem deixar que me impeçam. Posso, acredito que posso. Creio e tenho fé. Fé em mim mesmo, no que posso tornar real. Se penso estar em algum lugar do universo, que eu esteja então. Tornarei fato o meu imaginar. Imaginar o que será o meu fato. Criar, desfazer, tornar a mentira em verdade. Estou agora aqui, ali, além. Estarei onde meu querer me levar. Sou dono do meu espaço, do meu tempo. O tempo existe à minha volta. Se faço parte dele ou não, se estou ou não entre o seus espaços, sou eu quem dito. Entre o tempo existe o espaço e entre os espaços temos o tempo. Entre os dois eu me coloco, ou simplesmente, fora deles.

Um comentário:

  1. Oi escrevinhador.

    Isso me fez lembrar Clarice Lispector.

    "Dá-me a tua mão:
    Vou agora te contar
    como entrei no inexpressivo
    que sempre foi a minha busca cega e secreta.

    De como entrei
    naquilo que existe entre o número um e o número dois,
    de como vi a linha de mistério e fogo,
    e que é linha sub-reptícia.

    Entre duas notas de música existe uma nota,
    entre dois fatos existe um fato,
    entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
    existe um intervalo de espaço,
    existe um sentir que é entre o sentir
    - nos interstícios da matéria primordial
    está a linha de mistério e fogo
    que é a respiração do mundo,
    e a respiração contínua do mundo
    é aquilo que ouvimos
    e chamamos de silêncio."

    Trecho do livro a "A paixão segundo G.H."
    Arranjado em versos por Antonio Damázio

    Mari

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