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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Conto número 6 - Sonhando

Então, tudo não passou de um sonho... parecia tão real que ocupei-me de esconder temendo o pior. Na verdade, tudo realmente parecia um sonho, mas no furor daquela ação tive medo de pensar assim. Quantas não eram as evidências de que eu estava sonhando, mesmo assim hesitei. Acovardei-me... tenho vergonha de caminhar entre as pessoas lembrando daquilo que aconteceu. Tenho vergonha de encarar a realidade, tenho vergonho de encarar os sonhos... ou seriam pesadelos? Só sei que a perdi... Um fluxo de pensamento qualquer me apavora, me sinto sensível, preocupado sempre... sei que preciso superar, mas não tiro a imagem dela da minha mente. Vendo-a desmanchar-se com os braços estendidos em minha direção a alongar-se pelo efeito rotatório do que se esvai... Aquela imagem ainda me causa dor... e pensar nisso não é opcional. Cada som e movimento à minha volta. Tudo me faz pensar nela. Seus olhos fundos e inspiradores, clamando por mim. Nada ficou no lugar. Tudo se desmanchou, se desfez...

Por que ainda vejo seu rosto? Quantos sonhos não estivemos juntos? Quanto tempo já não se passou? Nem tanto assim... pareciam anos, mas na verdade eu não creio que chegou a tanto tempo... mais de um dia com certeza... mas menos de um ano. Enfim, tudo agora é pó. O pó já não sofre com o tempo... e ainda tenho dúvidas... como posso sentir e sofrer se já sou pó? A fato é que, mesmo não querendo, eu ainda vivo aqui e lá, no mundo dos sonhos. Nunca mais a vi naquele mundo, mas sempre quando acordo penso ter visto. Quando ando nas ruas, temeroso, sempre imagino que a estou vendo. Cada mulher que olha-me nos olhos. Cada fio de cabelo liso que me lembra do seu. Aquela dor profunda se insere em mim e vai me rasgando a ponto de me fazer perder o equilíbrio, cambalear. As pessoas me olham torto, como se eu fosse um bêbado ou um insano qualquer. Acabo sendo mesmo, de uma forma ou de outra. Um bêbado de amor, ensandecido de paixão.

As noites são as piores fases do dia. Minha tensão vai aumentando e me deixando incomodado, ansioso. Me olho no espelho todas as noites antes de dormir. Talvez faça isso para verificar se ainda estou aqui... vejo meus olhos cansados e mal dormidos, avermelhados e irritados. Sinto falta de mim mesmo, de quando me sentia bem quase sempre. Sinto falta de mim... sinto minha falta... não, só sinto falta dela... e assim eu faço, todas as noites... descanso minha cabeça sobre o travesseiro e faço uma última prece: encontrá-la novamente nos meus sonhos.

Passo muitas horas acordado, revirando na cama, buscando o sono. Nesse tempo todo, a antiga e nunca desgastada imagem sempre está lá, me atormentando. Seu rosto se distorcendo novamente no mesmo redemoinho... O sono chega. Ao entrar nele, nada mais acontece. O mesmo vazio de sempre depois que ela se foi. A agonia toma conta do meu sono. Sei o que quero sonhar, consigo pensar dentro do sonho, mas lá não existem imagens... nada de ver o seu rosto, nada de me alegrar com seu sorriso, nada de sentir seu toque, nada de me entorpecer em seus lábios, nada, nada, nada de coisa nenhuma...

Acordo novamente encharcado de suor, soluçando e sem fôlego. Ofegantemente tentando voltar a realidade... mas isso aqui é a realidade? E se for o oposto e se eu estiver acordado quando estou sonhando e sonhando quando estou acordado? Verdade ou não, eu aprendi a viver num sonho e a dormir na realidade. Aprendi a tirar vantagem do que aconteceu comigo. Agora eu passo os dias sonhando com seu rosto, construindo novos encontros e momentos felizes. Assim, quando vou dormir, me despeço da sua imagem, e durmo tranquilo. Ansioso por acordar pensando nela. E assim consigo transformar minha vida de pó em algo substancial. Meu único medo é sonhar com ela novamente e perdê-la de meus pensamentos quando estiver acordado... mas não mais deixo isso me afligir. Agora, o importante é continuar sonhando acordado...

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