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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Carta ao vazio

Por que quando estamos sozinhos nos sentimos frágeis, tristes, magoados, desesperados, angustiados, perdidos e abandonados? Por que nunca nos bastamos? Por que tenho que ter alguém com quem contar e dividir minhas alegria e tristezas? Por que diabos não posso viver só, feliz comigo mesmo, ou triste em harmonia? Por que não posso? Ou não quero? Ou, melhor ainda, por que não sou independente e auto-suficiente? Por que não o quero ser, se sei que posso? Por quê?

Sei que sou capaz de viver uma vida regrada de amizades, mas a mim só me importam as companhias das pessoas que estimo. Mesmo morando tantos anos sozinho não pude aprender a ser independente. Tenho meus amigos cães e gatos, mas não me sinto assistido mesmo assim. Tenho os livros que tanto amo e as folhas para escrever e nem isso me basta. Tenho meu violão e minha guitarra e nem mesmo eles, que tantas vezes choraram por mim, me são suficientes. Aos poucos vou me preenchendo e me completando com o que mais me aflige, o vazio. Seria meu vazio, algo com o que eu possa contar? Um amigo, uma presença?

Há dias venho tentando escrever estas linhas, mas não conseguia por estar sempre tão ocupado do meu mais recente amigo. O vazio. O que posso dizer dele... sujeito bacana, cheio de melindros. Não posso querer pensar em ver alguém que ele já vem me chamando, requisitando minha total atenção. Sujeito bacana, mas muito mimado. Certa vez tentei conhecer um outro amor, na verdade não o era, bem que eu queria que fosse, mas mal experimentei-lhe e fui dragado de volta pelo meu inseparável companheiro de solidão. Sabe, é difícil explicar às pessoas o que se passa numa amizade assim, elas já me apontam com um monte de preconceitos e eu até as entendo. Confesso que eu mesmo achava que o vazio não era uma boa pessoa. Sempre aparecia nas horas mais impróprias. Chegou até a me assustar algumas vezes com esse jeito repentino de surgir. Mas como estou na maior parte das vezes solitário em meus momentos caseiros e a única companhia dialogável que eu possuía era ele, o vazio, acabei por me afeiçoar a este e daí surgiu nossa incomensurável amizade. Tenho que admitir que no princípio eu até o temia, me sentia mal às vezes, mas cá entre nós; faça sol, faça chuva, pode ser a pior das horas, aqueles momentos que não há ninguém com quem contar, sempre tenho ele pra me fazer companhia, meu amigo o vazio. É por este motivo que escrevo-lhe para agradecer, mesmo que você esteja aqui, agora, ao meu lado lendo o que escrevo, obrigado por todos estes anos de companhia, amigo!

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