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domingo, 21 de novembro de 2010

Quem?

Fora visto a última vez às dezessete horas da tarde anterior. Onde fora ou quem visitara antes de desaparecer ainda é um mistério. Ninguém, como sempre, nunca viu nada e não ouviu nada.

— E o senhor, sabe de alguma coisa do sumido?

— Eu? Eu não? Não sei de nada, não ouvi nada... juro!

— Sei... sei... – é impressionante o quanto as pessoas estão dispostas a mentir mesmo sabendo que você sempre sabe que elas estão mentindo – e o senhor acha que ele sumiu por que?

— Não sei ao certo, bom...

— Se o senhor não conhece o sumido, por que é que não sabe ao certo sobre seu desaparecimento? – xeque!

O homem gaguejou e gaguejou e nada disse. Abaixou a cabeça e assim ficou, quieto, até eu perguntar novamente:

— Então, diga algo que possa me ajudar, meu amigo. A família toda está preocupada, já imaginou se fosse o seu quem...

— Ok! Ok! Não diga mais nada, eu digo, tá?! – desabafou o homem – ele saiu como se não fosse mais voltar. Eu tentei dizer algo que e o convencesse do contrário mas não me ouviu. Ele estava muito triste quando partiu e...

O homem fechou os olhos com pesar e ficou parado, respirando baixinho. Bem devagar. Esperou um tempo e retomou a fala:

— Sinceramente... tenho que dizer que uma vez... uma vez, isso também aconteceu comigo – disse o homem com a voz embargada e continuou – entendo a sua posição. Lamento inclusive. Comigo foi assim também. Tive que colocar um investigador atrás dele quando se foi... achei que nunca mais iria revê-lo. Mas graças a Deus ele está comigo! Graças a Deus eu o reencontrei.

— Bom, devo dizer que muito obrigado... mas realmente preciso encontrá-lo pelo bem de todos. O senhor se importa de me dizer alguma coisa que possa servir de pista?

— O que posso dizer? Eu só o ouvi discutindo com alguém... era uma briga séria, devo acrescentar. Não ouvia nada do outro, só dele... acho que tinha algo a ver com ser melhor viver sozinho do que sofrer pra sempre. Algo do tipo...

— Entendo, entendo... e o senhor acha que ele foi para onde?

— Pra onde foi eu não sei dizer. Mas com o pesar que saiu daqui e com o que andava acontecendo com ele, eu acho, que não o verá tão cedo. Bom, deixe-me dar uma dica. Ele vai voltar. Isso eu posso dizer, só espero que seja antes de algo ruim acontecer com a família em questão. Não adianta ir atrás. Se ele não quiser ser encontrado, não vai. Sabe bem que digo isso por experiência própria, não é mesmo? Comigo também foi assim. Mas ele voltou... depois de muitos anos, antes de eu me casar definitivamente... foi estranho, mas aconteceu. Claro que todos nós ficamos felizes com sua volta. Acredito que no seu caso será algo semelhante. Só... só não desista.

— Obrigado... realmente não tenho mais o que perguntar. Obrigado por tudo.

— Não perca as esperanças, filho. Vai dar tudo certo.

E assim me virei e parti. Não podia conceber esperar. Tinha que fazer algo. Não somente por ele. Era mais por mim na verdade. Todos estavam ansiosos por revê-lo. Tinha que fazer algo. Comecei a caminhar sozinho, sem direção. Precisava por as idéias no lugar. Por onde começaria? O que eu tinha até agora? Nada? Acho que interrogar espíritos não estava ajudando. Não era verdade. Eu o conhecia muito bem, isso ajudava, mas... bem, não tanto assim. Não era de muita valia ser parte da família. Não quando essa estava incompleta, sem ele. Droga! Por que é que ele era assim tão rebelde? Não importava com ninguém, será? Isso me feria também. Não estávamos completos sem ele, isso era um fato. Lamentar também não adiantaria. O jeito era seguir em frente até que ele aparecesse. Nada de ficar conversando com anjos e demônios...

Quando parei de caminhar, eu já estava onde o vira pela última vez. Exatamente de onde eu havia saído. Bem naquele jardim. Abaixo daquela árvore que sempre íamos todos juntos. Suspirei fundo e fiquei alí olhando o lugar. Não havia passado um dia inteiro sequer, mas sabia do que se tratava. Foi exatamente alí que ele fora magoado pela última vez. Assim eu fiquei alí, pensando no que ele havia passado. Sabia como havia se sentido. Afinal, eu estive com ele em todas as dificuldades. E naquele dia de ontem, não tinha sido diferente. Tomei coragem e pronunciei em voz baixa um juramento ao vento:

— Amigo, onde quer que esteja, saiba, acredite: eu vou encontrá-lo e seremos felizes todos juntos novamente. Eu prometo.

E foi assim que confessei ao vento os meus desejos mais secretos. Para assim poder exorcizar de mim todos os demônios. Jurei encontrar o sentimento que havia fugido de mim naquela tarde de ontem: o amor.

Um comentário:

  1. Sinceramente! procurar o amor a vezes da trabalho...
    Outras porem, é preciso apenas se permitir ser encontrado...

    Beijos!!!

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