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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Músico sobrevivente...

Desesperar jamais! Boa frase, uma das que eu mais venho usando e absorvendo pra minha vida. Por que eu resolvi adotá-la não é nenhum segredo, é simples até... pindaíba significa alguma coisa pra vocês? Então, se significa, é numa destas que eu me encontro, mas vamos ver por outro ângulo; temos sempre o outro lado da moeda, o da esperança (que nunca morre), alguns insistem em me chamar de tolo otimista, mas que sentindo há em não o ser? De que me adianta ser um desesperado e ficar me amaldiçoando por não ter feito isso ou aquilo? Convenhamos, não dá pra ser assim.

Uma coisa que sempre me deixava pra baixo, triste e desolado era a questão financeira. Já faz muitos anos que eu moro sozinho (se você não mora ou nunca morou por sua própria conta, não faz idéia do que estou falando) e mesmo que eu de vez em quando ainda possa contar com minha família, eu sempre comi o pão que o diabo amassou na minha profissão. Meu salário não é um mau salário, considero-o bom, não um que sobre, mas um suficiente. Bom, seria assim se ao menos eu recebesse uma quantia que fosse exata e fixa. Mas não é assim que as coisas são. Trabalho autonomamente e dependo de muitos alunos (que sempre saem de férias e nunca voltam) para sobreviver. Sabe, eu dou aulas há quatorze anos e neste tempo todo, a coisa que eu mais prezei até agora, foi a liberdade que eu tive e não teria em nenhum outro emprego. Trabalhar com o que eu mais gosto de fazer. O que tem de mais em se dar aula de um instrumento? Nada de mais, é resposta pra pergunta. Qual o problema de trabalhar em outro lugar, como um cargo público? Pra mim não serve. Foi isso que escolhi e não quero e nem vou dar ao trabalho de mudar ou tentar ser quem eu não sou. Nunca me vi atrás de uma mesa trabalhando pra alguém (ou governo). Não faz parte de mim, ser assim. Não é esta a minha essência. Não quero, não vou e faço a pirraça que for pra ficar aqui, no mundo de arte que eu criei, seja tocando, seja escrevendo, seja desenhando, a arte vive dentro de mim e só sei me expressar assim.

Está certo que eu estou cansado de dar aulas e não ver nenhum resultado. São quatorze anos e se, destes quatorze anos, eu tiver uns dez dos mais de trezentos alunos que eu já dei aula ainda tocando, isso será quase um milagre. Ninguém se importa com isso, e pra falar a verdade eu também não. Não tenho mais alunos interessados em aprender. Não é por falta da minha motivação (que está hoje quase a zero). Não fui um professor medíocre que simplesmente deu aulas e cumpriu o seu papel, eu sou aquele que ouviu, apoiou, suportou, aguentou e passou pelas várias fazes de meus alunos. Fui amigo, camarada, conselheiro, mestre e exemplo, além de professor. Quando eu olho pra trás não me arrependo do que fiz e do que fui. Tenho é orgulho de ter tentado moldar as cabecinhas destes garotos e garotas (não deixando de lado todos os adultos que eu também ajudei).

Quantas não foram as vezes que eu tive que deixar de dar uma simples aula de violão ou guitarra pra tentar resolver o maior problema do universo, ouvir o que eles tinham a me dizer e que pra eles pareciam o fim do mundo? Vivi assim por muito tempo, e muitas coisas não foram boas. Esperar semanas pra receber (já chegou a meses), tomar bolo de aluno (não que eu nunca tenha dado o bolo), aulas desmarcadas em cima da hora, ficar na portaria (dos inúmeros prédios que estive) esperando ninguém chegar, horas e horas de ônibus pra poder dar uma hora de aula, chuva, sol rachando, voltar à noite pra casa, cansado, e isso não é nada perto de todo o desânimo, chateação, aborrecimento, nervosismo, tristeza, dor, e irritação que eu tive que aguentar. Se eu for parar hoje, neste exato instante, pra poder avaliar o que tem de bom em se dar aula, eu infelizmente diria que quase nada. É duro ir dar uma aula pra quem não tem a intenção de aprender absolutamente nada. Infelizmente, tirando raríssimas exceções (como você, Lanna), não tenho alunos que queiram aprender e nem sequer tocar por diversão. Estão todos mortos em suas vidas desanimadas e caóticas. O prazer musical sucumbiu ao desânimo...

Este texto/desabafo não é pra castigar ninguém, desmoralizar ninguém e nem mesmo para que tenham pena de mim. É um texto para marcar uma nova era, onde eu tomarei outras medidas e outras maneiras de sobrevivência. Depender financeiramente de quem não tem vontade de aprender, já basta. Minhas aulas não são obrigatórias em suas vidas como a escola em que vocês estudam. Pretendo continuar com os meus pouco menos empenhados alunos e descartar todos os outros que nada querem. Não faço isso por mal, estarei simplesmente tomando a decisão que eles nunca tomaram; a de parar com aquilo que tanto os castiga e os fadiga, aulas. (ao menos as minhas eu posso fazer parar o sofrimento, as outras são da conta de vocês)

Música era pra ser uma coisa que empolgasse e fosse o alimento de todas as almas, mas se hoje eu me encontro chateado e desanimado de ensinar aquilo que sempre foi a coisa mais importante da minha vida, é por que a desmotivação geral acabou por me alcançar. A música não morreu dentro de mim, mas está em coma, e não vou deixar que ela morra. Ressuscitarei-a de dentro de mim para que alcance os céus. Tomarei novos rumos, seguirei outros caminhos, pois sempre foi assim. Não tenho chefes e nem a quem dar satisfação, e pelo o que eu saiba, ninguém ainda me derrotou, e para que isso não aconteça, deixarei os desanimados e mortos de lado, pularei os seus cadáveres, segurarei a minha guitarra com força e tocarei por todo o tortuoso caminho...

Vida longa à música e a todos os que lutam para dela sobreviver!!!

Um comentário:

  1. ou.. adorei o texto =)

    e obrigada por me citar, eu gosto de saber que você sabe que eu dou valor às suas aulas, mestre

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