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segunda-feira, 26 de abril de 2010

A arte de se ler

Se escrever é uma arte, ler também o é. Quando estou lendo, imagino cada uma das linhas do livro em questão sendo uma espécie de estrada, uma rodovia, uma alameda até um beco, quem sabe!? O que importa naquele momento é que eu prossiga adiante e encontre o final de minha jornada, seja ela uma grande jornada ou uma simples viagem.

Penso por ambos os planos de raciocínio que imagino existir em uma leitura; por um lado tenho todas as informações e conhecimentos que aquele determinado livro me trás ou mostra, posso viver ali todo um novo mundo de aventuras e estórias que se transformarão em sabedoria; por um outro lado, tenho o meu desafio físico que tornar aquela obra um caminho percorrido e vivido.

Atravessando as linhas com meus olhos percorrendo todas aquelas palavras que por um outro foram pensadas... pauso para recuperar meu fôlego, posso até mesmo fechá-lo por alguns dias, dependendo do grau de interesse, pode ser até por mais de um ano. Mas aí então volto, recobro meu caminho, trilhando meus olhos por entre as mesmas linhas que outrora havia abandonado, ou só mesmo descansado. Algumas vezes vejo que as distintas palavras se, apertam se esmagam, os espaços entre as linhas diminuem ou mesmo se afrouxam mas o destino é o mesmo: abro uma página e lá estão as palavras a me esperar, dizem-me algumas delas “vamos? Cansamos de ficar aqui por muitos anos sem que nos corressem os olhos. Pode por favor ter a gentileza de nos ler?” Convite tentador! Disparo minha visão por aqueles grafos desejando possuí-los por inteiro, quero por que quero transpô-los com minha leitura. Penso comigo mesmo quando estou lendo uma página; primeiro é começar, depois quando estou quase na metade desta, me sinto entusiasmado, do meio pra diante entro quase em êxtase por saber que dali só me resta o fim daquele período. Pronto. Volto meus olhos para a página seguinte e lá estão as novas, mas também antigas, letras me esperando para que eu as devore. Começo novamente meu desbravamento, mas agora com um novo acréscimo, ao final desta nova página tenho uma satisfação quase orgásmica, pois sei que ao terminá-la passarei esta folha e assim mais um passo foi dado para o fim daquela linda e empolgante viagem. Fico tão eufórico com uma leitura que o que mais penso enquanto leio é: “qual vou ler em seguida” Minha percepção de escritor também não me deixa quieto e logo penso: “quero mais páginas do que isso na minha obra. Que sejam muitas as obras. Que eu possa escrever mais livros do este autor”... e assim vou prosseguindo e os números? Ah, os números! Estes não me deixam esconder minha felicidade, pra começar com o número de páginas que possui o volume em minhas mãos; “quanto mais páginas melhor” (tenho uma estranha atração pela dificuldade). Daí, voltando à questão das folhas viradas, tenho uma fascinação por números múltiplos de dez (provavelmente pela massificação do nosso sistema decimal), gosto muito de parar minha leitura de dez em dez páginas, ou então “na página duzentos” ou “estou na trezentos e vinte” a assim por diante. Já perceberam que as páginas do lado direito têm o número impar e as do esquerdo são pares? (obvio, né?) Pois então, deixar a leitura sempre no comecinho da página da esquerda é outra questão de honra. Mas com uma ressalva, tenho que terminar o parágrafo anterior, isso é fato. Nada de deixar aquela frase no meio, solta, sem nexo. (sei que pareço maluco, mas vai lendo...) O negócio é arredondar na hora de parar. Só paro em páginas diferentes por dois motivos: circunstância (alguém me enchendo o saco ou alguma emergência) ou quando o capítulo termina em outra página que não naquela preferida. E isso vai me empolgando e vou ficando satisfeito comigo e melhor ainda que isso tudo é o fato de ver o bolo de páginas engrossando do lado esquerdo ao mesmo tempo em que o do lado direito vai murchando (aplique-se o extremo oposto em países que se lê da direita pra esquerda). A alegria que tenho de transpassar o meio de uma página não se compara com a satisfação de transpor o meio de um livro. É mágico! E não paramos por aí, vamos falar da melhor parte, quando por fim chegamos ao fim! (redundante, eu sei) Chegamos então às últimas páginas, lá estão elas, fininhas só me esperando percorrê-las. Comparo isto a um passeio por uma trilha que você sobe e desce montanha e faz curva para um lado e para o outro e passa um córrego e atravessa um rio e quando você dá por si, (aquela canseira danada, uma sede, uma fome) olha para adiante e lá está o ponto de chegada; sua casa ou o lugar onde deveria estar, você avista isso de longe e sente todas aquelas forças que estavam faltando voltarem pro lugar, não importa a sede ou a fome, pois você está ali, galgando seus últimos passos... vitória! Sim! É o fim daquele grande e maravilhoso desafio... e por fim mais uma coisa me veio à cabeça: melhor do que tudo isso junto é quando além de percorrer todas aquelas milhares de linhas, consigo fazê-las em pouco tempo. (Ah! Como é doce a competição de mim para comigo mesmo)

Um comentário:

  1. "Que incomensurável paradoxo parece existir nas mais profundas entranhas do coração (des)apaixo-nados de tais poetas.Incomensurável na expressão,
    não menos que no sentimento!"

    Perfeccionista em tudo né..adorei
    Patrícia

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