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sábado, 22 de maio de 2010

O Obscuro, parte I.

Um:

Nada que o negro e o soturno não conheçam, mas e tu, ser vil? Conheces o pior de ti mesmo entre todo o mal que cultivaste? Sabes dar nome a teus crimes, a tuas maldades? Se o soubesse, não saberias qualificar o que pior estava por vir. Consideravas-te o mal em pessoa, a representação do ódio encarnada na terra, mas o Obscuro resolveu reivindicar seu lugar entre os mortais e para isso, mandou atrás de ti o mais fraco de seus três filhos. Não precisaria este estar presente para acabar contigo e com tudo aquilo que consideravas tu, sendo o mal. Sabia, a Escuridão, que tu não era páreo para sequer uma fração de toda sua ignomínia. Então, não ocupou-se, o Mal, de preocupar-se de ti. Tu já o tinhas incomodado por demais, só por teres tido a ousadia de tentar te revelar mais vil que ele próprio. Gabavas tu, de tua maldade, de tua crueldade e de todos os teus pecados, pecados estes que nenhum ser vivente jamais havia cometido. Orgulhavas de tuas conquistas, de tua reputação. Pobre e infeliz, estavas convencido de que nada lhe tocaria, que nada lhe perturbaria, estavas seguro de ti mesmo, julgavas-te onipotente. Ah! O escárnio de teu inimigo, o maior de todos eles, ecoou por todo o ermo dos mundos. Não estarias só dentro em breve, serias punido por tudo que fizeste, por tudo que ousas-te. Atenta-te, pois o filho do mal, está atrás de ti. Cada passo que deres, cada golfada de ar, estarás a uma fração de teu fim. E não serás gratificado apenas com a morte e sim com a eternidade de sofrimento e angústia.

Dois:

Ouviu as palavras atentamente e antes de esquartejá-lo fez questão de torturá-lo por mais três dias. E cada dia de sofrimento deste, era como uma nova sentença de morte para si. Era sempre assim, não deixava sua vítima descansar, nem tampouco dormir, infligia-lhe dores horrorosas e quando achava que este ia ceder pela fraqueza, eis que revigorava-se e tornava a conjurar ameaças naquela voz sobrenatural. Esperava o fim do discurso, que era sempre o mesmo, ouvindo tudo com muita atenção, em seguida retomava sua crueldade como se nada tivesse ouvido. Adorava aquela sensação, mais do que qualquer coisa. Mais do que comer, dormir, beber ou até mesmo gozar. Nada era mais prazeroso do que matar. Sentia-se vivo e confiante. Era o que era, e apenas isso. Era jovem, não sabia ao certo a sua idade, os poucos que o viam não lhe davam mais do que vinte e poucos anos. Era uma máquina de matar, não tinha estratégias prévias de absolutamente nada, achava-se o bandido mais sortudo do mundo. Fazia o que fazia sem esforço, nem dificuldade alguma. Não escolhia as vítimas, não tinha padrões, nem ninguém tinham sido uma ameaça a sua carreira. Não sabia lutar, não sabia escrever, não sabia ler, não sabia o que era o amor. Não tinha amigos, não tinha família, não tinha casa, não tinha absolutamente apego a coisa nenhuma. Vivia pra ser o que era, apenas isso. Sua inteligência era fantástica, escomunal, não para um uso comum, mas para observar e entender absolutamente tudo o que necessitava em seu ataque. Sempre era assim, quando cometia suas loucuras, nada o impedia de triunfar. Suas capacidades excediam qualquer expectativa. Não tinha um nome, não tinha uma rotina, era o que era, e apenas isso. Guardava uma coisa consigo, um número, que aumentava sempre, a cada vítima eliminada, somava mais um a este e assim o ia aumentando. Nunca entendia como fazia isso, só o fazia. Não se cansava, não se entediava. Era o que era, e apenas isso...

Três:

Passeava por ali pela primeira vez, sentir a incomodava mais que tudo. Aquelas coisas que enxergava pela primeira vez eram conhecidas como mãos. E o que a faziam ver eram conhecidos por olhos. Como era difícil se adaptar a tudo aquilo, pensar era uma merda. Seu cérebro ia juntando informações e designando-lhe nomes. Coisa mais sem graça. Estava acostumada a ser e não refletir sobre o que era ser. – “Malditooo!” – berrou com sua voz esganiçada e aguda. Uma coisa não mudou. Sabia como odiar. Isso ela conhecia, aquilo era ridículo perto de seu estado natural. Sentimentos eram coisas de mortais, aqueles fracos que fingiam viver. Sentiu falta de ser o que era. – “Merda!” – gritou, desta vez porque odiava ouvir o seu raciocínio, era como se alguém lhe narrasse uma estória. Berrou novamente, pensar lhe incomodava muito. Não queria ser humana, muito menos uma fêmea. Sentia fraqueza naquele corpo, sentiu falta do seu poder. Gritou demoradamente por quanto tempo pode em um só fôlego, estava farta de sentir os sentimentos. Só havia uma solução: acabar com o desgraçado que viera buscar o mais rápido possível. Assim, seu pai a libertaria daquela maldição que era ser mortal. Faria sua alma arder antes de levá-lo a seu pai, só pra vingar tudo o que estava passando. Mais um grito, sua cabeça não parava de falar. Correu, o mais rápido que pode. Ia pegá-lo agora, onde quer que este estivesse...

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