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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Homem sem futuro

Essa é a história do homem sem futuro que, por um acaso, ainda não está completamente escrita. Antes de assentar-se – na cadeira nada confortável – diante de seu (péssimo) computador, e começar a escrever sobre sua vida, o homem sem futuro havia passado por maus bocados naquele dia fatídico, em que o homem que o havia inspirado, morrera! Esse homem, nada mais nada menos que seu pai, outrora, teria sido sua fonte de inspiração. Era muito inteligente e muito sagaz. Praticamente autodidata, seu velho pai, era uma fonte inesgotável de saber. Era também o homem que ensinara o valor do sofrimento e, por fim, o gosto amargo do ressentimento. Mas o que é isso tudo para alguém que sequer teria um futuro? Foi pensando nisso e em todas as coisas horríveis que havia passado do princípio da sua vida até alí, que o homem, aquele sem futuro, decidiu realmente mudar a sua vida. Primeiro, matou psicologicamente o seu maior herói. Para isso, dispôs de muita dor e muita raiva. Feito isso, expulsou de sua vida; seu criador, amigo, pai e também causador de grande parte de sua dor. – Não impressionem-se com suas atitudes afinal, ele não tinha futuro – Segundo, preparou seu espírito para suportar o que mais teria que viver daqui para frente: mais dor! Bem da verdade, não seria tão difícil assim, viveu a vida assim quase que todo o sempre.

Sentado diante de seu teclado e digitando velozmente as teclas, o homem sem futuro, pensava no passado para constituir em palavras o seu presente. Cada frase escrita era um poço inefável de angústia mas, mesmo assim prosseguiu em seu destino. Avaliava cada uma de suas palavras, como se a própria dor é quem estivesse escrevendo. Não entendia completamente o objetivo daquilo que estava fazendo. Sabia, no entanto, que o devia fazer. Uma única chama, bem no fundo do seu ser, repetia: “vou mostrar a cada um deles o que é um homem sem futuro”, aquilo cutucava-o sem parar, mas não prestou atenção. Digitava todos os pormenores de suas frustrações. Não estava disposto a deixar sequer uma ponta solta do seu sofrimento. Era-lhe obrigatório desfazer-se das feridas. Tinha de cicatrizá-las imediatamente. Quanto mais palavras apareciam na tela branca, mais preenchido de talhos ficava sua alma. Já estava com o espírito em frangalhos já na metade da página escrita, quando percebeu que de fato, o que deveria mesmo fazer, era trancar toda aquela dor no âmago do seu ser. Arrependeu-se de ter começado aquele texto, mas inexpugnavelmente desejou terminá-lo.

Lá pelas tantas, não vendo mais saída para tanta desgraça (e Deus sabe o quanto sua mãe o xingava por dizer essa palavra), sucumbiu ao desejo de estar morto e esquecido. E, mesmo enquanto morria para a vida feliz e alegre – que na verdade não passava de uma grande farsa – continuou ouvindo uma voz que lá do fundo dizia: “Homem sem futuro é o caralho!”

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