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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A história do homem comum

Olhava de um lado para o outro. Estava confuso, chateado. O lugar estava uma espelunca. Nada me agradava mais naquele lugar. Nos cantos, perto das paredes, dava pra ver a camada de poeira. Nos cantos da parede, perto do teto, muito mofo e bolor. Eu estava alí, escorado num daqueles cantos. Olhava agora as minhas próprias mãos. Não estavam velhas, ainda, mas estavam cansadas. Olhei firme para as minhas mãos. Lembrei-me das coisas que elas haviam tocado, das cordas e das curvas por onde elas haviam deslizado, das purezas e impurezas que já elas já tinham praticado. Abaixei-as até o chão sujo. Voltei meus olhos para as estantes de livros. Todos empoeirados. Cada livro... cada estória vivida ali... sentia falta dessa companhia. Onde estaria a minha vontade? Não lembrava de tê-la visto sair...

Continuei sentado alí no chão, escorado no mofo da parede. Minhas roupas também estavam empoeiradas, amarrotadas e sujas. Nada era tão perfeito. Nada daquilo é o que eu queria. Como disse, depois que ela saiu, não tive mais interesse por nada. Minha mão esquerda roçou a barba mal feita. Estava maior do que eu imaginava. Passei a mesma mão pelos cabelos desgrenhados e embolados. Muito compridos e sujos. Sorri com deboche. Não me importava mesmo...

Levantei-me irritado. Estava cansado de ser aquilo. Percebi que me importava sim. Queria voltar a ser feliz. Mas onde estaria a felicidade? Lembrei-me então onde estava. Estava com ela... foi com ela que se foi embora toda a minha alegria. Meus olhos se umedeceram mais rápido do que eu pude atinar. Antes que pudesse me defender, lágrimas escorreram-me pelo rosto. Senti-me com raiva. Espremi o punho com força. Mirei um soco mas me contive. Perguntei-me o por quê disso e não obtive resposta.

Gostava dela. Sim, isso era óbvio. Sabia que ela gostava de mim também... sim, sabia que sim. Pensei então em falar com ela. Lembrei que não me era possível. Não. Era ela, praticamente inacessível. Podia escrever-lhe. Podia ver-lhe... a primeira parecia mais viável, mas a segunda mais tentadora. Pensei em me lavar e correr para seus braços, mesmo sabendo que levaria dias pra conseguir isso. Parei logo no primeiro passo. Olhei a minha volta e encontrei o que procurava. Um pedaço de papel amassado. Do lado uma caneta. Peguei ambos e caí sentado no chão. Sobre o peso de minhas frustrações. Voltei ao pranto e perguntei-me: “era essa a inspiração que desejava?”

Não tinha sido isso que eu havia planejado. Quando a conheci, queria-lhe por completo. Agora, das poucas lascas que possuo de sua vida, resta-me apenas a maldita inspiração. Apeguei-me ao nada que tinha, ao pouco do tudo que podia ter e, arrasado, conformei-me. Enxuguei novamente as lágrimas dos olhos e postei-me a escrever. Letra a letra fui constituindo minha primeira frase: “esquálido dos dias fúteis de minha vida...”

Passei horas debruçado sobre o papel, até esgotá-lo. Um papel depois do outro. Fui preenchendo-os com tinta. Naquele dia não dormi. Nem no seguinte, e nem no outro. Queria que por que queria acabar com isso antes que me machucasse mais. Escrevi com meu coração. Usei todo o meu sentimento para compor cada palavra e, por fim, escrevi a última das frases, do que seria a epopéia do homem comum: “...e assim, ainda não pude dizer o que sempre almejei dizer, olhando-te nos olhos; que eu amo você nessa e em outras vidas”. Depois disso, morri feliz com meus pensamentos... sabia que a veria novamente.

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